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Por Pedro Moraes

Um inseto asiático, já radicado no Brasil, encontrou no clima quente e seco do semiárido baiano um ambiente propicio para sua reprodução. A Bemisia Argentifolii, conhecida popularmente como mosca branca, tem cor pálida, mede aproximadamente 2 mm e produz em condições favoráveis de 200 a 400 ovos por ciclo de vida que dura aproximadamente 19 dias. Por ter uma disseminação rápida, a superpopulação deste inseto têm assustado os moradores e agricultores da microrregião de Irecê. É o caso da estudante Ana Paula, 21, que afirma nunca tinha visto o inseto e ficou preocupada com a situação. “Ouvia falar nos jornais sobre ataques de mosca branca nas plantações, mas nunca tinha visto. Agora encontro elas dentro de casa, no quintal e em todos os lugares”. Especialistas na área esclarecem que apesar da desagradável presença, elas não geram riscos para a saúde humana, porém é uma vilã de peso para as plantações.

De acordo com o engenheiro agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Eduardo Dourado, a principal prejudicada com os malefícios da mosca branca, é um tipo de planta chamada cucurbitácea que engloba alguns frutos conhecidos em nossa culinária, como abóbora, melancia, melão e pepino. “Como dano direto, ela suga a seiva da planta, que seria um tipo de sangue do vegetal onde passa os nutrientes, assim, o vegetal fica debilitado. No tomate, por exemplo, a mosca injeta uma toxina que deixa o fruto esponjoso, semelhante a um isopor. Ela também coloca uma excreção preta que deprecia o valor comercial do produto”, explica Eduardo.

Os malefícios, no entanto, não param por ai. Eduardo Dourado, ainda afirma que o inseto traz danos indiretos para as lavouras, porque ele é um vetor de viroses que atinge outras culturas agrícolas, é o caso do vírus mosaico dourado, que chega a diminuir em 80% a produção do feijão e soja. No caso do tomate, um dos maiores prejudicados com o hospedeiro, a mosca branca deixa o geminivirus, que traz de 40% a 70% de percas no plantio. “Quando os vírus atacam as plantas quando estão pequenas, elas deixam de produzir, porque o crescimento é paralisado, quando atacam na planta adulta a produção tem quedas consideráveis”, diz Eduardo.

O engenheiro agrônomo da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Joiram Souza Mendes, esclarece que um dos motivos para que o inseto se multiplicasse no município é decorrente de um cultivo inadequado nas lavouras da região. “Os produtores plantam o tomate muito próximo um do outro e isso cria uma sombra, que favorece a multiplicação e dispersão da mosca branca. Presenciamos também o aumento da jardinagem dos parques e praças que auxiliam na multiplicação do inseto.”

Método de combate mais utilizado – A forma tradicional de combate dessa praga do campo é realizada com defensivos agrícolas, conhecido como agrotóxicos, contudo, Joiram Mendes alerta que “o uso incorreto do agrotóxico, pode piorar a situação e tem dificultado a ação dos inimigos naturais da mosca branca como os fungos que se alimentam dos ovos, das ninfas(mosca na fase jovem), da mosca adulta, e do bicho lixeiro”, um inseto predador que ataca uma variedades de pragas responsáveis por destruir as lavouras. Joiram, ainda comenta que as novas gerações da mosca branca estão ficando resistente a grande parte dos agrotóxicos.

Por estes motivos, Eduardo Dourado, afirma que a falta de capacitação dos agricultores e operários que manuseiam os agrotóxicos (aplicadores), também é um problema grave que precisa ser resolvido. “O ideal seria uma produção orgânica sem o uso desses defensivos, mas com a atual tecnologia, esse modelo agrícola não está pronto para produzir em grande escala, fazendo necessário o uso de defensivos. Porém, isso tem que ser feito de forma responsável, utilizando os agrotóxicos corretos para cada tipo de produção e capacitando os aplicadores para que eles utilizem os instrumentos de segurança e manipulem o defensivo corretamente para não contaminar o meio ambiente”, diz o engenheiro agrônomo.

Formas alternativas – Diversos métodos de cultivo podem ajudar no combate a mosca branca. Jairam indica que “as plantações devem ser realizadas com um espaçamento maior, quebrando a arquitetura de plantio. Desta forma, vai penetrar mais vento e sol, combatendo a mosca. Uma outra tática é plantar em época não favoráveis, no meses mais frios, por exemplo , com o clima desfavorável, o inseto ataca, mas não na proporção que tivemos no verão. O produtor também deve investir em espécies tecnicamente melhoradas, resistentes ao vírus propagado pelo inseto e ficar atento também com as ervas daninhas, e retirá-las constantemente, porque são locais que facilitam a reprodução”.

O engenheiro da EBDA, Eduardo Dourado, diz que uma alternativa utilizada em Goiás vem trazendo bons resultados e pode ser utilizada na região. “Eles têm um calendário de cultivo que segue por no máximo seis meses e o produtor não pode fazer um plantio escalonado por mais de 60 dias. Assim eles quebram o ciclo do inseto”.

Os especialistas orientam aos produtores que além dessas dicas de cultivo a eliminação dos resíduos da colheita são fundamentais para controlar a disseminação da praga. Eduardo Dourado explica que “quando acaba o ciclo do plantio muitos dejetos são deixados na lavoura e as ervas daninhas continuam vivas, e como o produtor deixa de realizar o controle químico a tendência é que o ambiente seja propicio para a disseminação do inseto, então aconselho os produtores a eliminar os restos da cultura, queimando assim que o ciclo de plantio finalizar.” Apesar de reconhecer a eficiência da técnica e defender a eliminação dos resíduos da  colheita, Joiram  afirma que não gosta da alternativa de queimar, “embora seja muito eficaz, ela não é ecologicamente correta, depois do cultivo, o produtor pode arar a terra e enterrar, assim ele acaba com a proliferação da mosca branca e ainda melhora o solo”.