Quem disse que a liberdade existe? Voar até suas asas queimarem ao tocar no sol ou se cansar de sentir o vento tocando nas penas de suas asas são práticas utópicas. No passado lutaram bravamente por uma ditadura visível, tocável, onde as mazelas eram escancaradas. A ditadura se disfarçou, mudou de uniforme e voltou na sua forma mais letal e sutil, sendo invisível ao olhar despercebido, te oferecendo doses diárias de Prozac para que tudo se pareça “normal”. Essa normalidade me incomoda. A sensação que tudo está dando certo me fornece a certeza que vivemos em gaiolas invisíveis com as portas abertas, porém, com um sistema opressor fortemente armado, que te impõe normas e padrões que não deixam suas asas ousarem a sentir o vento e passar pela pequena e cintilante porta de sua grade. Lutar e transgredir ainda é preciso, pois a “normalidade” é anormal.
Caos Juvenil. Aonde estão os poderes públicos?
Publicado: 26/01/2011 em JornalismoTags:alcool, bebida, camara de vereadores, crack, drogas, juizado de menores, lapão, maconha, menores, pedro moraes, poder judiciario
Por Pedro Moraes
Percebemos diversos grupos de jovens que extravasam suas inquietudes das formas mais subversivas possíveis, como o consumo desenfreado do álcool, a direção alcoolizada de veículos sem habilitação, a permanência nas ruas de madrugada, a prática de sexo em vias públicas e o consumo de diversas drogas ilícitas, como a maconha e o crack.
Sabemos que todos esses problemas vêm de berço. Inicialmente, cabem as famílias coibirem tais atos, com o diálogo e uma orientação contínua, que precisa ser ao mesmo tempo dura e acolhedora. Contudo, ao invés de orientar, os pais estão perdendo cada vez mais espaço e os filhos se sentem no direito de comandarem a situação, sem qualquer repressão posterior. A tradicional “bronca” foi abandonada por um tapinha nas costas com a frase subconsciente: “Filho erre novamente, seu pai assume sua barra”. Como os problemas não são meramente caseiros, eles trazem consequências danosas para toda a sociedade, já passou da hora dos poderes públicos e as famílias lutarem com mais afinco para solucioná-los.
No caso do álcool, podemos afirmar com toda segurança possível que a grande maioria dos mercados, armazéns e bares do município e microrregião de Irecê, vendem sem qualquer cerimônia bebidas alcoólicas e cigarros para menores de 18 anos. O que muita gente finge não saber, é que o ato vergonhoso, que visa unicamente o lucro, desobedece o artigo 243 do estatuto do adolescente que prevê pena de até 4 anos de reclusão, acompanhado por multa, “para qualquer pessoa que vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida (art.243)”, diz o estatuto do menor.
Diante de uma geração que abandona em passos largos o hábito da leitura, também encontramos uma infinidade de alunos que fardados com as camisas de seus respectivos colégios, se privam de conhecimento e trocam as salas de aula pelo uso incansável de bate-papos virtuais em lan houses, ou passam seus dias sentados em um banco de praças públicas ao lado de um litro de refrigerante “turbinado” com Pitu, 51, Montila e outras tantas bebidas.
No trânsito, os menores circulam livremente pilotando motos, dirigindo carros possantes com aparelhos de som amplificados e fazendo diversas inflações, como subir em passeios, realizar manobras arriscadas e exibirem os famosos “cavalos de pau”, demonstrando todo seu “poderio” adolescente. Todos sabem que dirigir sem habilitação é crime e para ter a autorização necessária, o condutor precisa ter a idade mínima de 18 anos, tenho certeza que isso não é novidade para ninguém. Porém, com uma fiscalização ainda incipiente, virou uma tradição os pais liberarem os veículos para menores, ainda sem maturidade, despreparados psicologicamente para utilizar tal ferramenta, que pode virar uma arma letal com o uso inadequado. Sejamos coerentes, qual maturidade um jovem adolescente tem para pilotar uma moto ou carro?
Precisamos urgentemente de ações concretas de todos os poderes públicos para solucionar esses problemas. Investir em educação de qualidade, cultura, esporte e meios de entretenimento “saudáveis” é uma fórmula precisa para combater todas essas problemáticas em médio e longo prazo. Porém, também necessitamos de órgãos com a função de coibir tais práticas. O poder judiciário, por exemplo, ninguém entende o motivo, mas não implementa no município um Juizado de Menores, que amenizaria de imediato algumas dessas problemáticas. Visto que a ação dos agentes de proteção (antigos comissários de menores) tem como objetivo “o trabalho de fiscalização, assistência, proteção, orientação e vigilância a menores, previstas no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), bem como o cumprimento de medidas judiciais específicas”.
Os poderes competentes precisam parar de olhar para os botões do próprio terno e realizarem ações em consonância com as necessidades da população. As famílias precisam acordar, e deixar as fofocas sobre o outro de lado e olhar para sua casa. Está faltando praticas básicas, como olhar, ouvir, sentir, buscar e conhecer. Pois é só assim, que conhecemos os anseios do local, no qual muitas vezes vivemos protegidos por uma cúpula de vidro.
Lapão tem o pai de santo mais jovem da Bahia: Dijalma de Ogum
Publicado: 16/07/2010 em JornalismoTags:alcoolismo, amor, candomble, dijalma de ogum, ebo, iansa, ile ase iman irin layo, ile ase oman irin layo, ketu, lagoa do gaudencio, lapão, macumba, melhorar, ogum, omolu, oxala, oxossi, pai de santo, pai de santo mais jovem da bahia, saude, traição, ubanda, Ylê Axé Orixalá
Texto: Pedro Moraes
Postado em: 16/06/2010 (revisado: 03/02/17)
Respeitado pela comunidade e por integrantes mais velhos da religião, o jovem Dijalma dos Santos, de 19 anos, ou simplesmente Dijalma de Ogum, líder do terreiro Ylê Axé Orixalá no bairro Ida Cardoso em Lapão, é reconhecido pelo programa do governo federal “Terreiros do Brasil” como o pai de santo mais jovem da Bahia. Dijalma que herdou os conhecimentos da avó dona Rosália, que tinha um terreiro em Lagoa do Gaudêncio, comunidade remanescente de quilombola, conheceu a religião ainda pequeno e logo sentiu a vocação para o candomblé. “Comecei zelar de santo (cuidar das imagens e do ambiente) com apenas sete anos, observava ela fazendo as obrigações dela no terreiro e sempre tive vontade. Três anos depois, com dez anos, minha avó parou e comecei a herdar as coisas dela, meu tio jogou os búzios e os orixás me apontaram como o seu sucessor. Fiquei alguns meses me preparando e me tornei pai de santo. A primeira vez que incorporei foi muito forte, senti uma força que não sei de onde veio. Certa vez tentei parar, mas a força dos orixás foram maiores que a minha e sigo até hoje.” lembra Dijalma.
O terreiro é uma casa de Oxalá, com predominância da cor branca, com imagens, incensos e velas. O local tem as portas pintadas de azul, uma referência a Ogum, orixá guia de Dijalma. O local é frequentado por diversas faixas etárias, não e difícil ver crianças e adultos dividindo o mesmo local respeitando Dijalma como líder e conselheiro espiritual. “A relação é de pai. Muitos me chamam de padrinho. Temos filhos de santo nessa casa que vai dos 4 a 50 anos. Crianças ou adultos todos me respeitam. Muitas pessoas nos procuram em busca da paz, às vezes por falta de saúde e trabalho ou até desavenças sentimentais. Elas chegam para pedir conselhos e serem ouvidas, converso muito com elas e fazemos orações. Algumas vezes indico uns banhos, com plantas da mata, morada de Oxossi. Os banhos com as folhas de Ossanha, trazem paz, força e afasta os espíritos ruins que estão por perto atrapalhando alguma coisa, muitos deles com apenas um banho já se sentem melhor.” Revela o pai de santo .
Social – O terreiro de Dijalma realiza frequentemente aulas com pessoas interessadas sobre a cultura negra, falando de ensinamentos do candomblé com as histórias dos orixás e os cânticos ajudando a preservar e imortalizar a cultura afrodescendente. “Também ajudamos pessoas a se libertarem de vícios e de coisas ruins desse mundo, aqui mesmo veio um rapaz alcoólatra, ele com a mulher bebiam bastante deixando a família desestruturada. Ele veio aqui, conversamos muito e trabalhamos para resolver isso. Agora ele está aqui conosco e largou o vicio”.
Preconceito – Apesar ser uma religião secular, o candomblé, assim como outras manifestações da cultura negra ainda recebem represarias e preconceitos por diversas pessoas. Não seria diferente por aqui. Apesar de afirmar não se incomodar, o pai de santo Dijalma diz que até viatura policial esteve no terreiro. “Tinha uma senhora que dizia que fazíamos coisas para o diabo, chamou a polícia uma vez, mas ela nunca conseguiu fazer nada demais conosco. Existe muito preconceito, mas em nove anos de trabalho, percebo que já mudou muita coisa, não tenho vergonha de mostrar as pessoas minha religião que é bela e prega o bem. Cada um segue o caminho que Deus abriu para seguir, por isso respeito todos que seguem outras religiões”.
Contato: 074 9.9978-7743
Comissão Especial da PEC dos Jornalistas é instalada na Câmara dos Deputados
Publicado: 27/05/2010 em JornalismoTags:comissao especial, FENAJ, Jornalismo, pec diploma
A Câmara dos Deputados instalou nesta quarta-feira (26/05), a Comissão Especial encarregada de emitir parecer sobre a Proposta de Emenda Constitucional 386/09, a PEC dos Jornalistas. O prazo para emendas à PEC está aberto a partir desta quinta-feira. A expectativa é de que o parecer sobre a proposta seja apresentado no máximo até o dia 24 de junho.
A PEC 386/09, de autoria do deputado Paulo Pimenta (PT/RS), teve sua admissibilidade aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara em novembro de 2009. Desde este período a Frente Parlamentar em Defesa do Diploma, integrada por deputados e senadores de diversas siglas, esforça-se para acelerar a tramitação da matéria. No início de maio, em contato com o autor da PEC e com o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB/SP), comprometeu-se em acelerar a instalação da Comissão Especial.
Na reunião de instalação ocorrida na tarde desta quarta-feira, no plenário 14 da Câmara, foram definidos o presidente e os três vices da Comissão Especial, deputados Vic Pires (DEM/PA), Rebecca Garcia (PP/AM), Francisco Praciano (PT/AM) e Coubert Martins (PMDB/BA), respectivamente, como também o relator da matéria, o deputado Hugo Leal (PSC/RJ). Embora o relator tenha o prazo de até 40 sessões para emitir parecer sobre a matéria, um acordo de lideranças estabeleceu o prazo de 10 sessões para que isto ocorra. O relator pretende fazê-lo até o dia 24 de junho.
Com o prazo de emendas à PEC já aberto, cada parlamentar que desejar apresentar alguma proposta de alteração no texto original precisará do apoio de pelo menos 171 deputados. A Comissão Especial tem nova reunião agendada para o dia 1º de junho (próxima terça-feira), para traçar um plano de trabalho e aprovar requerimentos de audiências públicas sobre a exigência do diploma para o exercício profissional do Jornalismo.
FENAJ
Surge um novo jornal: “Keta, Moço!”
Publicado: 14/03/2010 em JornalismoTags:alvina alves, jackson rubem, jornal keta, lapão, moço!, pedro moraes, sylvio lyra
Confiram a edição completa cliclando na imagem ou acessando o site: http://www.ketamoco.com.br
Mosca Branca invade lavouras da microrregião de Irecê
Publicado: 08/03/2010 em JornalismoTags:agricolas, agronomia, combate, defensivos, feijão, irecê, keta moço, mosca branca, tomate, virus
Por Pedro Moraes
Um inseto asiático, já radicado no Brasil, encontrou no clima quente e seco do semiárido baiano um ambiente propicio para sua reprodução. A Bemisia Argentifolii, conhecida popularmente como mosca branca, tem cor pálida, mede aproximadamente 2 mm e produz em condições favoráveis de 200 a 400 ovos por ciclo de vida que dura aproximadamente 19 dias. Por ter uma disseminação rápida, a superpopulação deste inseto têm assustado os moradores e agricultores da microrregião de Irecê. É o caso da estudante Ana Paula, 21, que afirma nunca tinha visto o inseto e ficou preocupada com a situação. “Ouvia falar nos jornais sobre ataques de mosca branca nas plantações, mas nunca tinha visto. Agora encontro elas dentro de casa, no quintal e em todos os lugares”. Especialistas na área esclarecem que apesar da desagradável presença, elas não geram riscos para a saúde humana, porém é uma vilã de peso para as plantações.
De acordo com o engenheiro agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Eduardo Dourado, a principal prejudicada com os malefícios da mosca branca, é um tipo de planta chamada cucurbitácea que engloba alguns frutos conhecidos em nossa culinária, como abóbora, melancia, melão e pepino. “Como dano direto, ela suga a seiva da planta, que seria um tipo de sangue do vegetal onde passa os nutrientes, assim, o vegetal fica debilitado. No tomate, por exemplo, a mosca injeta uma toxina que deixa o fruto esponjoso, semelhante a um isopor. Ela também coloca uma excreção preta que deprecia o valor comercial do produto”, explica Eduardo.
Os malefícios, no entanto, não param por ai. Eduardo Dourado, ainda afirma que o inseto traz danos indiretos para as lavouras, porque ele é um vetor de viroses que atinge outras culturas agrícolas, é o caso do vírus mosaico dourado, que chega a diminuir em 80% a produção do feijão e soja. No caso do tomate, um dos maiores prejudicados com o hospedeiro, a mosca branca deixa o geminivirus, que traz de 40% a 70% de percas no plantio. “Quando os vírus atacam as plantas quando estão pequenas, elas deixam de produzir, porque o crescimento é paralisado, quando atacam na planta adulta a produção tem quedas consideráveis”, diz Eduardo.
O engenheiro agrônomo da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Joiram Souza Mendes, esclarece que um dos motivos para que o inseto se multiplicasse no município é decorrente de um cultivo inadequado nas lavouras da região. “Os produtores plantam o tomate muito próximo um do outro e isso cria uma sombra, que favorece a multiplicação e dispersão da mosca branca. Presenciamos também o aumento da jardinagem dos parques e praças que auxiliam na multiplicação do inseto.”
Método de combate mais utilizado – A forma tradicional de combate dessa praga do campo é realizada com defensivos agrícolas, conhecido como agrotóxicos, contudo, Joiram Mendes alerta que “o uso incorreto do agrotóxico, pode piorar a situação e tem dificultado a ação dos inimigos naturais da mosca branca como os fungos que se alimentam dos ovos, das ninfas(mosca na fase jovem), da mosca adulta, e do bicho lixeiro”, um inseto predador que ataca uma variedades de pragas responsáveis por destruir as lavouras. Joiram, ainda comenta que as novas gerações da mosca branca estão ficando resistente a grande parte dos agrotóxicos.
Por estes motivos, Eduardo Dourado, afirma que a falta de capacitação dos agricultores e operários que manuseiam os agrotóxicos (aplicadores), também é um problema grave que precisa ser resolvido. “O ideal seria uma produção orgânica sem o uso desses defensivos, mas com a atual tecnologia, esse modelo agrícola não está pronto para produzir em grande escala, fazendo necessário o uso de defensivos. Porém, isso tem que ser feito de forma responsável, utilizando os agrotóxicos corretos para cada tipo de produção e capacitando os aplicadores para que eles utilizem os instrumentos de segurança e manipulem o defensivo corretamente para não contaminar o meio ambiente”, diz o engenheiro agrônomo.
Formas alternativas – Diversos métodos de cultivo podem ajudar no combate a mosca branca. Jairam indica que “as plantações devem ser realizadas com um espaçamento maior, quebrando a arquitetura de plantio. Desta forma, vai penetrar mais vento e sol, combatendo a mosca. Uma outra tática é plantar em época não favoráveis, no meses mais frios, por exemplo , com o clima desfavorável, o inseto ataca, mas não na proporção que tivemos no verão. O produtor também deve investir em espécies tecnicamente melhoradas, resistentes ao vírus propagado pelo inseto e ficar atento também com as ervas daninhas, e retirá-las constantemente, porque são locais que facilitam a reprodução”.
O engenheiro da EBDA, Eduardo Dourado, diz que uma alternativa utilizada em Goiás vem trazendo bons resultados e pode ser utilizada na região. “Eles têm um calendário de cultivo que segue por no máximo seis meses e o produtor não pode fazer um plantio escalonado por mais de 60 dias. Assim eles quebram o ciclo do inseto”.
Os especialistas orientam aos produtores que além dessas dicas de cultivo a eliminação dos resíduos da colheita são fundamentais para controlar a disseminação da praga. Eduardo Dourado explica que “quando acaba o ciclo do plantio muitos dejetos são deixados na lavoura e as ervas daninhas continuam vivas, e como o produtor deixa de realizar o controle químico a tendência é que o ambiente seja propicio para a disseminação do inseto, então aconselho os produtores a eliminar os restos da cultura, queimando assim que o ciclo de plantio finalizar.” Apesar de reconhecer a eficiência da técnica e defender a eliminação dos resíduos da colheita, Joiram afirma que não gosta da alternativa de queimar, “embora seja muito eficaz, ela não é ecologicamente correta, depois do cultivo, o produtor pode arar a terra e enterrar, assim ele acaba com a proliferação da mosca branca e ainda melhora o solo”.
“Seu Alfredo”, o poeta sertanejo que sonhava com a escola
Publicado: 01/03/2010 em JornalismoTags:alfredo rosendo, irecê, lapão, pedro moraes, poesia lapoense, poesia regional
“Sou Alfredo José Rosendo/Filho de Modesto e de dona Brisdinha/
Se eu não faço um poema melhor/É porque não frequentei a escolinha”
Por Pedro Moraes
As gotas geladas de uma suave garoa tocam suavemente na terra seca e árida, em um fim de tarde em que o chão quente do semiárido agradece aos céus pela benção de encontrar com sua fonte de energia, exalando assim, o cheiro de terra molhada, sinônimo de prosperidade na vida do sertanejo. O São João, árvore típica da biodiversidade local, abre suas flores, amarelas feito ouro, provando para quem duvidar que a beleza surge no improvável. Em torno deste cenário, que flerta entre o belo e a simplicidade, encontro seu Alfredo Rosendo, um lapoense de expressão forte, alto, de voz firme e corpo esguio, com 89 anos de histórias, causos e lições de vida. Em uma casa antiga, feita com as próprias mãos, “Seu Fredo” como é carinhosamente conhecido, mora em companhia de ilustres convidados: a música e poesia.
O cheiro do café passado na hora abre as portas para uma longa conversa sobre a vida, sonhos e a arte, despertada em 1985, quando seu município de origem, Lapão-BA, tentava se emancipar. Em versos simples, de um homem que nunca foi à escola, Fredo foi de encontro aos velhos coronéis da terra e declamou com garra e coragem a seguinte estrofe:
“Deixa de tanta promessa/ deixa de tanto esperar/ agora chegou a vez/ de Lapão emancipar. Lapão já foi muito atrasado/ só quem viu sabe contar / Só tinha duas escolas, mesmo assim particular/ Hoje, o Lapão já conta, no setor da educação / Com um dos melhores colégios da microrregião. Lapão tem um povo hospitaleiro / Isso eu não nego / só faz muito fuxico na época da eleição / deixa de tanta promessa/ deixa de tanto esperar/ agora chegou a vez/ de Lapão emancipar”.
De acordo com Alfredo, na época, algumas famílias tradicionais reuniram 500 assinaturas em um manifesto contra a emancipação. “Eles alegavam que a cidade era a ponta da rua do município de Irecê, mas eles tinham interesses pessoais por trás disto, achei que não tava certo, porque Lapão já estava desenvolvida, foi então que tive a vontade de fazer meu primeiro verso e dei uma chicotada neles”.
‘Não tinha como estudar, e chorava’
Frequentar uma sala de aula foi o maior sonho do poeta sertanejo, porém os tempos difíceis da época de criança não deixaram sua aspiração virar realidade. Apesar de não poder ir à escola, sua vontade era maior que a maioria dos obstáculos. Com uma “banda” de toucinho de um porco gordo, doado pelo seu avô, foi para cidades vizinhas vender a mercadoria. Ao todo conseguiu 200 réis, dinheiro suficiente para comprar um livro ensinando a arte do ABC. “Quando meu avô trouxe o livro, só fui dormir quando aprendi a primeira carreira de letra, gravei até o ‘é’, depois fui tocando meus estudos para frente. Em quinze dias, já sabia ler. Meu avô morreu na grande crise de 32, e fomos trabalhar numa roça que só tinha onça e caititu. Lá, passei de inteligente e fiquei conhecido por fazer um cavaquinho com uma faca com apenas 12 anos, ficou tão bom que muitas pessoas quiseram comprar, acabei vendendo para comprar uma roupa bem bonita que fazia tempo que não tinha”.
Apesar do esforço, o garoto promissor ainda não sabia escrever até que a noiva do tio questionou: “Você já sabe fazer seu nome?” triste e envergonhado ele respondeu: “Não”. Foi então que a jovem segurou em sua mão e com um toco de madeira riscou o nome do menino para ele copiar. “Fiquei muito feliz, gravei aquilo e nunca vou me esquecer, saí correndo para mostrar a todos, mas muita gente não acreditou. Meus parentes só acreditaram de verdade quando a moça chegou e confirmou tudo. Sonhava tanto em aprender que quando ia comprar alguma coisa montado no lombo de um jumento, passava por perto da escola, amarrava o animal e ficava ouvindo eles aprenderem e passava a tarde toda. Quando chegava em casa minha mãe questionava você foi no Lapão ou no Japão?”, lembra o poeta.
Infelizmente, a vontade de aprender chocava com a dura realidade e o sonho de frequentar as salas de aula para se tornar “um homem letrado” se tornava cada vez mais distante. “Foi muita vontade, mas fiquei só na vontade. Minha mãe era viúva e tinha seis filhos, ela me dizia: ‘Vamos plantar um algodão se a lagarta não comer compro sua farda, e você vai para escola’, mas foram anos duros, a região passava por uma seca danada, sobrevivíamos com cuscuz de mucunam, que é um caroço vermelho e venenoso, mas colocávamos de molho, quebrava a casca e tirava uma folhazinha que tem dentro e moía. Então, realmente, não tinha como estudar e chorava que as lágrimas desciam. Fiz até um verso que é mais ou menos assim: Na idade de dez para onze anos / sorri pouco porque a coisa era muito feia / só comia um alimento que não era do mato / se fosse em casa alheia”.
“Hoje sei escrever um pouquinho e fazer umas continhas. Não leio cantando como um formado, mas graças a Deus, não sou cego”, ele diz. Mas, nem só de poesia se inspira Alfredo, o poeta sertanejo, que também “toca uns tonzinhos” para se divertir. “Comecei a tocar com 12 anos, na época que fiz o cavaquinho, via meu tio fazendo uns tons e fui aprendendo. Logo as pessoas me chamavam para bater uma sanfona e tocar violão, mas hoje é só para se divertir em casa. Toco umas músicas de igreja, uns sambinhas e uns sucessos de Amado Batista, Waldick Soriano, Vicente Celestino e Alvarenga e Ranchinho”.
Alfredo casou a primeira vez com 16 anos, teve dois filhos e ficou viúvo. Ainda jovem começou a labuta. Após a vida do campo, trabalhou durante 40 anos como barbeiro e marceneiro e conta orgulhoso que todo serviço era feito com prazer. “Gostava quando cortava o cabelo e o cliente exigia o corte e qualidade no serviço. Se fosse fazer um móvel, fazia com todo capricho, escolhia sempre uma madeira boa e buscava a perfeição. Fiz móveis que até hoje nunca descolaram uma placa. Ganhei fama por aqui, o povo comentava: ‘Esse é bom no machado’.”
Apesar de nunca ter lido um livro de poesia, os versos de Alfredo brotam com naturalidade. Com uma linguagem regional, rica em detalhes e lembranças de um povo sofrido e lutador, o poeta sonha em publicar seus versos, já impressos artesanalmente, feito cordel, e distribuído na cidade. Porém, esse almanaque vivo, simples, inocente e sábio, precisa de apoio para imortalizar suas lembranças, seja para falar de um sorriso de uma criança, uma gameleira ou de uma gruta, Alfredo deseja publicar um livro, e contribuir para deixar escrita na história a riqueza e a poesia do homem do campo.
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Pedro Moraes, um músico em busca do novo som
Publicado: 17/01/2010 em MúsicaTags:armandinho macedo, aroldo macedo, café cognac, guitarra baiana, kebab, pedro moraes, rio vermelho, SALVADOR, zirk
Por Flávia Vasconcelos
Que a criatividade musical na Bahia é intensa, ninguém pode negar. Muitos ritmos desabrocharam de mentes inquietas, que não temem o novo, as experimentações e a mistura. E Pedro Moraes é uma dessas mentes baianas sempre efervescentes, faz parte de um grupo seleto de músicos soteropolitanos unindo refinamento e sabedoria musical à simplicidade de abrir-se a novas ideias, junto a novas gerações.
A música parece alcançar o seu íntimo como poucas coisas na vida. É como ele diz sobre o seu processo de produção “quando toco, nem pareço ser eu!”. Dono de uma sensibilidade ímpar, o músico possui uma sabedoria musical muito sólida, que vai desde a história da música em si e sua interferência na sociedade, até a prática, tocando música barroca, rock, tropicalismo, bossa nova, samba canção, além dos frevos que ecoam da guitarra baiana, seu preferido dentre os muitos instrumentos que sabe tocar. Sabe e tira deles o som que quiser e o que a imaginação pedir. Ele tem instinto musical.
Sempre apostando nas experimentações, foi um dos primeiros músicos a tocar na noite – ou nos bailes da vida, parafraseando Milton Nascimento – a música barroca, de um jeito bem particular e agradável ao seu eclético público. Arriscou-se também, nos anos 80, a tocar os clássicos dos Beatles no bandolim, como nenhum outro músico tinha feito até então. “A maioria dos músicos não arrisca por medo da crítica”, observa. “Eu chegava no barzinho, ali na Visconde de Itaboraí (bairro de Amaralina, orla de Salvador-BA), com o bandolim, e um outro músico trazendo o violão, e o pessoal falava: vai ter chorinho ou samba. E não tinha nada disso, era Beatles mesmo. E o público gostou.”, recorda.
Pedro começou a carreira em 1978, aos 16 anos, levando para os pequenos bares as fortes influências da Bossa Nova, os clássicos de Maysa, e, paralelo a isso, as músicas de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Novos Baianos. De perto, acompanhou Dodô e Osmar, toda a família Macedo e o pau elétrico, depois chamado de guitarra baiana, nos carnavais e nos ensaios, como um fã e admirador da habilidade e criatividade musical dos músicos que tinham reinventado o Carnaval baiano. Tornou-se, tempos depois, um exímio tocador de guitarra baiana e integrante do primeiro encontro, em 2007, do Grupo da Guitarra Baiana em Salvador.
A guitarra baiana e o Carnaval
A sua relação com a guitarra baiana rendeu boas histórias, inclusive com Aroldo Macedo, que chegou até ele de uma forma inusitada e o inseriu nesse ambiente, que ele diz ser muito saudável. “Se antes eu já tinha paixão pela guitarra baiana, hoje eu tenho muito mais, porque não se vê estrelismo entre os músicos.” Após descobrir que a afinação da guitarra baiana coincidia com o instrumento que já tocava, e ver Luiz Caldas e outros artistas tocarem no Trio Tapajós nos carnavais, e a Cor do Som tocando os frevos pernambucanos e as músicas clássicas de Mozart, Pedro resolveu experimentá-la e aprendeu a tocar o instrumento.
Em 2006, após adquirir um bandolim encomendado, e tocá-lo em alguns ensaios com amigos, Pedro recebe em casa uma ligação, numa tarde, de Aroldo Macedo, que se apresentou só como Aroldo, querendo saber um pouco mais sobre o bandolim. Pediu que tocasse o instrumento e, por telefone, Pedro tocou um trecho de uma música do próprio Aroldo, sem saber que o seu ouvinte era o compositor de fato. Depois de algumas músicas tocadas, segurando o telefone, Aroldo elogiou o que tinha ouvido e foi ai que Pedro reconheceu a voz. Querendo certificar-se de que a sua desconfiança era real, perguntou se o “tal” Aroldo tinha Macedo no nome e, após a confirmação, o nervosismo de fã veio à tona. Depois dessa conversa, marcaram um encontro, e Aroldo foi até a casa do fã, que tinha se transformado em parceiro, para ver o dito bandolim. Daí por diante, Pedro Moraes fez algumas apresentações com a família Macedo, a mesma que ele tanto admirava quando era folião e acompanhava atrás do trio elétrico.
O Carnaval passou a ficar ainda mais presente na vida do músico. Segundo ele, a festa tem estado bem mais profissional, e a guitarra baiana, símbolo da festa, tem retornado ao cenário musical com a ajuda da família Macedo, com Armandinho e Aroldo, e também de músicos da nova geração, como a banda Retrofoguetes, que, em seus shows pelo Brasil, sempre reserva um espaço para tocar o instrumento. E Pedro Moraes faz parte dessa comitiva pela redenção da guitarra baiana, sendo convidado para tocar em alguns shows.
Experiências musicais
Talvez a característica maior de Pedro Moraes seja a facilidade de experimentar vários estilos musicais. A sensibilidade e a intensidade com que faz seu trabalho permitem que ele perpasse por mundos diferentes. Um exemplo disso foi o período em que integrou um grupo de música árabe, tocando bandolim e, ocasionalmente, guitarra baiana. Saiu do grupo depois de quatro anos, mas continuou com essa vertente fazendo shows em eventos de dança do ventre e em teatros. Em 2008, fez apresentações no Teatro dos Correios, no Teatro Anchieta e na Boomerangue, com a banda Retrofoguetes, acrescentando ao seu vasto repertório musical, e ao seu conhecimento sobre a história, o universo da música árabe. “De umas duas décadas pra cá, a forma de tocar música árabe mudou muito. Você ouve música eletrônica, salsa, tango e música francesa com levada de tambor árabe”, explica o músico.
Encantado com essa nova experiência, ele começou a compor, utilizando instrumentos de corda, como bandolim e a própria guitarra baiana, misturando o árabe com o ritmo latino em músicas como Flor de Guadalupe e O Fio de Ariadne, usando como mote a importância da mulher na vida de um homem, e Dança das Fadas, nunca gravada, que simboliza sua própria sensação de ver, ao lado de determinadas bailarinas de dança do ventre, uma fada dançando. “Como se fosse um anjo da guarda”, complementa.
Para Pedro Moraes, estar compondo é “como se fosse conhecer um novo amor”. A música, para ele, preenche algumas lacunas na sua vida e tem sido uma companheira inseparável. Mesmo com uma vida tão misturada à música e tendo construído uma bagagem invejável de repertório e conhecimento musical, Pedro sempre teve outro trabalho em paralelo, na área financeira e contábil, sem qualquer relação com a arte, para apenas pagar as suas contas. Afinal, além de ser o Pedro sensível, que altera os seus sentidos e sublima quando compõe ou toca um instrumento, ele também é um cidadão que assume compromissos comuns, como qualquer outra pessoa. Porém, afastado do trabalho, Pedro Moraes tenta ser, por inteiro, realmente o que sempre foi: músico. E busca ainda mais se profissionalizar e divulgar o seu trabalho.
Atualmente, Pedro Moares se apresenta todas as quintas-feiras no bar Café & Cognac, no Rio Vermelho, às terças-feiras no Kebab, na Barra, além de fazer alguns trabalhos com a Escola Musical Center.
Contatos de Pedro Moraes:
Tel: (71) 9932-6161
E-mail: prlmoraes@hotmail.com
Hélio Gomes e o Cine Lapão, um casamento inesquecível
Publicado: 24/12/2009 em JornalismoTags:cine lapão, Cinema, helio gomes, joao adriano, lapão
Por Pedro Moraes
Em uma sala lotada, as luzes se abaixavam e uma voz suave e cadenciada anunciava: “Nesse horário está entrando no ar o sistema de som do Cine Lapão, hoje, vocês vão assistir o filme Paixão de um Homem, estrelado pelo cantor Waldick Soriano”. Desta forma, Hélio Gomes, abria as seções do cinema da cidade, sem saber que estava entrando para história do município por ter propiciado para tantos o contato com a sétima arte, se tornando uma referência cultural viva na microrregião de Irecê.
Hélio Gomes nasceu em Canoão de Ibititá em 1938. Com 19 anos a irmã que morava em Brasília resolveu voltar para o semiárido e morar Lapão, foi então que Hélio resolveu acompanha-la com o objetivo de abrir um armarinho. O comércio durou alguns anos, até que comprou um bar do irmão e mudou de ramo. Porém, o ambiente não era o que ele gostaria de ficar. Relembrando a época, Hélio conta que fechou o bar e tentou uma nova profissão vendendo tecidos e rádios para os comerciantes locais. “Tentei ser vendedor mas esse serviço ainda não contemplava minha opção de vida, larguei tudo e entrei no ramo de fotografia. Fazia fotos de formaturas, casamentos e solenidades. Trabalhei uns três anos com uma máquina Yashica, até que um amigo de Piritiba, chamado Marotinho, arrendou um clube e fundou um cinema por lá”.
Nasce o cinema na cidade: O cinema do amigo despertou uma nova paixão para Hélio que rapidamente pegou com Marotinho os macetes da profissão e fundou em 68 no salão da Sociedade Cultural de Lapão, instituição que na época era o presidente, o Cine Columbia. “O espaço cabia 50 pessoas, a cidade não tinha energia elétrica, o projetor e as lâmpadas eram alimentadas por um motor a óleo diesel, mas dava para fazer uma seção por dia. Quem mais frequentavam eram as famílias e os casais de namorados, que gostavam de assistir filmes românticos e aproveitar o escurinho do cinema,” diz Hélio Gomes. Com o tempo, Hélio precisava de mais espaço, foi então que teve a ideia de mudar a sala para outro ambiente. O cine Columbia ficou em uma garagem ao lado do antigo bar e por quatro anos, apresentou grandes clássicos do cinema nacional, com atores consagrados como Mazzaropi, Tony Viana, Oscarito e Grande Otelo.
Sucesso de público: Em cinco de fevereiro de 75, o Cine Columbia se transformou em Cine Lapão e mudou para um novo prédio com capacidade para 250 pessoas. A reestreia do cinema lapoense foi marcada pelo filme Elvis é Assim. De acordo com Hélio Gomes, “a seção estava lotada, Elvis Presley estava no auge, ele era um sucesso. Nesse tempo, quando o filme era bom fazíamos até três seções, com o ingresso custando aproximadamente dois cruzeiros. O cinema deu lucro, foi onde fiz meu pé de meia,” relembra Hélio.
O cine Lapão passava películas de variados estilos, românticos, épicos, bíblicos, de terror e os famosos e populares filmes de “Bang-bang”(Western) e artes marciais. Hélio comenta que Love Story, Tarzan, Digo como te Amo, O Marginal e os Dois Gladiadores foram os filmes de maior bilheteria, porém não esquece de ressaltar que o público adorava as chanchadas com Oscarito, Grande Otelo e Mazzaropi. “O cinema nacional dava muito público. Lembro que filmes como Chumbo Quente com os cantores Léo Canhoto e Robertinho, Menino da Porteira com Sérgio Reis e Roberto Carlos em ritmo de Aventura eram garantia de sala lotada.”
Atualmente na microrregião de Irecê, não encontramos cinemas. Mas até começo da década de 80 o sucesso era evidente. Hélio era o responsável por distribuir os filmes nas cidades vizinhas, ele alugava as películas em Salvador, por 150 a 200 cruzeiros e cobrava para cada cinema da região de 20 a 50 cruzeiros por exibição. O sucesso era tamanho que o ator e diretor Tony Vieira passou por vários municípios, onde Hélio distribuía as películas, como em Jussara, Barra do Mendes, Cafarnaum, Uibaí e Presidente Dutra, para apresentar os filmes e criar um vínculo maior com o público.
Fim do Cinema: Após treze anos de sucesso no novo prédio, o Cine Lapão e diversos outros cinemas ganharam um adversário forte, o videocassete, uma tecnologia que gerou uma crise quase que irreversível para vários estabelecimentos do setor. Com a popularização do aparelho, os filmes saiam de cartaz nos cinemas e em poucos meses já estavam disponíveis para locação. Além disso, as boates e casas noturnas nas cidades do interior se expandiam e o público dos cinemas ficava cada vez menor. “Todas as salas da região estavam sentindo na pele, tinha também um cinema em Barra do Mendes, esse resistiu menos e fechei. Várias distribuidoras de Salvador que nos passavam filmes em 16mm também não resistiram e estava ficando difícil até encontrar filmes nessa bitola”.
As salas começaram a ficar vazias, e não compensava mais alugar um rolo de filme para passar. O único gênero que ainda atraia grandes bilheterias eram os filmes pornôs. Foi então que Hélio decidiu investir em filmes mais caros e realizar intensas campanhas publicitárias. Porém, a estratégia não obteve sucesso. “Vinha tentando de todas as formas. Aluguei um filme caro, chamado Engraçadinha, esperava levantar a moral do cinema. Divulguei em jornais, no sistema de som, coloquei cartazes na cidade e infelizmente foi uma decepção. Só foram 13 pessoas. Fiquei tão injuriado com isso, porque era um filme romântico e histórico, com uma história muito boa e não deu público, mas quando passava filme pornô era casa cheia. Gostava de projetar filmes instrutivos, que passassem uma mensagem, não era só lucro, tinha um cinema porque achava que estava evoluindo a cidade e ajudando a engrandecer a cultura local. Então com o fracasso deste filme encerrei a atividade do Cine Lapão em 13 de setembro de 88 e não tentei mais voltar com ele,” desabafa.
Com a decepção, ele saiu de Lapão e foi morar em Salvador. Chegando na cidade, abriu uma mercearia mas logo voltou para área, se tornando um dos gerentes da Orient Cinemas, atualmente uma das maiores distribuidoras de filmes do estado. Hélio gerenciou as salas do Brotas Center, Center lapa, Cine Itaigara, Tamoio, Excelsior, Cine tupi e Cine Jandaia de Salvador. Anos mais tarde, voltou para Lapão, onde mora com sua esposa Evanilde, com quem é casado há 43 anos, ao lado do antigo cinema. “Sinto muita falta daquela época, além de ser apaixonado por cinema, meu desenvolvimento financeiro e cultural foi propiciado por ele. Não tenho como não sentir a falta. Quando entro naquele salão sinto muitas saudades de uma época que me trouxe felicidades, penso em reformar esse local e criar um espaço cultural, onde possa alugar para festas e fazer umas seções de filmes. Tem muitos jovens na cidade com ideais de teatro e outras artes e que não tem um ponto de sustentação, esse salão vai ser esse espaço” promete Hélio Gomes.
Descaso e insatisfação. Frota de ônibus que faz a ligação entre Lapão e Irecê deixa usuários descontentes
Publicado: 24/12/2009 em JornalismoTags:carlinhos, irecê, lapão, SAtur, saturnino turismo
Cadeiras quebradas, falta de ventilação, bancos sujos, transporte de mercadorias, atraso nos horários, atendimento desqualificado e falta de assentos preferenciais para idosos e gestantes são apenas alguns dos problemas levantados pela população ao se referir aos ônibus, da empresa Saturnino Turismo, quem fazem a ligação entre os municípios de Lapão a Irecê. A empresa contesta as denúncias e diz fazer o possível para prestar um serviço qualificado. Diante do impasse, cabe aos órgãos competentes verificar a situação e identificar as possíveis soluções.
O estudante João Lucas Dourado é incisivo e afirma: “os ônibus são sujos, as cadeiras ficam empoeiradas, eles precisam de uma limpeza constante, a empresa tem como obrigação limpar o transporte sempre que ele estiver sujo, porque os usuários não são obrigados a aturar mau cheiro, sujeira e viajar em veículos inadequados. A empresa também deve ter a consciência que o ônibus foi feito para levar passageiro e não mercadorias, bicicletas e grandes volumes. Às vezes fica tão carregado que é difícil até para andar”. O proprietário da empresa, Carlos Vilela da Silva, conhecido como “Carlinhos”, contesta a reclamação de Lucas e alega que a sujeira é inevitável. “Admitimos que muitos ônibus seguem para Irecê sujos. Mas visitamos vários povoados, como Patos, Queimadas, Rodagem, o acesso é feito em estradas de chão. Não tem como ficar sempre limpo, lavamos nossos veículos diariamente, mas precisamos da ajuda da população para não jogar lixo dentro do veículo. Sobre as cargas, muitas pessoas compram sua feira ou uma mercadoria e não tem condições financeiras para levar de outra forma. A única alternativa delas é nosso veículo”.
Joana da silva, agricultora da comunidade de Lajedo do Pau d’arco, utiliza os ônibus da Saturnino Turismo com freqüência e gosta do serviço prestado, porém sugere a empresa que qualifique melhor seus funcionários para agregar qualidade ao serviço, “têm muitos cobradores e motoristas sem educação que tratam mau as pessoas. Quando pego o ônibus no povoado ele vem cheio de terra e o funcionário não passa um pano nos bancos pelo menos, todo mundo fica sujo”.
Apesar da empresa alegar ter feito uma reforma generalizada nos veículos em agosto, o agricultor Edson Ferreira, de Aguada Nova, diz que sempre encontra cadeiras quebradas “que passam dias para serem concertadas”. A mesma informação vem da estudante Flaviane Oliveira, que comenta: “você senta na cadeira e o assento fica deslizando, já virou até uma brincadeira para minha filha (risos)”. Carlos Vilela informa que sempre reforma as cadeiras quando o fato é identificado, porém, reconhece que os estofados do micro-ônibus está rasgado há algum tempo. “É um material caro e sempre que reformamos em pouco tempo volta a estragar, algumas pessoas vão para a lotação com este intuito, muitos usam a cabeceia do banco para sentar e quando vamos reclamar recebemos xingamentos e revolta”.
O agricultor Edinei Ferreira, considera que os ônibus passam por uma boa manutenção, porém identifica outro problema. “Nos horários que utiliza o transporte, o veículo está sempre lotado, além disso, presencio constantemente uma falta de respeito com os idosos, não tem lugar reservado para eles e vejo vários em pé”, o agricultor ainda comenta que a insatisfação é tão grande que sente vontade de descer do ônibus, “só não desço porque geralmente estou na pista”, desabafa Edinei. A empresa admite que essa é uma falha, e segundo Carlos Vilela, em breve os ônibus da Saturnino vão ter os devidos locais marcados e reservados para idosos, gestantes e deficientes como obriga a lei.
Na manhã do dia 14, deste mês, encontrei com uma senhora, que preferiu não se identificar, de 70 anos, ela comentou que paga a passagem sempre que usa o serviço, “não tenho opção, eles cobram não tenho cara para dizer não, mas alguém tinha que tomar providência porque nosso dinheiro já é pouquinho”, ressalta a aposentada. Vale lembrar, que a ação da empresa vai de encontro a lei federal (10.741), de 2003 e a estadual (9.013) de 2004, que garante “aos idosos nos veículos de transporte coletivo intermunicipal e estadual a reserva de duas vagas gratuitas por veículos e o desconto de 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, no valor das passagens que excedam as vagas gratuitas”; e a gratuidade nos transportes coletivos urbanos e semi-urbanos”.
Carlos Vilela, tenta se justificar, afirmando que os idosos pagam o transporte porque o município e o governo do estado não realizaram essa uma parceria com a empresa. “Temos um trabalho social que oferecemos gratuitamente passe de idoso para algumas pessoas, porém o idoso é nosso principal cliente, se a empresa levasse todos gratuitamente quem pagaria nossos custos?”, questiona o diretor da empresa.
Pedro Moraes
Acabou o terceiro ano, e agora?
Publicado: 12/12/2009 em JornalismoTags:edimaster, ensino, irecê, lapão, pedagogia, pedro moraes, professores, sérgio lúis, UFBA, uneb, unifacs, vestibular
Pedagogia ou Engenharia? Talvez Direito… ou até Medicina. Vou para Salvador? Campina Grande? Ou continuo aqui? Diante de tantas possibilidades ou da inexistência delas, um dos grandes dilemas dos jovens que acabam o ensino médio é a difícil missão de escolher qual rumo oferecer para sua vida. Especialistas aconselham que não adianta pressa.
Para a aluna Rafaela Dourado, que acaba de concluir o ensino médio no colégio EdiMaster, a situação fugiu dos limites: “tive uma dúvida enorme, fiquei desesperada, chorei, me senti triste procurei até uma psicóloga. Não sabia o que fazer. Era como se nenhum curso tivesse haver comigo. Resolvi relaxar e fazer direito igual ao meu pai, se não me identificar com a área, faço outro curso depois”.
O professor Sérgio Luís, coordenador pedagógico e professor do Curso Pré Vestibular da UNEB em Lapão comenta que casos desses acontecem porque geralmente os alunos nessa faixa etária “não têm a maturidade de escolha necessária, até porque, não existem no currículo escolar disciplinas que estimulem a parte vocacional. Sempre aconselho a ter calma e decidir a opção com serenidade. Realize estudos prévios sobre as opções de curso, e escolha o seu sonho, esse é o segredo”, orienta Sérgio.
Mesmo com a opção definida, a estudante Louise Almeida sofreu com a ansiedade. A jovem garota de 16 anos, ao fazer o ENEM, relata que só conseguiu entregar a prova nos últimos minutos, porque com o nervosismo, ela perdeu muito tempo. “Quero pegar o resultado da prova e tentar engenharia em Salvador. Pensei na UNIFACS, mas estava tão agoniada na hora da prova que não sei se tive a pontuação necessária. Errei algumas coisas que sabia a resposta”. Para o professor, uma dica importante para solucionar essa problemática é desenvolver uma rotina de atividades como “resolver constantemente simulados, responder questões de vestibulares e fazer provas como a do ENEM. Isso é importante, porque oferece experiência, ameniza a ansiedade e o aluno se sente mais seguro”, diz o professor.
Com os altos índices de desemprego, muitos jovens transferiram o sonho de cursar uma universidade para conquistar um emprego bem remunerado e estável, é o caso de Eliane Martins, do Colégio Modelo, que já fez sua escolha. “Pretendo fazer concurso. Vestibular só se aparecer oportunidade, mas ainda estou em dúvida do curso. Prefiro fazer concurso porque o emprego é garantido e acho que assim dá pra conhecer melhor uma área e aí depois é só se especializar nela,” diz Eliane. Já o estudante Marcelo Lopes, diz que inicialmente pretende “ingressar no mercado de trabalho durante seis meses e depois prestar vestibular para medicina. Eu sou muito ambicioso quando se trata de estudo, quero estudar para ter um bom emprego e um bom salário”.
Apesar da ansiedade, mercado de trabalho e indecisão, o professor Sérgio Luís, alerta que o principal problema é que existe uma carência de sonhos nos estudantes, de acordo com ele, “muitas famílias ainda não têm essa cultura do vestibular, elas acreditam que quando acaba a oitava série eles já estão formados e não incentivam a busca dos filhos. Também a falta de estrutura nos colégios ajudam, como a falta de professores, aulas vagas, principalmente na área de exatas, como física e química e a falta do estímulo de alguns professores que não incentivam os alunos a buscarem um vestibular. Por esses motivos muitos me questionam: para que vou estudar se vou para roça? Se encontramos tantos com anéis de formatura na roça? É triste mas muitos alunos não tem o sonho do vestibular enraizado. Mas isso está mudando, tenho alunos que saem dos povoados para estudar no cursinho e não faltam um dia”.
Pedro Moraes