Imagem  —  Publicado: 30/04/2013 em fotografia
Tags:, ,

A ditadura invisível

Publicado: 30/04/2013 em Jornalismo
Tags:,

Imagem

Quem disse que a liberdade existe? Voar até suas asas queimarem ao tocar no sol ou se cansar de sentir o vento tocando nas penas de suas asas são práticas utópicas. No passado lutaram bravamente por uma ditadura visível, tocável, onde as mazelas eram escancaradas. A ditadura se disfarçou, mudou de uniforme e voltou na sua forma mais letal e sutil, sendo invisível ao olhar despercebido, te oferecendo doses diárias de Prozac para que tudo se pareça “normal”. Essa normalidade me incomoda. A sensação que tudo está dando certo me fornece a certeza que vivemos em gaiolas invisíveis com as portas abertas, porém, com um sistema opressor fortemente armado, que te impõe normas e padrões que não deixam suas asas ousarem a sentir o vento e passar pela pequena e cintilante porta de sua grade. Lutar e transgredir ainda é preciso, pois a “normalidade” é anormal.

Queridos colegas jornalistas. A trabalho, estou investigando as atividades de uma ONG chamada CESAB-SF (Centro de Estudo Socioambiental da São Francisco), suspeita de compra de votos e distribuição irregular de cestas básicas em favorecimento de um candidato no município da Barra-BA.  Quando estava em uma avenida tirando fotos da frente da casa onde funciona a entidade, fui surpreendido pelo presidente da ONG, Hamilton Pinheiro, que me agrediu verbalmente e fisicamente com empurrões. Não contente, o presidente da entidade me ameaçou de morte e pegou minha câmera fotográfica jogando no chão danificando o equipamento. Segue em anexo, cópia do boletim de ocorrência da delegacia da Barra,  foto do momento em que Hamilton se dirigiu para a agressão e imagens do equipamento danificado.

Conto com o apoio dos colegas para publicação desse fato, que só empobrece a liberdade de imprensa.

Cordial Abraço,

Pedro Moraes

Roda Viva do Sertão

Publicado: 24/05/2011 em fotografia
Tags:, ,

Viva

Radiante

Publicado: 24/05/2011 em fotografia
Tags:, ,

 

Por Pedro Moraes

Percebemos diversos grupos de jovens que extravasam suas inquietudes das formas mais subversivas possíveis, como o consumo desenfreado do álcool, a direção alcoolizada de veículos sem habilitação, a permanência nas ruas de madrugada, a prática de sexo em vias públicas e o consumo de diversas drogas ilícitas, como a maconha e o crack.
Sabemos que todos esses problemas vêm de berço. Inicialmente, cabem as famílias coibirem tais atos, com o diálogo e uma orientação contínua, que precisa ser ao mesmo tempo dura e acolhedora. Contudo, ao invés de orientar, os pais estão perdendo cada vez mais espaço e os filhos se sentem no direito de comandarem a situação, sem qualquer repressão posterior. A tradicional “bronca” foi abandonada por um tapinha nas costas com a frase subconsciente: “Filho erre novamente, seu pai assume sua barra”. Como os problemas não são meramente caseiros, eles trazem consequências danosas para toda a sociedade, já passou da hora dos poderes públicos e as famílias lutarem com mais afinco para solucioná-los.
No caso do álcool, podemos afirmar com toda segurança possível que a grande maioria dos mercados, armazéns e bares do município e microrregião de Irecê, vendem sem qualquer cerimônia bebidas alcoólicas e cigarros para menores de 18 anos. O que muita gente finge não saber, é que o ato vergonhoso, que visa unicamente o lucro, desobedece o artigo 243 do estatuto do adolescente que prevê pena de até 4 anos de reclusão, acompanhado por multa,  “para qualquer pessoa que vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida (art.243)”, diz o estatuto do menor.
Diante de uma geração que abandona em passos largos o hábito da leitura, também encontramos uma infinidade de alunos que fardados com as camisas de seus respectivos colégios, se privam de conhecimento e trocam as salas de aula pelo uso incansável de bate-papos virtuais em lan houses, ou passam seus dias sentados em um banco de praças públicas ao lado de um litro de refrigerante “turbinado” com Pitu, 51, Montila e outras tantas bebidas.
No trânsito, os menores circulam livremente pilotando motos, dirigindo carros possantes com aparelhos de som amplificados e fazendo diversas inflações, como subir em passeios, realizar manobras arriscadas e exibirem os famosos “cavalos de pau”, demonstrando todo seu “poderio” adolescente. Todos sabem que dirigir sem habilitação é crime e para ter a autorização necessária, o condutor precisa ter a idade mínima de 18 anos, tenho certeza que isso não é novidade para ninguém. Porém, com uma fiscalização ainda incipiente, virou uma tradição os pais liberarem os veículos para menores, ainda sem maturidade, despreparados psicologicamente para utilizar tal ferramenta, que pode virar uma arma letal com o uso inadequado. Sejamos coerentes, qual maturidade um jovem adolescente tem para pilotar uma moto ou carro?
Precisamos urgentemente de ações concretas de todos os poderes públicos para solucionar esses problemas. Investir em educação de qualidade, cultura, esporte e meios de entretenimento “saudáveis” é uma fórmula precisa para combater todas essas problemáticas em médio e longo prazo. Porém, também necessitamos de órgãos com a função de coibir tais práticas.  O poder judiciário, por exemplo, ninguém entende o motivo, mas não implementa no município um Juizado de Menores, que amenizaria de imediato algumas dessas problemáticas. Visto que a ação dos agentes de proteção (antigos comissários de menores) tem como objetivo “o trabalho de fiscalização, assistência, proteção, orientação e vigilância a menores, previstas no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), bem como o cumprimento de medidas judiciais específicas”.
Os poderes competentes precisam parar de olhar para os botões do próprio terno e realizarem ações em consonância com as necessidades da população. As famílias precisam acordar, e deixar as fofocas sobre o outro de lado e olhar para sua casa. Está faltando praticas básicas, como olhar, ouvir, sentir, buscar e conhecer.  Pois é só assim, que conhecemos os anseios do local, no qual muitas vezes vivemos protegidos por uma cúpula de vidro.

“Não tenho medo de reclamação, dirijo em todos locais da região e coloco o som na altura que quero porque nunca ouvi falar que alguém daqui teve problema com isso”.

Por Pedro Moraes

Venho recebendo constantes denúncias de diversas pessoas que estão se sentindo prejudicadas pela intensa poluição sonora, que se alastra com cada vez mais intensidade na microrregião de Irecê.  O cenário não é diferente em nenhuma das localidades, carros equipados com aparelhos sonoros de alta potência, passam nas ruas com o volume acima do permitido em qualquer horário, as festas são executadas sem nenhum tipo de domínio acústico, os bares colocam som ao vivo ou mecânico sem controle de altura ou horário e o comércio não se cansa de usar os carros de som rodando pelas cidades anunciando suas ofertas.

Em Lapão, muitas pessoas que preferem não se identificar, por receio de algum tipo de coação, alegam não ter condições de trabalhar ou simplesmente dormir com o intenso barulho nos bares da cidade e carros com som. Essa situação é vivenciada por um lavrador que mora em uma das ruas atrás da AV. ACM, que dá acesso à cidade. “No outro lado da rua tem um bar que funciona durante toda a semana vendendo espetos de carne assada e cerveja a noite. Se chama Espetinho do Wilson, ele não me dá sossego. Sou paciente, mas mesmo assim não estou aguentando, na segunda, trabalho cedo e no domingo o barulho só acaba depois das duas da manhã. Agora me diz, como posso acordar às cinco se durmo depois das duas?”, questiona o agricultor.

Praça Bráulio Cardoso

Outro morador da cidade, que reside na praça central tem o mesmo problema. “Na Praça Bráulio Cardoso tem um local chamado Bar do Enoque, que colocam uma caixa de som e todo fim de semana leva uns cantores para cantar o mesmo repertório, já gravei todas as músicas. E tem outro, na mesma rua, chamado Mega Bar que coloca um som mecânico super alto. Se o som ainda fosse baixo tudo bem, mas parece que esses bares colocam as músicas para todas as ruas vizinhas ouvirem e não só para os clientes. Na minha sala, não dá para ver televisão direito, se for conversar, tenho que trancar as janelas e a porta. Para dormir, não tenho direito de escolher o horário, é só quando a farra parar. Tentei reclamar, fui ao bar, conversei com um funcionário, liguei para a polícia, mas nenhum dos dois me deram atenção. Alguém tem que tomar providência, não é possível que o divertimento de poucos que sentam nas mesas da praça seja mais importante que o direito de dormir de moradores de várias ruas”, desabafa.

Na Rua Antônio Pereira da Silva, os moradores dizem que a realidade é ainda mais complicada. Um comerciante que tem um estabelecimento próximo a sua casa comenta que na localidade o único dia de tranquilidade é na segunda. “Se alguém chegar aqui na rua até às 22h,  pensa que o lugar é um paraíso, mas certamente chegando depois das 0h vai conhecer outra realidade. Tem um bar bastante conhecido, chamado Tenta do Carlinhos que só deixa as pessoas terem sossego na segunda, pois durante todo o resto da semana ele fica até 3h da manhã aberto e se não bastasse o barulho interno, ainda tem pessoas que não conseguem entrar no estabelecimento e ficam de fora conversando alto e zoando na rua. O som do bar é alto,  mas o que incomoda mais é o público, é gente gritando, falando palavrões e carros que ao saírem cantam pneu e aumentam o som. Em decorrência disso, não durmo bem  e acabo tendo que lutar durante o dia para não ficar mal humorado, e não descontar o stress nos clientes ou na minha família, pois a ausência do sono causa irritação. Fiz uns tampões nas centelhas das janelas para minimizar o problema, mas mesmo assim, o barulho entra. A justiça deveria obrigar esses estabelecimentos que são próximos a residências, a usar um isolamento acústico e a polícia deveria fiscalizar mais isso. Sinto-me  lesado, pago meus impostos em dias e não precisaria ficar fazendo denuncias sobre isso, até porque existem leis que são fáceis de serem cumpridas, bastas às autoridades quererem colocá-las em prática”, disse o comerciante.

Na cidade, o maior problema em relação à poluição sonora é o volume excessivo dos aparelhos de som dos veículos. Eles não obedecem a horário, nem muito menos o nível de ruído, a problemática é tão comum que já virou um hábito, hoje, dizer que tem um carro em Lapão que não seja bem equipado com esse acessório soa estranho. O menor de iniciais ASD, de apenas 15 anos, afirma que o pai colocou o som no carro com uma potência considerável a seu pedido e que infringe a lei pela certeza da impunidade. “É massa demais, onde paro faço a festa. Não tenho medo de reclamação, dirijo em todos locais da região e coloco o som na altura que quero porque nunca ouvi falar que alguém daqui teve problema com isso”, diz o estudante. Na Rua José Mangueira, um funcionário público conta que em um bar de sua rua, vários clientes param o carro em frente ao estabelecimento e abusam do som alto. “O próprio proprietário tem um carro e faz isso. Quase todos os dias eles encostam na calçada e ligam o som em altura que incomoda a rua toda, já fui na delegacia registrar ocorrência e ao Ministério Público, ambos disseram que iriam resolver o problema, estou aguardando”.

O capitão da policia militar, José Renato, convocou para uma reunião alguns proprietários de bares da cidade expondo os problemas. Ao término, foi combinado informalmente que os donos dos estabelecimentos iriam se comprometer em reduzir o volume, assim como não atender clientes que estejam com o aparelho de som ligado. O militar ainda disse que no descumprimento do acordo, ele iria acionar o poder judiciário para resolver o problema. Mas, infelizmente na mesma semana da reunião a situação permaneceu a mesma.

A Superintendente de Apoio Rural e Meio Ambiente e presidenta do Conselho em Defesa do Meio Ambiente, Lucivanda Oliveira Porto, reconhece a gravidade do problema e promete em breve algumas mudanças. “O código municipal de meio ambiente e o conselho foram implantados e estão aptos a funcionar. Já solicitamos um decibelímetro (aparelho responsável para medir o nível de ruído) e em parceria com a polícia militar vamos verificar a situação para tomar as devidas providências”.

Maria Auxiliadora dos Santos, conhecida como Cilinha, dedicou sua vida para ajudar o próximo, se tornando uma referência da ação social em Lapão (BA)

 

Por Pedro Moraes

 

Percebemos como foi importante a existência de alguém, pelo nível de emoção demonstrada nos momentos em que essa pessoa é lembrada. Ao falar da história da paraibana Maria Auxiliadora dos Santos, conhecida carinhosamente como Cilinha, uma explosão de sentimentos aflora, com depoimentos recheados pelos mais diversos sorrisos, saudades, lições de vida e muita comoção sobre uma guerreira que esteve entre nós para servir.

Filha de Antonio Dias Ramos e Maria das Dores Dias Ramos, Cilinha, nasceu em Remígio, em 27 de março de 1956. Na sua terra natal a situação estava difícil, as fortes secas e escassez de recursos fizeram com que ela fosse para Lapão com apenas dois anos, ao lado dos pais e os irmãos Lourival, Margarida, Luís, Zélia e Marisé. Na nova cidade, a esperança de dias melhores foi renovada e logo a família aumentou com o nascimento de Irenaldo e Marileide. “Cilinha era uma criança bem magrinha e impulsiva, mas desde cedo puxou aos pais e mesmo bem novinha, já gostava de agradar as crianças que ela conhecia”, se recorda Marileide.

Apaixonada pela nova terra, porém sem perder suas raízes, se considerava uma “paraibaiana”, (mistura de paraibana com baiana) e com muito esforço estudou até a quinta série conciliando o estudo com os trabalhos de casa e os da roça em Queimada Nova, povoado de Irecê. Com o tempo, conheceu Antônio Batista dos Santos, Totonho. Com o romance, veio o namoro e posteriormente o casamento, virando o braço direito do esposo. “Casamos no dia primeiro de abril de 1972. Inicialmente começamos a morar juntos, na casa dos pais dela e depois casamos. Foram momentos felizes, minha sogra e meu sogro sempre me consideraram bastante e quando saímos da casa deles para a nossa eles reclamaram, queriam que ficássemos. Quando encontrei Cilinha, ganhei uma companheira que se esforçou por toda sua vida para me ajudar, não conheço uma pessoa com mais disposição e ânimo para auxiliar o outro. Tenho um açougue e ela nunca me disse hoje você vai só, a disposição era fora do normal. Acordava de madrugada, desossava os bois, tratava os fatos e permanecia com a mesma energia. Podia está sentindo qualquer coisa, mas quando falava em ajudar alguém ou trabalhar, Cilinha enfrentava qualquer dor e mostrava que não existia tempo ruim, quando se tinha vontade,” se recorda Antônio.

O casal teve quatro filhos, Clesciane, Clebson, Clenildo e Anaclécio, que recordam  de uma mãe que sabia reclamar e acolher na hora certa. “Ela tinha um carisma enorme com as pessoas, posso dizer com toda certeza que tive uma mãe excelente, pois ao mesmo tempo em que ela passava a mão na cabeça dos filhos ela sabia cobrar atitudes e posicionamentos. Mãe chegava junto e nos ensinou muitas coisas”.  Disse Anaclécio. Concordando com o irmão, Clesciane comenta que a mãe ensinou duas coisas fundamentais: a importância da união entre os familiares e a força de vontade para ajudar o próximo. “Conviver com ela, me influenciou a fazer o bem e estar sempre próxima a minha família”.

Em nome da Ação social

Além de ajudar o marido no açougue, era feirante, e viajava para as cidades da região de Irecê com o objetivo de vender carne nos balcões das feiras. A amiga Maria Alves se recorda que na época, Cilinha separava vários pedaços da mercadoria para fazer doações aos mais necessitados. “Na feira, eu vendia tempero do lado dela e percebia que nunca saia uma pessoa que precisasse de ajuda sem um pedacinho de carne enrolado, ela fazia o bem, mas não gostava de aparecer, sempre ajudava com muito sigilo, por isso, considero-a uma pessoa especial”.

Mesmo com quatro filhos jovens, Cilinha se comoveu com a história da garota Ilca Nascimento dos Santos, que com apenas 12 anos, morava sozinha. A mãe verdadeira deu prioridade a acompanhar o esposo e foi viver na roça com o marido deixando duas filhas sozinhas. A irmã da pré-adolescente foi para Brasília, e a jovem garota, a cada dia se sentia mais triste e solitária. Conhecendo sua história, Cilinha não hesitou a convidar a garota para morar com ela. Muito emocionada, Ilca conta: “ela foi uma peça fundamental em minha vida, tenho muito orgulho em ter tido nela uma segunda mãe. No momento mais difícil da minha vida, onde me sentia só e triste,  ela me ofereceu de bom coração para morar com ela. Mãe Cilinha não me conhecia, não sabia de minha índole, mas mesmo assim, me acolheu como se fosse sua filha. Ficava surpresa a cada dia com sua dedicação, seu sorriso, e todo amor dedicado a mim. Nunca senti diferenças,  o que  tinha para um, tinha para outro, tudo que os filhos dela tinham, eu também recebia, era como se tivéssemos o mesmo sangue. Na ausência da minha mãe, o seu carinho completou meu coração e  me ensinou a perdoar, a ir na igreja, conhecer os bairros carentes e apoiar os mais necessitados”.

Mesmo tentando não demonstrar, o trabalho social que ela desenvolvia, logo começou a chamar a atenção. Foi quando o até então pároco da cidade, Padre Lúcio Barboza,  convidou a guerreira para somar nos grupos de ação social da Igreja Católica de Lapão. Com isso, ela participou voluntariamente da Pastoral da Criança, Promoção Humana e os grupos Galileu e Liturgia.  “Ela me incentivava a participar dos projetos” se recorda a amiga, Maria Alves. “As vezes falhava, estava sem disposição e não ia, quando isso acontecia era certo, Cilinha batia em minha casa e dizia: Coloca uma roupa, vai tomar banho porque você vai, existem muitas pessoas que hoje dependem de você. Assim, não sabia dizer não, e ao lado dela e da colega Maria Paiva percorríamos a cidade e povoados em busca de pessoas que estivessem necessitando de ajuda. Não tinha como ficar triste perto dela, porque ela era um exemplo, qualquer problema que ela tinha, ela deixava para trás e vivia o presente com um sorriso estampado no rosto. Quando ela ajudava alguém era como se seu espírito se renovasse”.

Com os grupos de evangelização e de ação social da Igreja, a guerreira da ação social fazia diversas campanhas de arrecadação e encaminhava mantimentos para os mais necessitados. Incontáveis famílias receberam de alguma forma seu auxílio, se eternizando no dia a dia, por fazer o bem. “Ela tomava a situação para ela, enfrentava o problema e metia a cara, como se toda a responsabilidade fosse dela”, diz a irmã Marileide.

No bairro Ida Cardozo, a amiga Maria Alves presenciou uma de suas ações que ficou registrada na sua memória. “Tinha uns gêmeos chamados Marcílio e Marcelo, ela os encontrou e comentou comigo: achei algo doloroso, a mãe abandou os filhos e quem toma conta é uma senhora doente. Chegamos lá, tinha duas crianças pequenas, em condições sub-humanas,  logo um deles nos pediu um pão e Cilinha começou a chorar . Ela comprou o que eles tinham pedido e levou o caso na Promoção Humana. O grupo disse que ia fazer uma visita e em alguns dias iria arrecadar os recursos para ajudar as crianças. Mas Cilinha não aguentava ver gente precisando, e ela questionava se está precisando hoje, como vai poder ficar esperando? Então ela saiu de porta em porta pedindo ajuda, pegou do dinheiro dela comprou umas telhas para consertar a casa dos meninos e foi levar os mantimentos, depois de um tempo a Promoção Humana fez uma campanha para fazer mais um cômodo na casa deles, mas Cilinha acompanhou esses garotos até ficarem grandes”.

 

Dia de São João Bastita

 

A saúde da guerreira começou a dar sinais de fragilidade. Ao participar de um cortejo fúnebre,  passou mal subindo a ladeira que dá acesso ao cemitério municipal, foi então que procurou um cardiologista para realizar uns exames. A notícia não foi boa, Cilinha tinha um escape em uma das válvulas do coração e necessitava passar por um procedimento cirúrgico.

Muito religiosa, Cilinha apostou na fé e não parou diante da enfermidade, tentando por diversas vezes continuar as obras sociais nos bairros. “Mesmo doente, ela andava pedindo coisas para os pobres e ocupava grande parte do tempo ajudando o outro. Nunca estava satisfeita pelo que estava fazendo, então sempre tentou cada vez mais fazer o bem e caminhar em busca da resolução dos problemas do outro. Isso ajudava a enfrentar a doença, mas muitas vezes não dava, mesmo querendo ir, percebia que ficava cansada e as vezes passava mal”, lembra a irmã Marileide.

Algumas amigas de Cilinha contam que a brincalhona colega sempre dizia que gostaria que sua morte acontecesse no mesmo dia da festa São João Batista, porque a cidade estaria em festa. Coincidência ou não, ao chegar no dia do padroeiro da cidade, em 23 de julho de 2009, seu quadro de saúde se agravou e após sofrer um enfarte, Cilinha foi levada ao hospital mas não resistiu, falecendo a caminho. “No dia que faleceu, mãe me disse: vá para missa em homenagem a São João Batista, eu não vou poder ir, mas você vai. Quando fui almoçar, ela disse que não estava passando bem e iria ao médico mais tarde. Mesmo não muito bem, mãe voltou a pedir para que fosse na procissão e na missa”, conta Clesciane.

Maria Alves recorda que estava na procissão quando escutou a notícia e mesmo após ter superado a morte da amiga, diz não esquecê-la por um instante. “Foi uma morte rápida e inesperada, pois mesmo debilitada não acreditávamos que isso fosse acontecer, Cilinha sempre se mostrou uma rocha. Senti muito com sua morte, éramos carne e unha. Mesmo após seu falecimento, nós da Promoção Humana nunca falamos que ela faleceu, porque toda vez que temos reuniões, sentimos a presença dela entre nós. Minha amiga e irmã, deixou uma história muito bela, que vai ficar para sempre na memória dos lapoenses”, conclui.

Sensibilizado com a história, o Prefeito de Lapão Hermenilson Carvalho homenageou Cilinha, nomeando o novo centro de ação social com o seu nome. O CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), vai oferecer orientação e acompanhamento psicossocial e jurídico  para pessoas em situação de ameaça ou violação de seus direitos por ocorrência de abandono, violência física, psicológica ou sexual. A irmã da homenageada, Zélia,  diz que a família ficou lisonjeada com o merecido tributo e afirmou: “Cilinha era uma mulher de boa índole, uma ótima filha, mãe e avó. Me recordo diariamente da minha irmã como uma mulher maravilhosa que por onde passou deixou sua marca fazendo caridade não só materialmente, mas com orações. Agora que o mestre Jesus a chamou para fazer a grande viagem, ela vai continuar a fazer o bem espiritualmente e será lembrada por todos com muita saudade”, conclui a irmã.

 

Daniel, o Futuka: Com a máscara, esqueço problemas e encarno a missão de fazer sorrir

Por Pedro Moraes

Munido de calças largas, maquiagem, fantasias e sapatos largos, lá vem o colorido e engraçado Palhaço Futuka, um soldado da alegria, que em cada cidade que visita luta para levar o sorriso e acender o brilho nos olhos das crianças.  Espantando a tristeza, o personagem interpretado pelo artista circense Daniel Henrique é aclamado pela molecada e garante, ao lado de outros artistas, casa lotada para o Circo Húngaro, que já percorreu diversos estados como a Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo e Ceará.

O artista de 21 anos nasceu em Maceió-AL e adquiriu ao longo da vida sensibilidade e habilidade para desempenhar diversas funções. O treinamento começou aos cinco anos, com o número mundialmente conhecido como “atirar facas”. Em seguida, aprendeu malabares e, aos 16 anos, começou a interpretar o palhaço Maluquinho, que se transformou posteriormente em Futuka. Daniel explica que “no circo, todo mundo acaba fazendo várias funções, cada um faz um pouco de tudo”. Ele mesmo, faz divulgação no carro de som, ajuda na portaria,  dança, faz malabares e  dublagens, porém, o que mais gosta é de interpretar o palhaço Futuka: “Amo a vida do circo, nunca pensei em largar, a identificação é total”, confessa.

Daniel Henrique nasceu no circo e herdou a tradição de uma família circense, iniciada há muitos anos pelo bisavô João, cigano de origem húngara, e a bisavó, que era turca. Atualmente, a família está espalhada no Brasil, fazendo espetáculos em 12 circos.

Atualmente viver de circo é possível’

Daniel: Não acreditam que sou palhaço

– Sou da quarta geração e percebo que atualmente viver de circo é possível. Antigamente, era muito difícil, tenho primos que não aguentaram e saíram dessa vida para fazer coisas tradicionais como medicina e direito. Antes, os espetáculos não eram valorizados,hoje temos apoio da Funart, que abre vários editais de fomento à cultura circense  e contamos com um público maravilhoso que valoriza nossa arte. Os circos já se encontram em outro patamar –  ele argumenta.

O Circo Húngaro tem um ano e meio de fundado. Antes, os artistas trabalhavam em outro circo da família, o Delibano. Porém, com o crescimento da família, a tendência natural foi expandir.

– Conseguimos trocar uma caminhonete por uma lona, no começo, não tínhamos iluminação e transporte. Me lembro que no primeiro dia de espetáculo não tínhamos dinheiro,  estávamos zerados e para completar o dia da estreia faltou energia; no outro, a cidade sofreu com chuva forte; e, no domingo, deu pouca gente. Porém, não nos abalamos. E, graças a Deus, na segunda-feira, lotou. Foi ali que nossa história pôde ser continuada. Hoje, temos um trabalho mais profissional, antes de ir para uma cidade analisamos como está o comércio, a agricultura, o clima, se o local teve festas recentemente e só assim providenciamos as documentações necessárias para nos instalar e começar a produção – conta.

Casado com a trapezista Tuanny, o palhaço mora com os pais e irmãos em casas sobre rodas, conhecidas como “moto-home”. A vida nômade considerada charmosa para alguns e  louca para outros, não traz grande problemas e com o suporte virtual da internet eles conseguem construir e cultivar relações fora do circo.

– Amigos mesmo que criamos é mais da família do circo. São 28 pessoas que nos acompanha para todos os locais. Mas, mesmo não criando raízes nas cidades, conseguimos cultivar amizades sólidas, conhecemos alguém nas cidades e temos de 10 a 15 dias de contato. Às vezes é pouco, porém mantemos o relacionamento via internet ou telefone.  Tenho quatro perfis lotados no Orkut, uso o Twitter e meu MSN tem aproximadamente 6 mil contatos e toda vez que voltamos para uma cidade sempre acontece um reencontro – diz Daniel.

Com a máscara esqueço meus problemas’

Com as crianças, interação total

Daniel é muito mais quieto que o Futuka. Em uma rápida conversa dá para perceber que são duas identidades opostas, com poucas semelhanças. “Quando falo que sou palhaço quase ninguém acredita, até porque muitas pessoas não entendem que lá é um personagem, algo que não sou. Apesar de não conseguir ser a mesma coisa do palco fora dele, quando boto a roupa, a maquiagem e entro no picadeiro tudo muda. Não sei o que acontece, é instantâneo faço palhaçada na mesma hora como se estivesse fazendo isso sem parar há mil anos. Com a máscara esqueço meus problemas, broto um sorriso e encarno a missão de fazer o outro sorrir”.

Aparentemente, não é só o artista que esquece os problemas. Olhando para esse lugar mágico chamado picadeiro, a plateia eufórica incorpora a fantasia das cores onde as palmas e gargalhadas imperam. Mas, o que acontece quando as cortinas se fecham? As brincadeiras adormecem na realidade e os personagens lavam os rostos, voltando a ser pessoas normais, com lágrimas, fragilidades e defeitos como qualquer outra pessoa.

É por isso que ele  não gosta de falar que é palhaço. Teme que as pessoas – e principalmente as crianças – se desencantem. Como já aconteceu, aliás. “Teve uma mãe que veio ao circo, para que o filho me conhecesse pessoalmente e quando ele me viu, começou a chorar dizendo que não era o Futuka, isso me comoveu bastante, coloquei o chapéu fiz umas brincadeiras,  mesmo assim ele não se convenceu muito. As crianças  têm uma imaginação fantástica, adoro a forma que elas me olham e interagem comigo. Digo que moro na lua e elas inocentemente me tocam achando que sou de mentira. É mágico, não quero estragar isso” – encerra o artista.

Texto: Pedro Moraes

Postado em: 16/06/2010 (revisado: 03/02/17)

 

Respeitado pela comunidade e por integrantes mais velhos da religião, o jovem Dijalma dos Santos, de 19 anos, ou simplesmente Dijalma de Ogum, líder do terreiro Ylê Axé Orixalá no bairro Ida Cardoso em Lapão, é reconhecido pelo programa do governo federal “Terreiros do Brasil” como o pai de santo mais jovem da Bahia. Dijalma que herdou os conhecimentos da avó dona Rosália, que tinha um terreiro em Lagoa do Gaudêncio, comunidade remanescente de quilombola, conheceu a religião ainda pequeno e logo sentiu a vocação para o candomblé. “Comecei zelar de santo (cuidar das imagens e do ambiente) com apenas sete anos, observava ela fazendo as obrigações dela no terreiro e sempre tive vontade. Três anos depois, com dez anos, minha avó parou e comecei a herdar as coisas dela,  meu tio jogou os búzios e os orixás me apontaram como o seu sucessor. Fiquei alguns meses me preparando e me tornei pai de santo. A primeira vez que incorporei foi muito forte, senti uma força que não sei de onde veio. Certa vez tentei parar, mas a força dos orixás foram maiores que a minha e sigo até hoje.” lembra Dijalma.

whatsapp-image-2017-01-30-at-16-32-56O terreiro é uma casa de Oxalá, com predominância da cor branca, com imagens, incensos e velas. O local tem as portas pintadas de azul, uma referência a Ogum, orixá guia de Dijalma. O local é frequentado por diversas faixas etárias, não e difícil ver crianças e adultos dividindo o mesmo local respeitando Dijalma como líder e conselheiro espiritual. “A relação é de pai. Muitos me chamam de padrinho. Temos filhos de santo nessa casa que vai dos 4 a 50 anos. Crianças ou adultos todos me respeitam. Muitas pessoas nos procuram em busca da paz, às vezes por falta de saúde e trabalho ou até desavenças sentimentais. Elas chegam para pedir conselhos e serem ouvidas, converso  muito com elas e fazemos orações. Algumas vezes indico uns banhos, com plantas da mata, morada de Oxossi. Os banhos com as folhas de Ossanha, trazem paz, força e afasta os espíritos ruins que estão por perto atrapalhando alguma coisa, muitos deles com apenas um banho já se sentem melhor.” Revela o pai de santo .

Social – O terreiro de Dijalma realiza frequentemente aulas com pessoas interessadas sobre a cultura negra, falando de ensinamentos do candomblé com as histórias dos orixás e os cânticos ajudando a preservar e imortalizar a cultura afrodescendente.  “Também ajudamos pessoas a se libertarem de vícios e de coisas ruins desse mundo, aqui mesmo veio um rapaz alcoólatra, ele com a mulher bebiam bastante deixando a família desestruturada. Ele veio aqui, conversamos muito e trabalhamos para resolver isso. Agora ele está aqui conosco e largou o vicio”.

whatsapp-image-2017-01-30-at-16-38-47

Preconceito – Apesar ser uma religião secular, o candomblé, assim como outras manifestações da cultura negra ainda recebem represarias e preconceitos por diversas pessoas.  Não seria diferente por aqui. Apesar de afirmar não se incomodar, o pai de santo Dijalma diz que até viatura policial esteve no terreiro. “Tinha uma senhora que dizia que fazíamos coisas para o diabo, chamou a polícia uma vez, mas ela nunca conseguiu fazer nada demais conosco. Existe muito preconceito, mas em nove anos de trabalho, percebo que já mudou muita coisa, não tenho vergonha de mostrar as pessoas minha religião que é bela e prega o bem. Cada um segue o caminho que Deus abriu para seguir, por isso respeito todos que seguem outras religiões”.

Contato: 074 9.9978-7743

A Câmara dos Deputados instalou nesta quarta-feira (26/05), a Comissão Especial encarregada de emitir parecer sobre a Proposta de Emenda Constitucional 386/09, a PEC dos Jornalistas. O prazo para emendas à PEC está aberto a partir desta quinta-feira. A expectativa é de que o parecer sobre a proposta seja apresentado no máximo até o dia 24 de junho.

A PEC 386/09, de autoria do deputado Paulo Pimenta (PT/RS), teve sua admissibilidade aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara em novembro de 2009. Desde este período a Frente Parlamentar em Defesa do Diploma, integrada por deputados e senadores de diversas siglas, esforça-se para acelerar a tramitação da matéria. No início de maio, em contato com o autor da PEC e com o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB/SP), comprometeu-se em acelerar a instalação da Comissão Especial.

Na reunião de instalação ocorrida na tarde desta quarta-feira, no plenário 14 da Câmara, foram definidos o presidente e os três vices da Comissão Especial, deputados Vic Pires (DEM/PA), Rebecca Garcia (PP/AM), Francisco Praciano (PT/AM) e Coubert Martins (PMDB/BA), respectivamente, como também o relator da matéria, o deputado Hugo Leal (PSC/RJ). Embora o relator tenha o prazo de até 40 sessões para emitir parecer sobre a matéria, um acordo de lideranças estabeleceu o prazo de 10 sessões para que isto ocorra. O relator pretende fazê-lo até o dia 24 de junho.

Com o prazo de emendas à PEC já aberto, cada parlamentar que desejar apresentar alguma proposta de alteração no texto original precisará do apoio de pelo menos 171 deputados. A Comissão Especial tem nova reunião agendada para o dia 1º de junho (próxima terça-feira), para traçar um plano de trabalho e aprovar requerimentos de audiências públicas sobre a exigência do diploma para o exercício profissional do Jornalismo.

FENAJ

Confiram a edição completa cliclando na imagem ou acessando o site: http://www.ketamoco.com.br


Por Pedro Moraes

Um inseto asiático, já radicado no Brasil, encontrou no clima quente e seco do semiárido baiano um ambiente propicio para sua reprodução. A Bemisia Argentifolii, conhecida popularmente como mosca branca, tem cor pálida, mede aproximadamente 2 mm e produz em condições favoráveis de 200 a 400 ovos por ciclo de vida que dura aproximadamente 19 dias. Por ter uma disseminação rápida, a superpopulação deste inseto têm assustado os moradores e agricultores da microrregião de Irecê. É o caso da estudante Ana Paula, 21, que afirma nunca tinha visto o inseto e ficou preocupada com a situação. “Ouvia falar nos jornais sobre ataques de mosca branca nas plantações, mas nunca tinha visto. Agora encontro elas dentro de casa, no quintal e em todos os lugares”. Especialistas na área esclarecem que apesar da desagradável presença, elas não geram riscos para a saúde humana, porém é uma vilã de peso para as plantações.

De acordo com o engenheiro agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Eduardo Dourado, a principal prejudicada com os malefícios da mosca branca, é um tipo de planta chamada cucurbitácea que engloba alguns frutos conhecidos em nossa culinária, como abóbora, melancia, melão e pepino. “Como dano direto, ela suga a seiva da planta, que seria um tipo de sangue do vegetal onde passa os nutrientes, assim, o vegetal fica debilitado. No tomate, por exemplo, a mosca injeta uma toxina que deixa o fruto esponjoso, semelhante a um isopor. Ela também coloca uma excreção preta que deprecia o valor comercial do produto”, explica Eduardo.

Os malefícios, no entanto, não param por ai. Eduardo Dourado, ainda afirma que o inseto traz danos indiretos para as lavouras, porque ele é um vetor de viroses que atinge outras culturas agrícolas, é o caso do vírus mosaico dourado, que chega a diminuir em 80% a produção do feijão e soja. No caso do tomate, um dos maiores prejudicados com o hospedeiro, a mosca branca deixa o geminivirus, que traz de 40% a 70% de percas no plantio. “Quando os vírus atacam as plantas quando estão pequenas, elas deixam de produzir, porque o crescimento é paralisado, quando atacam na planta adulta a produção tem quedas consideráveis”, diz Eduardo.

O engenheiro agrônomo da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Joiram Souza Mendes, esclarece que um dos motivos para que o inseto se multiplicasse no município é decorrente de um cultivo inadequado nas lavouras da região. “Os produtores plantam o tomate muito próximo um do outro e isso cria uma sombra, que favorece a multiplicação e dispersão da mosca branca. Presenciamos também o aumento da jardinagem dos parques e praças que auxiliam na multiplicação do inseto.”

Método de combate mais utilizado – A forma tradicional de combate dessa praga do campo é realizada com defensivos agrícolas, conhecido como agrotóxicos, contudo, Joiram Mendes alerta que “o uso incorreto do agrotóxico, pode piorar a situação e tem dificultado a ação dos inimigos naturais da mosca branca como os fungos que se alimentam dos ovos, das ninfas(mosca na fase jovem), da mosca adulta, e do bicho lixeiro”, um inseto predador que ataca uma variedades de pragas responsáveis por destruir as lavouras. Joiram, ainda comenta que as novas gerações da mosca branca estão ficando resistente a grande parte dos agrotóxicos.

Por estes motivos, Eduardo Dourado, afirma que a falta de capacitação dos agricultores e operários que manuseiam os agrotóxicos (aplicadores), também é um problema grave que precisa ser resolvido. “O ideal seria uma produção orgânica sem o uso desses defensivos, mas com a atual tecnologia, esse modelo agrícola não está pronto para produzir em grande escala, fazendo necessário o uso de defensivos. Porém, isso tem que ser feito de forma responsável, utilizando os agrotóxicos corretos para cada tipo de produção e capacitando os aplicadores para que eles utilizem os instrumentos de segurança e manipulem o defensivo corretamente para não contaminar o meio ambiente”, diz o engenheiro agrônomo.

Formas alternativas – Diversos métodos de cultivo podem ajudar no combate a mosca branca. Jairam indica que “as plantações devem ser realizadas com um espaçamento maior, quebrando a arquitetura de plantio. Desta forma, vai penetrar mais vento e sol, combatendo a mosca. Uma outra tática é plantar em época não favoráveis, no meses mais frios, por exemplo , com o clima desfavorável, o inseto ataca, mas não na proporção que tivemos no verão. O produtor também deve investir em espécies tecnicamente melhoradas, resistentes ao vírus propagado pelo inseto e ficar atento também com as ervas daninhas, e retirá-las constantemente, porque são locais que facilitam a reprodução”.

O engenheiro da EBDA, Eduardo Dourado, diz que uma alternativa utilizada em Goiás vem trazendo bons resultados e pode ser utilizada na região. “Eles têm um calendário de cultivo que segue por no máximo seis meses e o produtor não pode fazer um plantio escalonado por mais de 60 dias. Assim eles quebram o ciclo do inseto”.

Os especialistas orientam aos produtores que além dessas dicas de cultivo a eliminação dos resíduos da colheita são fundamentais para controlar a disseminação da praga. Eduardo Dourado explica que “quando acaba o ciclo do plantio muitos dejetos são deixados na lavoura e as ervas daninhas continuam vivas, e como o produtor deixa de realizar o controle químico a tendência é que o ambiente seja propicio para a disseminação do inseto, então aconselho os produtores a eliminar os restos da cultura, queimando assim que o ciclo de plantio finalizar.” Apesar de reconhecer a eficiência da técnica e defender a eliminação dos resíduos da  colheita, Joiram  afirma que não gosta da alternativa de queimar, “embora seja muito eficaz, ela não é ecologicamente correta, depois do cultivo, o produtor pode arar a terra e enterrar, assim ele acaba com a proliferação da mosca branca e ainda melhora o solo”.

“Sou Alfredo José Rosendo/Filho de Modesto e de dona Brisdinha/

Se eu não faço um poema melhor/É porque não frequentei a escolinha”

Por Pedro Moraes

As gotas geladas de uma suave garoa tocam suavemente na terra seca e árida, em um fim de tarde em que o chão quente do semiárido agradece aos céus pela benção de encontrar com sua fonte de energia, exalando assim, o cheiro de terra molhada, sinônimo de prosperidade na vida do sertanejo. O São João, árvore típica da biodiversidade local, abre suas flores, amarelas feito ouro, provando para quem duvidar que a beleza surge no improvável. Em torno deste cenário, que flerta entre o belo e a simplicidade, encontro seu Alfredo Rosendo, um lapoense de expressão forte, alto, de voz firme e corpo esguio, com 89 anos de histórias, causos e lições de vida. Em uma casa antiga, feita com as próprias mãos, “Seu Fredo” como é carinhosamente conhecido, mora em companhia de ilustres convidados: a música e poesia.

O cheiro do café passado na hora abre as portas para uma longa conversa sobre a vida, sonhos e a arte, despertada em 1985, quando seu município de origem, Lapão-BA, tentava se emancipar. Em versos simples, de um homem que nunca foi à escola, Fredo foi de encontro aos velhos coronéis da terra e declamou com garra e coragem a seguinte estrofe:

“Deixa de tanta promessa/ deixa de tanto esperar/ agora chegou a vez/ de Lapão emancipar. Lapão já foi muito atrasado/ só quem viu sabe contar / Só tinha duas escolas, mesmo assim particular/ Hoje, o Lapão já conta, no setor da educação / Com um dos melhores colégios da microrregião.  Lapão tem um povo hospitaleiro / Isso eu não nego / só faz muito fuxico na época da eleição / deixa de tanta promessa/ deixa de tanto esperar/ agora chegou a vez/ de Lapão emancipar”.

De acordo com Alfredo, na época, algumas famílias tradicionais reuniram 500 assinaturas em um manifesto contra a emancipação. “Eles alegavam que a cidade era a ponta da rua do município de Irecê, mas eles tinham interesses pessoais por trás disto, achei que não tava certo, porque Lapão já estava desenvolvida, foi então que tive a vontade de fazer meu primeiro verso e dei uma chicotada neles”.

‘Não tinha como estudar, e chorava’
Frequentar uma sala de aula foi o maior sonho do poeta sertanejo, porém os tempos difíceis da época de criança não deixaram sua aspiração virar realidade. Apesar de não poder ir à escola, sua vontade era maior que a maioria dos obstáculos. Com uma “banda” de toucinho de um porco gordo, doado pelo seu avô, foi para cidades vizinhas vender a mercadoria. Ao todo conseguiu 200 réis, dinheiro suficiente para comprar um livro ensinando a arte do ABC. “Quando meu avô trouxe o livro, só fui dormir quando aprendi a primeira carreira de letra, gravei até o ‘é’, depois fui tocando meus estudos para frente. Em quinze dias, já sabia ler. Meu avô morreu na grande crise de 32, e fomos trabalhar numa roça que só tinha onça e caititu. Lá, passei de inteligente e fiquei conhecido por fazer um cavaquinho com uma faca com apenas 12 anos, ficou tão bom que muitas pessoas quiseram comprar, acabei vendendo para comprar uma roupa bem bonita que fazia tempo que não tinha”.

Apesar do esforço, o garoto promissor ainda não sabia escrever até que a noiva do tio questionou: “Você já sabe fazer seu nome?” triste e envergonhado ele respondeu: “Não”. Foi então que a jovem segurou em sua mão e com um toco de madeira riscou o nome do menino para ele copiar. “Fiquei muito feliz, gravei aquilo e nunca vou me esquecer, saí correndo para mostrar a todos, mas muita gente não acreditou. Meus parentes só acreditaram de verdade quando a moça chegou e confirmou tudo. Sonhava tanto em aprender que quando ia comprar alguma coisa montado no lombo de um jumento, passava por perto da escola, amarrava o animal e ficava ouvindo eles aprenderem e passava a tarde toda. Quando chegava em casa minha mãe questionava você foi no Lapão ou no Japão?”, lembra o poeta.

Infelizmente, a vontade de aprender chocava com a dura realidade e o sonho de frequentar as salas de aula para se tornar “um homem letrado” se tornava cada vez mais distante. “Foi muita vontade, mas fiquei só na vontade. Minha mãe era viúva e tinha seis filhos, ela me dizia: ‘Vamos plantar um algodão se a lagarta não comer compro sua farda, e você vai para escola’, mas foram anos duros, a região passava por uma seca danada, sobrevivíamos com cuscuz de mucunam, que é um caroço vermelho e venenoso, mas colocávamos de molho, quebrava a casca e tirava uma folhazinha que tem dentro e moía. Então, realmente, não tinha como estudar e chorava que as lágrimas desciam. Fiz até um verso que é mais ou menos assim: Na idade de dez para onze anos / sorri pouco porque a coisa era muito feia / só comia um alimento que não era do mato / se fosse em casa alheia”.

“Hoje sei escrever um pouquinho e fazer umas continhas. Não leio cantando como um formado, mas graças a Deus, não sou cego”, ele diz. Mas, nem só de poesia se inspira Alfredo, o poeta sertanejo, que também “toca uns tonzinhos” para se divertir. “Comecei a tocar com 12 anos, na época que fiz o cavaquinho, via meu tio fazendo uns tons e fui aprendendo. Logo as pessoas me chamavam para bater uma sanfona e tocar violão, mas hoje é só para se divertir em casa. Toco umas músicas de igreja, uns sambinhas e uns sucessos de Amado Batista, Waldick Soriano, Vicente Celestino e Alvarenga e Ranchinho”.

Alfredo casou a primeira vez com 16 anos, teve dois filhos e ficou viúvo. Ainda jovem começou a labuta. Após a vida do campo, trabalhou durante 40 anos como barbeiro e marceneiro e conta orgulhoso que todo serviço era feito com prazer. “Gostava quando cortava o cabelo e o cliente exigia o corte e qualidade no serviço. Se fosse fazer um móvel, fazia com todo capricho, escolhia sempre uma madeira boa e buscava a perfeição. Fiz móveis que até hoje nunca descolaram uma placa. Ganhei fama por aqui, o povo comentava: ‘Esse é bom no machado’.”

Apesar de nunca ter lido um livro de poesia, os versos de Alfredo brotam com naturalidade. Com uma linguagem regional, rica em detalhes e lembranças de um povo sofrido e lutador, o poeta sonha em publicar seus versos, já impressos artesanalmente, feito cordel, e distribuído na cidade. Porém, esse almanaque vivo, simples, inocente e sábio, precisa de apoio para imortalizar suas lembranças, seja para falar de um sorriso de uma criança, uma gameleira ou de uma gruta, Alfredo deseja publicar um livro, e contribuir para deixar escrita na história a riqueza e a poesia do homem do campo.

CONTATO:

Telefone para recados: (074) 3657-1372

Mesmo com poucos recursos, o esporte nacional de influências africanas muda a vida de jovens em Lapão


Por Pedro Moraes

Vestidos de abadas brancos com um cordão colorido na cintura vêm chegando um exército da paz, munidos com um berimbau, atabaque, pandeiro, e no compasso das palmas, começam a cantar: O berimbau tá tocando / A roda tá se formando / O meu mestre tá chamando / Quero ver quem vai jogar / O berimbau /É um jogo de inteligência / Esse jogo tu tem que estudar / Ponto fraco, também ponto forte / Para o adversário você derrubar / Ô berimbau!”.  E assim, começa mais uma roda do grupo internacional de capoeira Jacobina Arte, em uma aula ministrada em praça pública, pelo professor Índio Brasil em Lapão.

Mudando Vidas: O professor Índio Brasil, vem desenvolvendo um trabalho interessante em Lapão. Com poucos recursos, porém com muita dedicação, ele implementa a arte nacional com influências africanas na cidade e essa ação vem mudando a vida de muitos jovens, oferecendo para cada um, conceitos sólidos de irmandade, disciplina e cultura regional. O estudante Raian do Nascimento, de 19 anos, conhecido como “Vagalume”, pratica capoeira há mais de cinco anos e afirma que a mãe não aceitava seu envolvimento com a capoeira. “Minha mãe achava que era algo violento, até conhecer a arte. Teve uma apresentação que ela assistiu e depois disto autorizou que aprendesse com meu irmão. Porém, ela começou a apoiar e incentivar, quando viu as mudanças que tivemos. Passamos a respeitar o outro, só vivíamos na rua. Hoje, dedico maior parte do meu tempo à academia. Meu irmão era um rebelde, discutia com minha mãe, bebia, fumava e brigava sempre na rua, depois da capoeira ele mudou bastante e hoje é uma outra pessoa”, relata Raian.

Aluno do mestre Índio, Denilton Santos de Almeida, 21 anos, é conhecido na região como “Instrutor Famoso”, e ensina a arte no povoado da Salgada em Lapão. Antes da capoeira, Denilton afirma que bebia pouco, mas passava a semana toda indo para bares com os amigos e levava a vida com poucas perspectivas.   Porém, foi no campo da ginga, da música e da baianidade da roda de capoeira que seu dia-a-dia se iluminou e ganhou sentido. “Sou reconhecido na região, pratico há cinco anos e pretendo continuar na arte até quando tiver forças. A capoeira me deu muito conhecimento, geral, não só da arte, mas ensinamentos de vida, como a relação de um com outro, o respeito e a união. Passo a semana treinando, não bebo, não fumo e dou aula a dez alunos no povoado que não tem condições de pagar, mas querem aprender e para mim é isso que vale. Aprendi esses valores com meu mestre”.

“Muitos garotos precisam de um apoio maior, tive alunos que usavam drogas, roubavam e eram indisciplinados em casa, mas com diálogo e a disciplina da capoeira, mostrei outros caminhos e isso ajudou bastante. Aprendi a ser amigo, pai, e líder deles, trato meus alunos da forma que eles precisam ser tratados, com carinho e respeito. Existe uma carência afetiva enorme, muitos têm problemas familiares e eles encontram em mim um referencial positivo. Por isso, escolho os mais rejeitados, os bem rebeldes e tento trazer para capoeira. Quero agrupar pessoas com necessidade de apoio e incentivar eles para mudarem de vida”, explica Índio.

Luta, dança ou arte? “Um pouco de tudo” responde índio, que faz questão de enfatizar que a capoeira não é inferior a nenhuma outra arte de combate. O grupo ensina capoeira mesclando o estilo regional com a angolana sem esquecer das belas acrobacias.  Também são ministradas aulas de dança, Maculelê e oficinas ensinando a tocar e fabricar instrumentos, como o berimbau.

Professor Índio Brasil ou Orlando José de Lima, nasceu em Manaíra, na Paraíba á 480 km de João Pessoa, chegou na microrregião no fim da década de 80 e despertou para a arte em 1995. “Chamei umas pessoas para jogar e começamos aprender com o Mestre dragão, ficamos uns seis meses com ele. Logo depois fui dar aula em Belo Campo, distrito de Lapão e em 13 de setembro de 2008 me tornei professor. Meu mestre agora é conhecido como Pit Bull e dá aulas na Grécia. Recentemente fiz uma música em homenagem a ele: E Pit Bull e Bamba! / Pit Bull e Bamba de Capoeira / E… Pit Bull entra na roda / E aquela animação e joga / com todo mundo e respeita meu irmão / E… eu sou Índio Brasil / Barravento quem falou / o meu mestre Pit Bull / foi ele que me formou”, canta o Professor Índio.

Falta de Apoio: Apesar da garra e de um trabalho consistente que trás resultados visíveis, o projeto carece de recursos e apoio para expandir. Atualmente a turma é composta por aproximadamente 30 jovens que pagam, em média, R$ 10,00 por mês. Porém, a grande maioria dos alunos não tem condições financeiras para custear o aprendizado. De acordo com o professor, ele consegue fechar um grupo com mais de 100 alunos em apenas cinco dias, pois não faltam pessoas interessadas para treinar. “Se tivesse algum patrocínio para me manter ou algum recurso para comprar pelo menos os abadas, reunia muitos jovens carentes. Mas preciso de apoio governamental ou da iniciativa privada para expandir esse projeto, dos alunos só quero o respeito, a disciplina, a dedicação e a vontade de treinar”.

O mestre Índio recebe esporadicamente uma ajuda de custo para se apresentar em outros municípios, e é reconhecido na região sendo convidado frequentemente para eventos em colégios e apresentações, contudo, além dos bons e velhos tapinhas nas costas atestando a qualidade do trabalho, um projeto precisa de recursos para se manter. Em 2008, o professor Índio demonstrou potencial, e com um patrocínio de apenas R$ 250,00, deu aula para 70 alunos gratuitamente.

“Sinto falta de um apoio aqui em Lapão, poderia está em outro estado, cidade ou até fora do Brasil, meu mestre sempre me convida e tem muitos capoeiristas que se dão bem fora ensinando a arte. Quando trabalhei em Goiânia, fui super bem recebido, ganhava uma quantia boa e deixei vários alunos, mas tenho um carinho especial pela ideia de ter um grupo de capoeira aqui. Não sei como sobrevivo, apenas sei que as coisas acontecem, tenho muitas dificuldades, elas são grandes, mas não quero parar, sempre que vou para outros locais, volto, porque minha cabeça tá aqui, minha ambição é pouca, apenas quero prosseguir trabalhando para ajudar pessoas, fazer uma obra e continuar sendo o mestre Índio Brasil de Lapão”, desabafa o mestre.

Ajude esse projeto, entre em contato com o mestre Índio : (74) 9970-2791

pedro moraes 1

Por Flávia Vasconcelos

Que a criatividade musical na Bahia é intensa, ninguém pode negar. Muitos ritmos desabrocharam de mentes inquietas, que não temem o novo, as experimentações e a mistura. E Pedro Moraes é uma dessas mentes baianas sempre efervescentes, faz parte de um grupo seleto de músicos soteropolitanos unindo refinamento e sabedoria musical à simplicidade de abrir-se a novas ideias, junto a novas gerações.

A música parece alcançar o seu íntimo como poucas coisas na vida. É como ele diz sobre o seu processo de produção “quando toco, nem pareço ser eu!”. Dono de uma sensibilidade ímpar, o músico possui uma sabedoria musical muito sólida, que vai desde a história da música em si e sua interferência na sociedade, até a prática, tocando música barroca, rock, tropicalismo, bossa nova, samba canção, além dos frevos que ecoam da guitarra baiana, seu preferido dentre os muitos instrumentos que sabe tocar. Sabe e tira deles o som que quiser e o que a imaginação pedir. Ele tem instinto musical.

Sempre apostando nas experimentações, foi um dos primeiros músicos a tocar na noite – ou nos bailes da vida, parafraseando Milton Nascimento – a música barroca, de um jeito bem particular e agradável ao seu eclético público. Arriscou-se também, nos anos 80, a tocar os clássicos dos Beatles no bandolim, como nenhum outro músico tinha feito até então. “A maioria dos músicos não arrisca por medo da crítica”, observa. “Eu chegava no barzinho, ali na Visconde de Itaboraí (bairro de Amaralina, orla de Salvador-BA), com o bandolim, e um outro músico trazendo o violão, e o pessoal falava: vai ter chorinho ou samba. E não tinha nada disso, era Beatles mesmo. E o público gostou.”, recorda.

Pedro começou a carreira em 1978, aos 16 anos, levando para os pequenos bares as fortes influências da Bossa Nova, os clássicos de Maysa, e, paralelo a isso, as músicas de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Novos Baianos. De perto, acompanhou Dodô e Osmar, toda a família Macedo e o pau elétrico, depois chamado de guitarra baiana, nos carnavais e nos ensaios, como um fã e admirador da habilidade e criatividade musical dos músicos que tinham reinventado o Carnaval baiano. Tornou-se, tempos depois, um exímio tocador de guitarra baiana e integrante do primeiro encontro, em 2007, do Grupo da Guitarra Baiana em Salvador.

A guitarra baiana e o Carnaval

A sua relação com a guitarra baiana rendeu boas histórias, inclusive com Aroldo Macedo, que chegou até ele de uma pedro moraesforma inusitada e o inseriu nesse ambiente, que ele diz ser muito saudável. “Se antes eu já tinha paixão pela guitarra baiana, hoje eu tenho muito mais, porque não se vê estrelismo entre os músicos.” Após descobrir que a afinação da guitarra baiana coincidia com o instrumento que já tocava, e ver Luiz Caldas e outros artistas tocarem no Trio Tapajós nos carnavais, e a Cor do Som tocando os frevos pernambucanos e as músicas clássicas de Mozart, Pedro resolveu experimentá-la e aprendeu a tocar o instrumento.

Em 2006, após adquirir um bandolim encomendado, e tocá-lo em alguns ensaios com amigos, Pedro recebe em casa uma ligação, numa tarde, de Aroldo Macedo, que se apresentou só como Aroldo, querendo saber um pouco mais sobre o bandolim. Pediu que tocasse o instrumento e, por telefone, Pedro tocou um trecho de uma música do próprio Aroldo, sem saber que o seu ouvinte era o compositor de fato. Depois de algumas músicas tocadas, segurando o telefone, Aroldo elogiou o que tinha ouvido e foi ai que Pedro reconheceu a voz. Querendo certificar-se de que a sua desconfiança era real, perguntou se o “tal” Aroldo tinha Macedo no nome e, após a confirmação, o nervosismo de fã veio à tona. Depois dessa conversa, marcaram um encontro, e Aroldo foi até a casa do fã, que tinha se transformado em parceiro, para ver o dito bandolim. Daí por diante, Pedro Moraes fez algumas apresentações com a família Macedo, a mesma que ele tanto admirava quando era folião e acompanhava atrás do trio elétrico.

Pedro Moraes e Aroldo MacedoO Carnaval passou a ficar ainda mais presente na vida do músico. Segundo ele, a festa tem estado bem mais profissional, e a guitarra baiana, símbolo da festa, tem retornado ao cenário musical com a ajuda da família Macedo, com Armandinho e Aroldo, e também de músicos da nova geração, como a banda Retrofoguetes, que, em seus shows pelo Brasil, sempre reserva um espaço para tocar o instrumento. E Pedro Moraes faz parte dessa comitiva pela redenção da guitarra baiana, sendo convidado para tocar em alguns shows.

Experiências musicais

Talvez a característica maior de Pedro Moraes seja a facilidade de experimentar vários estilos musicais. A sensibilidade e a intensidade com que faz seu trabalho permitem que ele perpasse por mundos diferentes. Um exemplo disso foi o período em que integrou um grupo de música árabe, tocando bandolim e, ocasionalmente, guitarra baiana. Saiu do grupo depois de quatro anos, mas continuou com essa vertente fazendo shows em eventos de dança do ventre e em teatros. Em 2008, fez apresentações no Teatro dos  Correios, no Teatro Anchieta e na Boomerangue, com a banda Retrofoguetes, acrescentando ao seu vasto repertório musical, e ao seu conhecimento sobre a história, o universo da música árabe. “De umas duas décadas pra cá, a forma de tocar música árabe mudou muito. Você ouve música eletrônica, salsa, tango e música francesa com levada de tambor árabe”, explica o músico.

Pedro Moares em show Tributo a Clara Nunes

Encantado com essa nova experiência, ele começou a compor, utilizando instrumentos de corda, como bandolim e a própria guitarra  baiana, misturando o árabe com o ritmo latino em músicas como Flor de Guadalupe e O Fio de Ariadne, usando como mote a importância da mulher na vida de um homem, e Dança das Fadas, nunca gravada, que simboliza sua própria sensação de ver, ao lado de determinadas bailarinas de dança do ventre, uma fada dançando. “Como se fosse um anjo da guarda”, complementa.

Para Pedro Moraes, estar compondo é “como se fosse conhecer um novo amor”. A música, para ele, preenche algumas lacunas na sua vida e tem sido uma companheira inseparável. Mesmo com uma vida tão misturada à música e tendo construído uma bagagem invejável de repertório e conhecimento musical, Pedro sempre teve outro trabalho em paralelo, na área financeira e contábil, sem qualquer relação com a arte, para apenas pagar as suas contas. Afinal, além de ser o Pedro sensível, que altera os seus sentidos e sublima quando compõe ou toca um instrumento, ele também é um cidadão que assume compromissos comuns, como qualquer outra pessoa. Porém, afastado do trabalho, Pedro Moraes tenta ser, por inteiro, realmente o que sempre foi: músico. E busca ainda mais se profissionalizar e divulgar o seu trabalho.

Atualmente, Pedro Moares se apresenta todas as quintas-feiras no bar Café & Cognac, no Rio Vermelho, às terças-feiras no Kebab, na Barra, além de fazer alguns trabalhos com a Escola Musical Center.

Contatos de Pedro Moraes:

Tel: (71) 9932-6161

E-mail: prlmoraes@hotmail.com

Myspace: http://www.myspace.com/pedromoraesmusico

Blog: www.pedromoraes.wordpress.com

Por Pedro Moraes

Em uma sala lotada, as luzes se abaixavam e uma voz suave e cadenciada anunciava: “Nesse horário está entrando no ar o sistema de som do Cine Lapão, hoje, vocês vão assistir o filme Paixão de um Homem, estrelado pelo cantor Waldick Soriano”.  Desta forma, Hélio Gomes, abria as seções do cinema da cidade, sem saber que estava entrando para história do município por ter propiciado para tantos o contato com a sétima arte, se tornando uma referência cultural viva na microrregião de Irecê.

Hélio Gomes nasceu em Canoão de Ibititá em 1938. Com 19 anos a irmã que morava em Brasília resolveu voltar para o semiárido e morar Lapão, foi então que Hélio resolveu acompanha-la com o objetivo de abrir um armarinho. O comércio durou alguns anos, até que comprou um bar do irmão e mudou de ramo. Porém, o ambiente não era o que ele gostaria de ficar. Relembrando a época, Hélio conta que fechou o bar e tentou uma nova profissão vendendo tecidos e rádios para os comerciantes locais. “Tentei ser vendedor mas esse serviço ainda não contemplava minha opção de vida, larguei tudo e entrei no ramo de fotografia. Fazia fotos de formaturas, casamentos e solenidades. Trabalhei uns três anos com uma máquina Yashica, até que um amigo de Piritiba, chamado Marotinho, arrendou um clube e fundou um cinema por lá”.

Nasce o cinema na cidade: O cinema do amigo despertou uma nova paixão para Hélio que rapidamente pegou com Marotinho os macetes da profissão e fundou em 68 no salão da Sociedade Cultural de Lapão, instituição que na época era o presidente, o Cine Columbia. “O espaço cabia 50 pessoas, a cidade não tinha energia elétrica, o projetor e as lâmpadas eram alimentadas por um motor a óleo diesel, mas dava para fazer uma seção por dia. Quem mais frequentavam eram as famílias e os casais de namorados, que gostavam de assistir filmes românticos e aproveitar o escurinho do cinema,” diz Hélio Gomes. Com o tempo, Hélio precisava de mais espaço, foi então que teve a ideia de mudar a sala para outro ambiente. O cine Columbia ficou em uma garagem ao lado do antigo bar e por quatro anos, apresentou grandes clássicos do cinema nacional, com atores consagrados como Mazzaropi, Tony Viana, Oscarito e Grande Otelo.

Sucesso de público: Em cinco de fevereiro de 75, o Cine Columbia se transformou em Cine Lapão e mudou para um novo prédio com capacidade para 250 pessoas. A reestreia do cinema lapoense foi marcada pelo filme Elvis é Assim. De acordo com Hélio Gomes, “a seção estava lotada, Elvis Presley estava no auge, ele era um sucesso. Nesse tempo, quando o filme era bom fazíamos até três seções, com o ingresso custando aproximadamente dois cruzeiros. O cinema deu lucro, foi onde fiz meu pé de meia,” relembra Hélio.

O cine Lapão passava películas de variados estilos, românticos, épicos, bíblicos, de terror e os famosos e populares filmes de “Bang-bang”(Western) e artes marciais. Hélio comenta que Love Story, Tarzan, Digo como te Amo, O Marginal e os Dois Gladiadores foram os filmes de maior bilheteria, porém não esquece de ressaltar que o público adorava as chanchadas com Oscarito, Grande Otelo e Mazzaropi. “O cinema nacional dava muito público. Lembro que filmes como Chumbo Quente com os cantores Léo Canhoto e Robertinho, Menino da Porteira com Sérgio Reis e Roberto Carlos em ritmo de Aventura eram garantia de sala lotada.”

Atualmente na microrregião de Irecê, não encontramos cinemas. Mas até começo da década de 80 o sucesso era evidente. Hélio era o responsável por distribuir os filmes nas cidades vizinhas, ele alugava as películas em Salvador, por 150 a 200 cruzeiros e cobrava para cada cinema da região de 20 a 50 cruzeiros por exibição. O sucesso era tamanho que o ator e diretor Tony Vieira passou por vários municípios, onde Hélio distribuía as películas, como em Jussara, Barra do Mendes, Cafarnaum, Uibaí e Presidente Dutra, para apresentar os filmes e criar um vínculo maior com o público.

Fim do Cinema: Após treze anos de sucesso no novo prédio, o Cine Lapão e diversos outros cinemas ganharam um adversário forte, o videocassete, uma tecnologia que gerou uma crise quase que irreversível para vários estabelecimentos do setor. Com a popularização do aparelho, os filmes saiam de cartaz nos cinemas e em poucos meses já estavam disponíveis para locação.  Além disso, as boates e casas noturnas nas cidades do interior se expandiam e o público dos cinemas ficava cada vez menor. “Todas as salas da região estavam sentindo na pele, tinha também um cinema em Barra do Mendes, esse resistiu menos e fechei. Várias distribuidoras de Salvador que nos passavam filmes em 16mm também não resistiram e estava ficando difícil até encontrar filmes nessa bitola”.

As salas começaram a ficar vazias, e não compensava mais alugar um rolo de filme para passar. O único gênero que ainda atraia grandes bilheterias eram os filmes pornôs. Foi então que Hélio decidiu investir em filmes mais caros e realizar intensas campanhas publicitárias. Porém, a estratégia não obteve sucesso. “Vinha tentando de todas as formas. Aluguei um filme caro, chamado Engraçadinha, esperava levantar a moral do cinema. Divulguei em jornais, no sistema de som, coloquei cartazes na cidade e infelizmente foi uma decepção. Só foram 13 pessoas. Fiquei tão injuriado com isso, porque era um filme romântico e histórico, com uma história muito boa e não deu público, mas quando passava filme pornô era casa cheia.  Gostava de projetar filmes instrutivos, que passassem uma mensagem, não era só lucro, tinha um cinema porque achava que estava evoluindo a cidade e ajudando a engrandecer a cultura local. Então com o fracasso deste filme encerrei a atividade do Cine Lapão em 13 de setembro de 88 e não tentei mais voltar com ele,” desabafa.

Com a decepção, ele saiu de Lapão e foi morar em Salvador. Chegando na cidade, abriu uma mercearia mas logo voltou para área, se tornando um dos gerentes da Orient Cinemas, atualmente uma das maiores distribuidoras de filmes do estado.  Hélio gerenciou as salas do Brotas Center, Center lapa, Cine Itaigara, Tamoio, Excelsior, Cine tupi e Cine Jandaia de Salvador. Anos mais tarde, voltou para Lapão, onde mora com sua esposa Evanilde, com quem é casado há 43 anos, ao lado do antigo cinema. “Sinto muita falta daquela época, além de ser apaixonado por cinema, meu desenvolvimento financeiro e cultural foi propiciado por ele. Não tenho como não sentir a falta. Quando entro naquele salão sinto muitas saudades de uma época que me trouxe felicidades, penso em reformar esse local e criar um espaço cultural, onde possa alugar para festas e fazer umas seções de filmes. Tem muitos jovens na cidade com ideais de teatro e outras artes e que não tem um ponto de sustentação, esse salão vai ser esse espaço” promete Hélio Gomes.


Cadeiras quebradas, falta de ventilação, bancos sujos, transporte de mercadorias, atraso nos horários, atendimento desqualificado e falta de assentos preferenciais para idosos e gestantes são apenas alguns dos problemas levantados pela população ao se referir aos ônibus, da empresa Saturnino Turismo, quem fazem a ligação entre os municípios de Lapão a Irecê. A empresa contesta as denúncias e diz fazer o possível para prestar um serviço qualificado. Diante do impasse, cabe aos órgãos competentes verificar a situação e identificar as possíveis soluções.

O estudante João Lucas Dourado é incisivo e afirma: “os ônibus são sujos, as cadeiras ficam empoeiradas, eles precisam de uma limpeza constante, a empresa tem como obrigação limpar o transporte sempre que ele estiver sujo, porque os usuários não são obrigados a aturar mau cheiro, sujeira e viajar em veículos inadequados. A empresa também deve ter a consciência que o ônibus foi feito para levar passageiro e não mercadorias, bicicletas e grandes volumes. Às vezes fica tão carregado que é difícil até para andar”.  O proprietário da empresa, Carlos Vilela da Silva, conhecido como “Carlinhos”, contesta a reclamação de Lucas e alega que a sujeira é inevitável. “Admitimos que muitos ônibus seguem para Irecê sujos. Mas visitamos vários povoados, como Patos, Queimadas, Rodagem, o acesso é feito em estradas de chão. Não tem como ficar sempre limpo, lavamos nossos veículos diariamente, mas precisamos da ajuda da população para não jogar lixo dentro do veículo. Sobre as cargas, muitas pessoas compram sua feira  ou uma mercadoria e não tem condições financeiras para levar de outra forma. A única alternativa delas é nosso veículo”.

Joana da silva, agricultora da comunidade de Lajedo do Pau d’arco, utiliza os ônibus da Saturnino Turismo com freqüência e gosta do serviço prestado, porém sugere a empresa que qualifique melhor seus funcionários para agregar qualidade ao serviço, “têm muitos cobradores e motoristas sem educação que tratam mau as pessoas. Quando pego o ônibus no povoado ele vem cheio de terra e o funcionário não passa um pano nos bancos pelo menos, todo mundo fica sujo”.

Apesar da empresa alegar ter feito uma reforma generalizada nos veículos em agosto, o agricultor  Edson Ferreira, de Aguada Nova, diz que sempre encontra cadeiras quebradas “que passam dias para serem concertadas”. A mesma informação vem da estudante Flaviane Oliveira, que comenta: “você senta na cadeira e o assento fica deslizando, já virou até uma brincadeira para minha filha (risos)”. Carlos Vilela informa que sempre reforma as cadeiras quando o fato é identificado, porém, reconhece que os estofados do micro-ônibus está rasgado há algum tempo. “É um material caro e sempre que reformamos em pouco tempo volta a estragar, algumas pessoas vão para a lotação com este intuito, muitos usam a cabeceia do banco para sentar e quando vamos reclamar recebemos xingamentos e revolta”.

O agricultor Edinei Ferreira, considera que os ônibus passam por uma boa manutenção, porém identifica outro problema.  “Nos horários que utiliza o transporte, o veículo está sempre lotado, além disso, presencio constantemente uma falta de respeito com os idosos, não tem lugar reservado para eles e vejo vários em pé”, o agricultor ainda comenta que a insatisfação é tão grande que sente vontade de descer do ônibus, “só não desço porque geralmente estou na pista”, desabafa Edinei. A empresa admite que essa é uma falha,  e segundo Carlos Vilela, em breve os ônibus da Saturnino vão ter os devidos locais marcados e reservados para idosos, gestantes e deficientes como obriga a lei.

Na manhã do dia 14, deste mês, encontrei com uma senhora, que preferiu não se identificar, de 70 anos, ela comentou que paga a passagem sempre que usa o serviço, “não tenho opção, eles cobram não tenho cara para dizer não, mas alguém tinha que tomar providência porque nosso dinheiro já é pouquinho”, ressalta a aposentada. Vale lembrar, que a ação da empresa vai de encontro a lei federal (10.741), de 2003 e a estadual (9.013) de 2004, que garante “aos idosos nos veículos de transporte coletivo intermunicipal e estadual a reserva de duas vagas gratuitas por veículos e o desconto de 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, no valor das passagens que excedam as vagas gratuitas”; e a gratuidade nos transportes coletivos urbanos e semi-urbanos”.

Carlos Vilela, tenta se justificar, afirmando que os idosos pagam o transporte porque o município e o governo do estado não realizaram essa uma parceria com a empresa. “Temos um trabalho social que oferecemos gratuitamente passe de idoso para algumas pessoas, porém o idoso é nosso principal cliente, se a empresa levasse todos gratuitamente quem pagaria nossos custos?”, questiona o diretor da empresa.

Pedro Moraes

Irecê caminha em passos firmes para se transformar em um polo de produção audiovisual. Após o lançamento de diversos curtas-metragens como Patuá, Rodagem, A Natureza Responde, A Fruta e a Fruteira, Amuleto e O Fantasma do Lixo, na próxima segunda(14) começam as gravações do romance “De Amante”, dirigido pelo estreante diretor Sólon Barretto. O curta será filmado nos municípios de Irecê e Mucugê na chapada diamantina e irá contar a história de duas crianças, André e Ritinha, que se apaixonam no decorrer da trama e que ao encontrar um diamante se separam bruscamente.  Anos mais tarde, acontece o reencontro, porém, a história toma um rumo inusitado.

O filme fala sobre ambição, amor e jogo interesses, ingredientes esses, que serão explorados por uma equipe de 18 pessoas, dirigidas por Sólon Barretto (direção e roteiro), Alexander Barretto (assistente de direção) e Renato Sampaio (produção executiva). De Amante, terá no elenco composto por alunos de teatro e atores já experientes, como Péricles Barretto, Jonny Hebert e Ítalo Johmar do curta Patuá e Bárbara Martins  que fez recentemente A fruta e a fruteira.

“Despertei para o cinema com a chegada de Sandoval a Irecê, antes pensei em dirigir uma comédia, mas achei que poderia ser uma estreia complicada, então escolhi um romance, por até o cenário da chapada me ajuda. Vamos passar quatro dias em Mucugê e três filmando em Irecê, quero estrear esse curta em março”, diz Sólon.

Nascido em Salvador, o ator é formado em artes plásticas com extensão em teatro e Pós graduado em metodologia do ensino da arte. Veio morar na região de Irecê, há 12 anos, e trabalha, desde então, como professor na Fundação Bradesco. Sólon é fundador e diretor da Cia. Teatral Cara-de-pau e diretor da Cia. Trup de Trapos. Como ator de teatro, já apresentou diversos espetáculos na região, dentre outros, o Alto da Compadecida, Bate Papos, Chá das Cinco, Dois a Dois e Sou Professor e daí? No cinema, participou do filme Patuá, como ator e diretor de elenco e foi protagonista do novo curta de Sandoval, Minha vida não cabe no outdoor, que será lançado em janeiro.

Pedro Moraes

Pedagogia ou Engenharia? Talvez Direito… ou até Medicina. Vou para Salvador? Campina Grande? Ou continuo aqui? Diante de tantas possibilidades ou da inexistência delas, um dos grandes dilemas dos jovens que acabam o ensino médio é a difícil missão de escolher qual rumo oferecer para sua vida. Especialistas aconselham que não adianta pressa.

Para a aluna Rafaela Dourado, que acaba de concluir o ensino médio no colégio EdiMaster, a situação fugiu dos limites: “tive uma dúvida enorme, fiquei desesperada, chorei, me senti triste procurei até uma psicóloga. Não sabia o que fazer. Era como se nenhum curso tivesse haver comigo. Resolvi relaxar e fazer direito igual ao meu pai, se não me identificar com a área, faço outro curso depois”.

Professor Sérgio Luis

O professor Sérgio Luís, coordenador pedagógico e professor do Curso Pré Vestibular da UNEB em Lapão comenta que casos desses acontecem porque geralmente os alunos nessa faixa etária “não têm a maturidade de escolha necessária, até porque, não existem no currículo escolar disciplinas que estimulem a parte vocacional. Sempre aconselho a ter calma e decidir a opção com serenidade. Realize estudos prévios sobre as opções de curso, e escolha o seu sonho, esse é o segredo”, orienta Sérgio.

Mesmo com a opção definida, a estudante Louise Almeida sofreu com a ansiedade. A jovem garota de 16 anos, ao fazer o ENEM, relata que só conseguiu entregar a prova nos últimos minutos, porque com o nervosismo, ela perdeu muito tempo. “Quero pegar o resultado da prova e tentar engenharia em Salvador. Pensei na UNIFACS, mas estava tão agoniada na hora da prova que não sei se tive a pontuação necessária. Errei algumas coisas que sabia a resposta”. Para o professor, uma dica importante para solucionar essa problemática é desenvolver uma rotina de atividades como “resolver constantemente simulados, responder questões de vestibulares e fazer provas como a do ENEM. Isso é importante, porque oferece experiência, ameniza a ansiedade e o aluno se sente mais seguro”, diz o professor.

Com os altos índices de desemprego, muitos jovens transferiram o sonho de cursar uma universidade para conquistar um emprego bem remunerado e estável, é o caso de Eliane Martins, do Colégio Modelo, que já fez sua escolha. “Pretendo fazer concurso. Vestibular só se aparecer oportunidade, mas ainda estou em dúvida do curso. Prefiro fazer concurso porque o emprego é garantido e acho que assim dá pra conhecer melhor uma área e aí depois é só se especializar nela,” diz Eliane. Já o estudante Marcelo Lopes,  diz que inicialmente pretende “ingressar no mercado de trabalho durante seis meses e depois prestar vestibular para medicina. Eu sou muito ambicioso quando se trata de estudo, quero estudar para ter um bom emprego e um bom salário”.

Apesar da ansiedade, mercado de trabalho e indecisão, o professor Sérgio Luís, alerta que o principal problema é que existe uma carência de sonhos nos estudantes, de acordo com ele, “muitas famílias ainda não têm essa cultura do vestibular, elas acreditam que quando acaba a oitava série eles já estão formados e não incentivam a busca dos filhos. Também a falta de estrutura nos colégios ajudam, como a falta de professores, aulas vagas, principalmente na área de exatas, como física e química e a falta do estímulo de alguns professores que não incentivam os alunos a buscarem um vestibular. Por esses motivos muitos me questionam: para que vou estudar se vou para roça? Se encontramos tantos com anéis de formatura na roça? É triste mas muitos alunos não tem o sonho do vestibular enraizado. Mas isso está mudando, tenho alunos que saem  dos povoados para estudar no cursinho e não faltam um dia”.

Pedro Moraes