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Por Pedro Moraes

Um inseto asiático, já radicado no Brasil, encontrou no clima quente e seco do semiárido baiano um ambiente propicio para sua reprodução. A Bemisia Argentifolii, conhecida popularmente como mosca branca, tem cor pálida, mede aproximadamente 2 mm e produz em condições favoráveis de 200 a 400 ovos por ciclo de vida que dura aproximadamente 19 dias. Por ter uma disseminação rápida, a superpopulação deste inseto têm assustado os moradores e agricultores da microrregião de Irecê. É o caso da estudante Ana Paula, 21, que afirma nunca tinha visto o inseto e ficou preocupada com a situação. “Ouvia falar nos jornais sobre ataques de mosca branca nas plantações, mas nunca tinha visto. Agora encontro elas dentro de casa, no quintal e em todos os lugares”. Especialistas na área esclarecem que apesar da desagradável presença, elas não geram riscos para a saúde humana, porém é uma vilã de peso para as plantações.

De acordo com o engenheiro agrônomo da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Eduardo Dourado, a principal prejudicada com os malefícios da mosca branca, é um tipo de planta chamada cucurbitácea que engloba alguns frutos conhecidos em nossa culinária, como abóbora, melancia, melão e pepino. “Como dano direto, ela suga a seiva da planta, que seria um tipo de sangue do vegetal onde passa os nutrientes, assim, o vegetal fica debilitado. No tomate, por exemplo, a mosca injeta uma toxina que deixa o fruto esponjoso, semelhante a um isopor. Ela também coloca uma excreção preta que deprecia o valor comercial do produto”, explica Eduardo.

Os malefícios, no entanto, não param por ai. Eduardo Dourado, ainda afirma que o inseto traz danos indiretos para as lavouras, porque ele é um vetor de viroses que atinge outras culturas agrícolas, é o caso do vírus mosaico dourado, que chega a diminuir em 80% a produção do feijão e soja. No caso do tomate, um dos maiores prejudicados com o hospedeiro, a mosca branca deixa o geminivirus, que traz de 40% a 70% de percas no plantio. “Quando os vírus atacam as plantas quando estão pequenas, elas deixam de produzir, porque o crescimento é paralisado, quando atacam na planta adulta a produção tem quedas consideráveis”, diz Eduardo.

O engenheiro agrônomo da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Joiram Souza Mendes, esclarece que um dos motivos para que o inseto se multiplicasse no município é decorrente de um cultivo inadequado nas lavouras da região. “Os produtores plantam o tomate muito próximo um do outro e isso cria uma sombra, que favorece a multiplicação e dispersão da mosca branca. Presenciamos também o aumento da jardinagem dos parques e praças que auxiliam na multiplicação do inseto.”

Método de combate mais utilizado – A forma tradicional de combate dessa praga do campo é realizada com defensivos agrícolas, conhecido como agrotóxicos, contudo, Joiram Mendes alerta que “o uso incorreto do agrotóxico, pode piorar a situação e tem dificultado a ação dos inimigos naturais da mosca branca como os fungos que se alimentam dos ovos, das ninfas(mosca na fase jovem), da mosca adulta, e do bicho lixeiro”, um inseto predador que ataca uma variedades de pragas responsáveis por destruir as lavouras. Joiram, ainda comenta que as novas gerações da mosca branca estão ficando resistente a grande parte dos agrotóxicos.

Por estes motivos, Eduardo Dourado, afirma que a falta de capacitação dos agricultores e operários que manuseiam os agrotóxicos (aplicadores), também é um problema grave que precisa ser resolvido. “O ideal seria uma produção orgânica sem o uso desses defensivos, mas com a atual tecnologia, esse modelo agrícola não está pronto para produzir em grande escala, fazendo necessário o uso de defensivos. Porém, isso tem que ser feito de forma responsável, utilizando os agrotóxicos corretos para cada tipo de produção e capacitando os aplicadores para que eles utilizem os instrumentos de segurança e manipulem o defensivo corretamente para não contaminar o meio ambiente”, diz o engenheiro agrônomo.

Formas alternativas – Diversos métodos de cultivo podem ajudar no combate a mosca branca. Jairam indica que “as plantações devem ser realizadas com um espaçamento maior, quebrando a arquitetura de plantio. Desta forma, vai penetrar mais vento e sol, combatendo a mosca. Uma outra tática é plantar em época não favoráveis, no meses mais frios, por exemplo , com o clima desfavorável, o inseto ataca, mas não na proporção que tivemos no verão. O produtor também deve investir em espécies tecnicamente melhoradas, resistentes ao vírus propagado pelo inseto e ficar atento também com as ervas daninhas, e retirá-las constantemente, porque são locais que facilitam a reprodução”.

O engenheiro da EBDA, Eduardo Dourado, diz que uma alternativa utilizada em Goiás vem trazendo bons resultados e pode ser utilizada na região. “Eles têm um calendário de cultivo que segue por no máximo seis meses e o produtor não pode fazer um plantio escalonado por mais de 60 dias. Assim eles quebram o ciclo do inseto”.

Os especialistas orientam aos produtores que além dessas dicas de cultivo a eliminação dos resíduos da colheita são fundamentais para controlar a disseminação da praga. Eduardo Dourado explica que “quando acaba o ciclo do plantio muitos dejetos são deixados na lavoura e as ervas daninhas continuam vivas, e como o produtor deixa de realizar o controle químico a tendência é que o ambiente seja propicio para a disseminação do inseto, então aconselho os produtores a eliminar os restos da cultura, queimando assim que o ciclo de plantio finalizar.” Apesar de reconhecer a eficiência da técnica e defender a eliminação dos resíduos da  colheita, Joiram  afirma que não gosta da alternativa de queimar, “embora seja muito eficaz, ela não é ecologicamente correta, depois do cultivo, o produtor pode arar a terra e enterrar, assim ele acaba com a proliferação da mosca branca e ainda melhora o solo”.

“Sou Alfredo José Rosendo/Filho de Modesto e de dona Brisdinha/

Se eu não faço um poema melhor/É porque não frequentei a escolinha”

Por Pedro Moraes

As gotas geladas de uma suave garoa tocam suavemente na terra seca e árida, em um fim de tarde em que o chão quente do semiárido agradece aos céus pela benção de encontrar com sua fonte de energia, exalando assim, o cheiro de terra molhada, sinônimo de prosperidade na vida do sertanejo. O São João, árvore típica da biodiversidade local, abre suas flores, amarelas feito ouro, provando para quem duvidar que a beleza surge no improvável. Em torno deste cenário, que flerta entre o belo e a simplicidade, encontro seu Alfredo Rosendo, um lapoense de expressão forte, alto, de voz firme e corpo esguio, com 89 anos de histórias, causos e lições de vida. Em uma casa antiga, feita com as próprias mãos, “Seu Fredo” como é carinhosamente conhecido, mora em companhia de ilustres convidados: a música e poesia.

O cheiro do café passado na hora abre as portas para uma longa conversa sobre a vida, sonhos e a arte, despertada em 1985, quando seu município de origem, Lapão-BA, tentava se emancipar. Em versos simples, de um homem que nunca foi à escola, Fredo foi de encontro aos velhos coronéis da terra e declamou com garra e coragem a seguinte estrofe:

“Deixa de tanta promessa/ deixa de tanto esperar/ agora chegou a vez/ de Lapão emancipar. Lapão já foi muito atrasado/ só quem viu sabe contar / Só tinha duas escolas, mesmo assim particular/ Hoje, o Lapão já conta, no setor da educação / Com um dos melhores colégios da microrregião.  Lapão tem um povo hospitaleiro / Isso eu não nego / só faz muito fuxico na época da eleição / deixa de tanta promessa/ deixa de tanto esperar/ agora chegou a vez/ de Lapão emancipar”.

De acordo com Alfredo, na época, algumas famílias tradicionais reuniram 500 assinaturas em um manifesto contra a emancipação. “Eles alegavam que a cidade era a ponta da rua do município de Irecê, mas eles tinham interesses pessoais por trás disto, achei que não tava certo, porque Lapão já estava desenvolvida, foi então que tive a vontade de fazer meu primeiro verso e dei uma chicotada neles”.

‘Não tinha como estudar, e chorava’
Frequentar uma sala de aula foi o maior sonho do poeta sertanejo, porém os tempos difíceis da época de criança não deixaram sua aspiração virar realidade. Apesar de não poder ir à escola, sua vontade era maior que a maioria dos obstáculos. Com uma “banda” de toucinho de um porco gordo, doado pelo seu avô, foi para cidades vizinhas vender a mercadoria. Ao todo conseguiu 200 réis, dinheiro suficiente para comprar um livro ensinando a arte do ABC. “Quando meu avô trouxe o livro, só fui dormir quando aprendi a primeira carreira de letra, gravei até o ‘é’, depois fui tocando meus estudos para frente. Em quinze dias, já sabia ler. Meu avô morreu na grande crise de 32, e fomos trabalhar numa roça que só tinha onça e caititu. Lá, passei de inteligente e fiquei conhecido por fazer um cavaquinho com uma faca com apenas 12 anos, ficou tão bom que muitas pessoas quiseram comprar, acabei vendendo para comprar uma roupa bem bonita que fazia tempo que não tinha”.

Apesar do esforço, o garoto promissor ainda não sabia escrever até que a noiva do tio questionou: “Você já sabe fazer seu nome?” triste e envergonhado ele respondeu: “Não”. Foi então que a jovem segurou em sua mão e com um toco de madeira riscou o nome do menino para ele copiar. “Fiquei muito feliz, gravei aquilo e nunca vou me esquecer, saí correndo para mostrar a todos, mas muita gente não acreditou. Meus parentes só acreditaram de verdade quando a moça chegou e confirmou tudo. Sonhava tanto em aprender que quando ia comprar alguma coisa montado no lombo de um jumento, passava por perto da escola, amarrava o animal e ficava ouvindo eles aprenderem e passava a tarde toda. Quando chegava em casa minha mãe questionava você foi no Lapão ou no Japão?”, lembra o poeta.

Infelizmente, a vontade de aprender chocava com a dura realidade e o sonho de frequentar as salas de aula para se tornar “um homem letrado” se tornava cada vez mais distante. “Foi muita vontade, mas fiquei só na vontade. Minha mãe era viúva e tinha seis filhos, ela me dizia: ‘Vamos plantar um algodão se a lagarta não comer compro sua farda, e você vai para escola’, mas foram anos duros, a região passava por uma seca danada, sobrevivíamos com cuscuz de mucunam, que é um caroço vermelho e venenoso, mas colocávamos de molho, quebrava a casca e tirava uma folhazinha que tem dentro e moía. Então, realmente, não tinha como estudar e chorava que as lágrimas desciam. Fiz até um verso que é mais ou menos assim: Na idade de dez para onze anos / sorri pouco porque a coisa era muito feia / só comia um alimento que não era do mato / se fosse em casa alheia”.

“Hoje sei escrever um pouquinho e fazer umas continhas. Não leio cantando como um formado, mas graças a Deus, não sou cego”, ele diz. Mas, nem só de poesia se inspira Alfredo, o poeta sertanejo, que também “toca uns tonzinhos” para se divertir. “Comecei a tocar com 12 anos, na época que fiz o cavaquinho, via meu tio fazendo uns tons e fui aprendendo. Logo as pessoas me chamavam para bater uma sanfona e tocar violão, mas hoje é só para se divertir em casa. Toco umas músicas de igreja, uns sambinhas e uns sucessos de Amado Batista, Waldick Soriano, Vicente Celestino e Alvarenga e Ranchinho”.

Alfredo casou a primeira vez com 16 anos, teve dois filhos e ficou viúvo. Ainda jovem começou a labuta. Após a vida do campo, trabalhou durante 40 anos como barbeiro e marceneiro e conta orgulhoso que todo serviço era feito com prazer. “Gostava quando cortava o cabelo e o cliente exigia o corte e qualidade no serviço. Se fosse fazer um móvel, fazia com todo capricho, escolhia sempre uma madeira boa e buscava a perfeição. Fiz móveis que até hoje nunca descolaram uma placa. Ganhei fama por aqui, o povo comentava: ‘Esse é bom no machado’.”

Apesar de nunca ter lido um livro de poesia, os versos de Alfredo brotam com naturalidade. Com uma linguagem regional, rica em detalhes e lembranças de um povo sofrido e lutador, o poeta sonha em publicar seus versos, já impressos artesanalmente, feito cordel, e distribuído na cidade. Porém, esse almanaque vivo, simples, inocente e sábio, precisa de apoio para imortalizar suas lembranças, seja para falar de um sorriso de uma criança, uma gameleira ou de uma gruta, Alfredo deseja publicar um livro, e contribuir para deixar escrita na história a riqueza e a poesia do homem do campo.

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Cadeiras quebradas, falta de ventilação, bancos sujos, transporte de mercadorias, atraso nos horários, atendimento desqualificado e falta de assentos preferenciais para idosos e gestantes são apenas alguns dos problemas levantados pela população ao se referir aos ônibus, da empresa Saturnino Turismo, quem fazem a ligação entre os municípios de Lapão a Irecê. A empresa contesta as denúncias e diz fazer o possível para prestar um serviço qualificado. Diante do impasse, cabe aos órgãos competentes verificar a situação e identificar as possíveis soluções.

O estudante João Lucas Dourado é incisivo e afirma: “os ônibus são sujos, as cadeiras ficam empoeiradas, eles precisam de uma limpeza constante, a empresa tem como obrigação limpar o transporte sempre que ele estiver sujo, porque os usuários não são obrigados a aturar mau cheiro, sujeira e viajar em veículos inadequados. A empresa também deve ter a consciência que o ônibus foi feito para levar passageiro e não mercadorias, bicicletas e grandes volumes. Às vezes fica tão carregado que é difícil até para andar”.  O proprietário da empresa, Carlos Vilela da Silva, conhecido como “Carlinhos”, contesta a reclamação de Lucas e alega que a sujeira é inevitável. “Admitimos que muitos ônibus seguem para Irecê sujos. Mas visitamos vários povoados, como Patos, Queimadas, Rodagem, o acesso é feito em estradas de chão. Não tem como ficar sempre limpo, lavamos nossos veículos diariamente, mas precisamos da ajuda da população para não jogar lixo dentro do veículo. Sobre as cargas, muitas pessoas compram sua feira  ou uma mercadoria e não tem condições financeiras para levar de outra forma. A única alternativa delas é nosso veículo”.

Joana da silva, agricultora da comunidade de Lajedo do Pau d’arco, utiliza os ônibus da Saturnino Turismo com freqüência e gosta do serviço prestado, porém sugere a empresa que qualifique melhor seus funcionários para agregar qualidade ao serviço, “têm muitos cobradores e motoristas sem educação que tratam mau as pessoas. Quando pego o ônibus no povoado ele vem cheio de terra e o funcionário não passa um pano nos bancos pelo menos, todo mundo fica sujo”.

Apesar da empresa alegar ter feito uma reforma generalizada nos veículos em agosto, o agricultor  Edson Ferreira, de Aguada Nova, diz que sempre encontra cadeiras quebradas “que passam dias para serem concertadas”. A mesma informação vem da estudante Flaviane Oliveira, que comenta: “você senta na cadeira e o assento fica deslizando, já virou até uma brincadeira para minha filha (risos)”. Carlos Vilela informa que sempre reforma as cadeiras quando o fato é identificado, porém, reconhece que os estofados do micro-ônibus está rasgado há algum tempo. “É um material caro e sempre que reformamos em pouco tempo volta a estragar, algumas pessoas vão para a lotação com este intuito, muitos usam a cabeceia do banco para sentar e quando vamos reclamar recebemos xingamentos e revolta”.

O agricultor Edinei Ferreira, considera que os ônibus passam por uma boa manutenção, porém identifica outro problema.  “Nos horários que utiliza o transporte, o veículo está sempre lotado, além disso, presencio constantemente uma falta de respeito com os idosos, não tem lugar reservado para eles e vejo vários em pé”, o agricultor ainda comenta que a insatisfação é tão grande que sente vontade de descer do ônibus, “só não desço porque geralmente estou na pista”, desabafa Edinei. A empresa admite que essa é uma falha,  e segundo Carlos Vilela, em breve os ônibus da Saturnino vão ter os devidos locais marcados e reservados para idosos, gestantes e deficientes como obriga a lei.

Na manhã do dia 14, deste mês, encontrei com uma senhora, que preferiu não se identificar, de 70 anos, ela comentou que paga a passagem sempre que usa o serviço, “não tenho opção, eles cobram não tenho cara para dizer não, mas alguém tinha que tomar providência porque nosso dinheiro já é pouquinho”, ressalta a aposentada. Vale lembrar, que a ação da empresa vai de encontro a lei federal (10.741), de 2003 e a estadual (9.013) de 2004, que garante “aos idosos nos veículos de transporte coletivo intermunicipal e estadual a reserva de duas vagas gratuitas por veículos e o desconto de 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, no valor das passagens que excedam as vagas gratuitas”; e a gratuidade nos transportes coletivos urbanos e semi-urbanos”.

Carlos Vilela, tenta se justificar, afirmando que os idosos pagam o transporte porque o município e o governo do estado não realizaram essa uma parceria com a empresa. “Temos um trabalho social que oferecemos gratuitamente passe de idoso para algumas pessoas, porém o idoso é nosso principal cliente, se a empresa levasse todos gratuitamente quem pagaria nossos custos?”, questiona o diretor da empresa.

Pedro Moraes

Irecê caminha em passos firmes para se transformar em um polo de produção audiovisual. Após o lançamento de diversos curtas-metragens como Patuá, Rodagem, A Natureza Responde, A Fruta e a Fruteira, Amuleto e O Fantasma do Lixo, na próxima segunda(14) começam as gravações do romance “De Amante”, dirigido pelo estreante diretor Sólon Barretto. O curta será filmado nos municípios de Irecê e Mucugê na chapada diamantina e irá contar a história de duas crianças, André e Ritinha, que se apaixonam no decorrer da trama e que ao encontrar um diamante se separam bruscamente.  Anos mais tarde, acontece o reencontro, porém, a história toma um rumo inusitado.

O filme fala sobre ambição, amor e jogo interesses, ingredientes esses, que serão explorados por uma equipe de 18 pessoas, dirigidas por Sólon Barretto (direção e roteiro), Alexander Barretto (assistente de direção) e Renato Sampaio (produção executiva). De Amante, terá no elenco composto por alunos de teatro e atores já experientes, como Péricles Barretto, Jonny Hebert e Ítalo Johmar do curta Patuá e Bárbara Martins  que fez recentemente A fruta e a fruteira.

“Despertei para o cinema com a chegada de Sandoval a Irecê, antes pensei em dirigir uma comédia, mas achei que poderia ser uma estreia complicada, então escolhi um romance, por até o cenário da chapada me ajuda. Vamos passar quatro dias em Mucugê e três filmando em Irecê, quero estrear esse curta em março”, diz Sólon.

Nascido em Salvador, o ator é formado em artes plásticas com extensão em teatro e Pós graduado em metodologia do ensino da arte. Veio morar na região de Irecê, há 12 anos, e trabalha, desde então, como professor na Fundação Bradesco. Sólon é fundador e diretor da Cia. Teatral Cara-de-pau e diretor da Cia. Trup de Trapos. Como ator de teatro, já apresentou diversos espetáculos na região, dentre outros, o Alto da Compadecida, Bate Papos, Chá das Cinco, Dois a Dois e Sou Professor e daí? No cinema, participou do filme Patuá, como ator e diretor de elenco e foi protagonista do novo curta de Sandoval, Minha vida não cabe no outdoor, que será lançado em janeiro.

Pedro Moraes

Pedagogia ou Engenharia? Talvez Direito… ou até Medicina. Vou para Salvador? Campina Grande? Ou continuo aqui? Diante de tantas possibilidades ou da inexistência delas, um dos grandes dilemas dos jovens que acabam o ensino médio é a difícil missão de escolher qual rumo oferecer para sua vida. Especialistas aconselham que não adianta pressa.

Para a aluna Rafaela Dourado, que acaba de concluir o ensino médio no colégio EdiMaster, a situação fugiu dos limites: “tive uma dúvida enorme, fiquei desesperada, chorei, me senti triste procurei até uma psicóloga. Não sabia o que fazer. Era como se nenhum curso tivesse haver comigo. Resolvi relaxar e fazer direito igual ao meu pai, se não me identificar com a área, faço outro curso depois”.

Professor Sérgio Luis

O professor Sérgio Luís, coordenador pedagógico e professor do Curso Pré Vestibular da UNEB em Lapão comenta que casos desses acontecem porque geralmente os alunos nessa faixa etária “não têm a maturidade de escolha necessária, até porque, não existem no currículo escolar disciplinas que estimulem a parte vocacional. Sempre aconselho a ter calma e decidir a opção com serenidade. Realize estudos prévios sobre as opções de curso, e escolha o seu sonho, esse é o segredo”, orienta Sérgio.

Mesmo com a opção definida, a estudante Louise Almeida sofreu com a ansiedade. A jovem garota de 16 anos, ao fazer o ENEM, relata que só conseguiu entregar a prova nos últimos minutos, porque com o nervosismo, ela perdeu muito tempo. “Quero pegar o resultado da prova e tentar engenharia em Salvador. Pensei na UNIFACS, mas estava tão agoniada na hora da prova que não sei se tive a pontuação necessária. Errei algumas coisas que sabia a resposta”. Para o professor, uma dica importante para solucionar essa problemática é desenvolver uma rotina de atividades como “resolver constantemente simulados, responder questões de vestibulares e fazer provas como a do ENEM. Isso é importante, porque oferece experiência, ameniza a ansiedade e o aluno se sente mais seguro”, diz o professor.

Com os altos índices de desemprego, muitos jovens transferiram o sonho de cursar uma universidade para conquistar um emprego bem remunerado e estável, é o caso de Eliane Martins, do Colégio Modelo, que já fez sua escolha. “Pretendo fazer concurso. Vestibular só se aparecer oportunidade, mas ainda estou em dúvida do curso. Prefiro fazer concurso porque o emprego é garantido e acho que assim dá pra conhecer melhor uma área e aí depois é só se especializar nela,” diz Eliane. Já o estudante Marcelo Lopes,  diz que inicialmente pretende “ingressar no mercado de trabalho durante seis meses e depois prestar vestibular para medicina. Eu sou muito ambicioso quando se trata de estudo, quero estudar para ter um bom emprego e um bom salário”.

Apesar da ansiedade, mercado de trabalho e indecisão, o professor Sérgio Luís, alerta que o principal problema é que existe uma carência de sonhos nos estudantes, de acordo com ele, “muitas famílias ainda não têm essa cultura do vestibular, elas acreditam que quando acaba a oitava série eles já estão formados e não incentivam a busca dos filhos. Também a falta de estrutura nos colégios ajudam, como a falta de professores, aulas vagas, principalmente na área de exatas, como física e química e a falta do estímulo de alguns professores que não incentivam os alunos a buscarem um vestibular. Por esses motivos muitos me questionam: para que vou estudar se vou para roça? Se encontramos tantos com anéis de formatura na roça? É triste mas muitos alunos não tem o sonho do vestibular enraizado. Mas isso está mudando, tenho alunos que saem  dos povoados para estudar no cursinho e não faltam um dia”.

Pedro Moraes

Assim como em uma projeção cinematográfica, vamos voltar no tempo por 30 anos. Mas nesse filme imaginário, não teremos superproduções norte-americanas e nem o rebuscamento intelectual do cinema europeu, e sim, curtas-metragens realizados com garra e coragem, no semiárido baiano, dirigidos por um “fazedor de filmes”, o soteropolitano de alma sertaneja: Sandoval Dourado.

Filho da artesã de Irecê, Constança, e do bancário aposentado de Canarana, Sinobelino, Sandoval, nasceu em 79. Quando pequeno, passou os seis primeiros anos na capital baiana, até começar uma vida quase nômade, migrando por várias cidades, como Salvador, Itaberaba, Irecê e Andaraí.

Formado em Design pela UNIFACS, sempre gostou de cinema, mas o despertar para sétima arte aconteceu quando morava em Andaraí. “Estavam rodando um filme do lado de minha casa, Tuna Espinheira gravava o longa-metragem Cascalho, então dei para eles todo suporte de informática, montando a rede e daí fui até figurante. Quando olhei aquela iluminação, os profissionais, e toda aquela megaprodução me apaixonei, foi muito interessante”.

Mesmo com o fascínio, o jovem design ficou sem ter contato com a prática cinematográfica por mais três anos, por falta de equipamento. “Foi então que comecei trabalhar com um colega, que foi meu monitor na faculdade. Ele tinha uma produtora de vídeo que fazia filmagens para casamentos, festas e formatura e fui fazer sites para a empresa. Na época, fiquei sabendo de um festival de vídeo da TVE e fiz uma proposta para realizar um curta em Mato Verde de Canarana. Foi dessa experiência que surgiu meu primeiro filme, Amuleto”, conta Sandoval.

O curta-metragem Amuleto nasceu vencedor e conquistou no festival da TVE o prêmio de melhor direção e em Santa Maria no Rio Grande do Sul, o prêmio de melhor vídeo na categoria de até 2 minutos. “Não sei se por competência ou sorte, mas tivemos um ótimo resultado. Foi então que pensei, sem experiência e pouca produção ganhamos de pessoas experientes. Naquele momento que percebi que fazer filmes era o que queria para fazer por toda minha vida”. Amuleto conta a historia de um vaqueiro em 90 segundos, evidenciando seu ciclo de vida, a história gira em torno de um cavalinho que ele guarda como amuleto desde criança.

Em 2007, Sandoval deixou Salvador para morar em Irecê, ao receber um convite de um empresário local, para abrir uma empresa, foi então que surgiu a “Sertão Filmes”. A produtora começou fazendo coisas simples, como filmar festividades, porém de acordo com Sandoval, “essa era só uma forma de ganhar dinheiro, meu intuito mesmo era fazer filmes. Tentei no mesmo ano um curta sobre as lendas do sertão, as famosas livusias. Porém, depois de quase pronto, percebi que ficou muito ruim e fiz questão de apagar tudo”.

“Quando voltei para Irecê as pessoas diziam, você é maluco? Vai sair de uma capital para ir morar no interior e fazer cinema? Mas tem que deixar algum maluco mesmo fazer essas coisas, se não, quem vai fazer? Quero plantar alguma coisa e deixar algo de útil, não adianta passar a vida toda só trabalhando para fazer a feira e morrer fazendo isso, não pretendo ser famoso, mas quero ser reconhecido pelo que faço”, enfatiza Sandoval.

PATUÁ No ano seguinte, a produtora estava com os equipamentos parados, o mercado não estava em uma época boa, mas das dificuldades surgiu a ideia de filmar mais um curta, Patuá. Sandoval convidou parentes e amigos e começaram o novo trabalho. “Começamos a nos reunir, até que minha tia disse para conversar com Sólon Barretto, que ele poderia me ajudar, a principio, relutei. Afinal, não tinha dinheiro para pagar atores, mas para minha surpresa ele me deu o maior apoio e disse: o que você precisar para o elenco pode contar comigo”.

Cena do Filme Patuá

Com a parceria firmada, iniciaram as gravações. As filmagens aconteceram no mesmo local de Amuleto, em Canarana, após quatro dias de muito trabalho, as cenas estavam captadas. Baseado em fatos reais, o filme narra o drama de um sertanejo, onde o pai vai para outra cidade em busca de uma vida melhor, deixando a esposa e dois filhos. Passando por diversas privações a mãe dos garotos conhece um pescador e começa um novo relacionamento. Patuá é um filme bem executado, em todos aspectos, bela fotografia, interpretação, trilha, roteiro e direção. O curta tem um final intrigante, deixando no ar, para o apreciador, diversas possibilidades de conclusão da obra. “O final é trágico. Porém, nem eu mesmo sei o motivo, o final da história é surreal, deixei ele aberto e subjetivo de propósito”.

Patuá que estreou no auditório do colégio modelo em Irecê, ganhou rapidamente o estado e mundo, sendo exibido em vários locais, como, Jacobina e Xique-Xique, Belo Horizonte, Fórum de Cineclubes de Lençóis, Festival Arraial Cinefest de Porto Seguro, Sala Walter da Silveira em Salvador e Rotterdam na Holanda.

“Fiquei sabendo que tinha um festival de filmes independentes e mandei para o “Câmera Mundo” em Rotterdam, mas encaminhamos o vídeo sem pretensões, acreditava que nem ia ser exibido. Fomos selecionados e fui com Sólon para Holanda, o pessoal gostou bastante e mesmo concorrendo com 120 filmes, ganhamos um dos prêmios mais importantes o de “Incentivo Câmera Mundo”, que ele dão ao diretor ou grupo que mesmo com baixo custo conseguiram finalizar o melhor filme. Quando anunciaram os vencedores, não acreditei, fiquei emocionado, pois nunca imaginaria que iríamos ganhar”.

Outro filme do diretor é o curta “Rodagem”, resultado de uma oficina realizada em um distrito de Lapão-BA, de mesmo nome que o filme, onde foram selecionadas pessoas da comunidade interessadas no trabalho. Após as aulas, cada um cumpriu uma função diferente e o resultado foi valoroso. “Senti um compromisso inigualável, das equipes que trabalhei, ela foi a melhor. Não acreditava que iríamos fazer o que conseguimos, deixei tudo na mão deles só fiz a direção. Conseguir plantar uma semente entre eles, a equipe que fez o filme já está filmando outro curta. Espero que daqui a cinco, dez anos muitas pessoas estejam produzindo, esse é meu sonho. Voltei para Irecê não só para produzir cinema, quero incentivar, plantar, para que diversos grupos façam filmes e transformem nossa região em uma referência na área”.

“A fruta e fruteira” é o mais recente curta premiado do diretor. O filme realizado a partir de um convite feito pela escola Edimaster, teve como objetivo concorrer ao festival da Rede Pitágoras em Belo Horizonte. O resultado foi positivo e foi indicado para cinco categorias(trilha, figurino, fotografia, ator e atriz), sendo premiado como melhor fotografia(do próprio Sandoval) e melhor atriz com Marina Andrade.

Influenciado pelos filmes nacionais que trabalham com a temática do sertanejo, Sandoval diz fazer filmes para o povo e não apenas para intelectuais. “Tento fazer vídeos agradáveis, sempre prezando pela técnica, a fotografia mesmo gosto de deixar sempre redondinha”. Atualmente, Sandoval que é assessor da prefeitura de Irecê, está trabalhando em mais um filme: “Minha Vida Não Cabe Em um Outdoor”.

Pedro Moraes

Quadro: Pedro Lima

A Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Irecê promove a partir do dia 23 a exposição de artes plásticas “Novembro Colorido”, com quadros dos artistas Pedro Lima, Galvão Júnior, Akarneiro e Fernando Queiroz. A mostra estará disponível para o público até o dia 27 de novembro, no arquivo público municipal, estando aberta para visitação das 9h às 12h e das 17h às 20h com entrada franca.

Pedro Lima é um artista versátil, tem uma obra marcada por várias fases, desde as paisagens e cozinhas do interior a pintura abstrata. Galvão Júnior  traz nessa exposição coletiva, quadros que representam  a temática sertaneja, entrelaçando-a com a tecnologia. Akarneiro, pinta elementos da alma sertaneja como flores de mandacaru, quiabento, barrigudas, carros de boi, com um toque de surrealismo, no estilo que o pintor chama de  Surrealismo Sertanejo. Fernando Queiroz tem uma pintura realista, mostrando o dia-a-dia do homem do campo.

Para o poeta e diretor do departamento de cultura da Prefeitura de Irecê, André Marques, “o evento nos convida a um processo de empatia, para entrarmos entre a perspectiva e a profundidade do pincelado e nos sentirmos um garimpeiro desta Chapada Diamantina tão bem pintada por Pedro Lima, ou quem sabe um pescador ou uma lavadeira que vive das águas do rio São Francisco coloridas pelas mãos de Fernando Queiroz, ou então um habitante do nordeste morando em um desses casebres retratado por Galvão Junior, que ganha a vida trabalhando em uma casa de farinha destas tão bem feita pelo artista Akarneiro. Então, aos amantes do belo, vamos ver nossa gente e nossa paisagem nos trabalhos destes nobres artistas”, diz André Marques.

Pedro Moraes

Com fé e determinação ele venceu o álcool, o preconceito e refez os rumos de sua vida que estava trilhada para o final de um túnel sem esperança e luz. Influenciado pela figura paterna, João Roberto começou beber com nove anos. “Lembro que fazia compras nos povoados com meu pai e quando ele estava sóbrio me dava uma tubaína para tomar, mas quando ele começa a beber dizia: Você tem que ser igual ao seu pai! Então, lembro que ele bebia e me dava uns goles, ficava rapidamente bêbado. Quando ele ia fumar sempre fazia dois cigarros, um para ele e outro para mim. Apesar dele ter me influenciado com a bebida e cigarro, não tenho mágoas dele, mas tenho certeza que a única coisa boa que meu pai me ensinou foi ser honesto e trabalhador”.

DECADÊNCIA
Quando se tornou adolescente, Roberto deixou suas influencias ganharem “pernas próprias” e o álcool começou a tomar conta do seu dia-a-dia. Ao perceber o erro, seu pai tentou corrigir, oferecendo conselhos e sermões, porém, era tarde, o menino tinha crescido e a droga se tornou uma “amiga” ajudando o jovem ficar mais solto para conquistar as garotas e se divertir. “Comecei a tomar umas duas quando frequentava uma festa, depois esse processo foi evoluindo, na época estava trabalhando e com um dinheirinho no bolso fui cada vez mais me afundando. Tem gente que bebe para cair, no meu caso a situação estava tão feia que estava com a lógica invertida, quando eu parava de beber eu caia”.

A dependência de Roberto com o álcool realmente era grande, ele confessa que quando “ia colher cenoura, deixava um litro de cachaça escondido no reboque do trator e colocava uma mangueira na boca da garrafa, trazendo-a até o banco. Quando sentia vontade de beber, era só puxar a cachaça pela mangueira, fazia isso para disfarçar porque um alcoólatra não gosta de ficar mostrando esse defeito a ninguém”.

Roberto teve um relacionamento rápido com uma namorada e teve um filho, depois conviveu com uma mulher por dez anos tendo mais três crianças. Nesse período ele começou a trilhar, em passos mais largos, sua caminhada para um submundo que parecia sem volta, chegando a ter diversas convulsões e discussões dentro de casa. “A primeira coisa que aconteceu comigo foi considerar como inimigos os meus verdadeiros amigos e familiares que se preocupavam comigo e me davam conselhos para parar de beber. Não me lembro de nada, bater nela eu sei que nunca bati, mas verbalmente sei que a machuquei bastante, fazendo diversas acusações”. A companheira de Roberto, não resistiu à convivência e saiu de casa com os filhos. “Ela levou tudo, só deixou um colchão,” diz Roberto.

Daniel, de 16 anos, filho mais velho de Roberto, ao se recordar de uma época que ele espera que não tenha volta afirma: “Meu pai me mandava comprar bebidas para ele, mas me sentia triste, não gostava de ver as pessoas me dizendo que ele estava louco e que iria morrer, ouvia aquilo e ficava quieto, não falava nada, mas por dentro orava para que Deus ajudasse ele. Pai foi para um centro de recuperação e oramos ainda mais”.

“Sabe Lázaro? O personagem bíblico?” questiona Roberto, “a única diferença que tinha dele era o fôlego da vida, mas já estava cheirando mal, foi então que Militão do Maanaim me procurou e me levou para o centro de recuperação”. O começo foi difícil, a abstinência do álcool no organismo é uma fase complexa que muitos não resistem e abandonam o tratamento, Roberto comenta que foram os piores dias da sua vida. “Quanto mais injeções de tranquilizantes aplicavam em mim, parecia que ficava mais forte. Chegaram a me amarrar sozinho em um quarto, parecia um louco. Nos dez primeiros dias sem álcool não comia por minhas mãos, tremia muito, ficava envergonhado e esperava todos comerem para que quando tivesse mais vazio começasse a me alimentar, mas não conseguia fazer aquilo sozinho, pegava um copo de água e me molhava, foi então que comecei a dar valor a coisas simples, como tomar um banho, usar desodorante ou comer. No centro, via pessoas que nem me conheciam se dedicando, me ajudando e orando por mim, isso me comoveu”.
Uma trajetória de recuperação


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Ao lado da esposa, filho e mãe, Roberto vive em harmonia

Após essa etapa, Roberto, sentiu que estava curado e três meses após o internamento pensou em sair do tratamento. “O centro é um local para pessoas com problemas, todos rejeitados, quando alguém fica em um local desses, sozinho, você se pergunta: o que estou fazendo aqui? Foi então que tive um encontro verdadeiro com Deus, senti a presença dele e descobrir que não estava ali para buscar apenas libertação do álcool  e sim uma mudança radical em minha vida.  A partir disso, meu cotidiano mudou e percebi que tinha encontrado um alicerce, que é Jesus. Logo  passei de aluno interno para voluntário e comecei a ajudar os obreiros, viajando com eles para ajudar outras pessoas e captar recursos para instituição”.

Roberto voltou para Lapão recuperado, porém quando chegou muitos indagavam: será que ele melhorou mesmo? “A sociedade não era obrigada a me receber de braços abertos”, reconheceu Roberto,  mesmo assim, ele conseguiu um emprego na construção de uma rede de esgoto e depois outro de padeiro, readquirindo a confiança da sociedade. Com a ajuda de sua mãe, conhecida como “Dona Sinhá”, ele conheceu um novo amor, Célia, estando casado oficialmente há quase quatro anos. “Ela não pode ter filhos, mas Célia me ajuda a cuidar dos meus quatro filhos que hoje moram comigo. Graças a Deus, tudo tem dado certo e vivemos em harmonia”.

“Hoje sou uma referência, era a ovelha negra da família e depois de sair do fim do poço, me tornei diácono de uma igreja evangélica, continuo como padeiro e estou inserido na sociedade. Minha família e amigos se dirigem a mim para pedir conselhos e orações, sinto orgulho da transformação que Jesus fez na minha vida, por isso, dou um testemunho de superação a cada dia com atos, ações e palavras  mostrando que a todos que realmente mudei”.

Pedro Moraes

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Criatividade e pluralidade artística podem definir o jovem cineasta, de 17 anos, Alexander Barreto, uma figura promissora que se encantou com o mundo das artes há dois anos e já demonstra potencial para executar belos trabalhos. Convivendo com a arte em casa, influenciada pelo pai Péricles Barreto e o tio Sólon Barreto, ambos nomes conhecidos no teatro da região de Irecê-BA, Alexander realizou três curtas-metragens que disputaram o Prêmio Vitor Diniz, como jovem realizador, no “XIII Festival Nacional dos Cinco Minutos”,  em Salvador. “A Natureza Responde”, “O assalto que não houve” e “Fantasma do Lixo” são obras com preocupação social, debatendo o meio ambiente e violência.  As três produções foram realizadas para o festival e com poucos equipamentos o jovem cineasta se desdobra para participar de todas as etapas de uma criação audiovisual, criando o roteiro, interpretando, dirigindo as cenas, captando som, filmando algumas sequências e editando o vídeo.

O CURTA-METRAGEM “A NATUREZA RESPONDE”, realiza uma reflexão sobre os hábitos de um jovem que no dia-a-dia insiste em destruir o meio-ambiente, mostrando que para toda agressão existe um retorno. O vídeo possui imagens interessantes, criativas e com boas composições de cena, destaco a que o personagem segue em direção a sua “vítima” (uma árvore) e filmando em contra-luz, são evidenciados os detalhes de uma faca passando por um portão de ferro. A edição tem cortes rápidos, com possíveis influências da linguagem do videoclipe e televisão, o roteiro é simples, porém bem elaborado, a interpretação do ator (Alexander) é boa, todavia é preciso ressaltar que o papel não exige muito de suas habilidades. Alexander peca na edição do áudio, utilizando uma trilha alta, em relação a voz e um pouco desconecta das imagens, porém, capta o som ambiente, como ruídos de portas, água e carro com qualidade.

“O ASSALTO QUE NÃO HOUVE” é um vídeo cômico que retrata a noite de dois irmãos gêmeos, mas de personalidades opostas, que ao debaterem sobre a violência são assaltados em casa. O curta ganha um teor engraçado quando a suposta ladra aparece, uma criança baixinha e frágil que enfrenta em um combate marcial os dois irmãos.  Mais uma vez, o vídeo possui boas imagens, os melhores momentos dessa composição ficam em dois pontos. No começo da narrativa onde são efetuados belos closes e na invasão da assaltante onde em preto e branco são intercalados planos abertos e fechados em um bom sincronismo. O roteiro dessa obra poderia ter uma diretriz mais elaborada, pois, fica um pouco óbvio que após debaterem sobre violência e apagarem as luzes vai acontecer alguma coisa. Alexander como ator ganha um novo desafio nesse curta, interpretar dois personagens, essa tarefa ele realizada com sucesso, evidenciando boas expressões faciais, gesticulações e uma dinâmica de texto eficiente. Como diretor e editor, o obstáculo é maior. Em algumas cenas não existe continuidade, fazendo com que o personagem reapareça em lado diferente da cena anterior, em alguns cortes nos diálogos, feitos pelo mesmo ator, as imagens ficam “truncados”.

CONSIDERO “O FANTASMA DO LIXO” o curta mais maduro e elaborado de Alexander. O vídeo realiza um debate sobre o lixo, mostrando a convivência de duas garotas, Ludmila e Nicole, que ao chegar de uma festa jogam papéis no chão e convivem em uma grande bagunça em casa. Ao faltar luz o fantasma se apresenta para dar um “puxão de orelha” nas duas que em seguida mudam o comportamento.

Os três vídeos foram filmados por Alexia Barreto, todos possuem boas imagens, mas em “O Fantasma do Lixo”, existe uma composição diferenciada entres o três, com ótimos movimentos de câmera e uma iluminação (para os equipamentos que a equipe dispõe) bem elaborada. A sonoplastia acerta quando utiliza, em alguns momentos, a mescla entre o silêncio e som ambiente. A trilha é boa e foi executada nos momentos corretos, criando um ambiente de “suspense” no filme. Os cortes de imagem não tiveram grandes desafios, a edição é simples e clássica, mas cumpre o papel. O roteiro é bem feito, intensificando os diálogos e construindo uma história de quatro minutos bem construída. A interpretação cênica dos três artistas (Alana Gondin, Lorena Pinheiro e Alexander) ficou ótima e natural, porém a impostação da voz do “fantasma” poderia ser diferenciada, com mais seriedade e em um tom mais grave.

Uma sequência do filme que comprova as qualidades do diretor é a cena realizada após o desaparecimento do fantasma. Alexander acerta em vários pontos, a trilha começa baixa e vai ganhando fôlego ao decorrer da movimentação de câmera, as imagem são captadas de um bom ângulo(altura do chão), a edição reduz em fração de segundos o tempo dos movimentos, deixando-os mais lentos e realçados, os curtos diálogos funcionam como  informativos de consciência ambiental.

Com alguns erros, naturais pela pouca experiência e muitos acertos, os três curtas apresentados ao festival nacional de 5 minutos por Alexander Barreto, se concretizam com uma amostra positiva do talento do jovem cineasta que tem potencial para realizar trabalhados mais maturados e alçar novas linhas narrativas. Sem dúvidas, fico livre para afirmar: É um excelente começo.

 

Pedro Moraes

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Há trinta anos saia de Cabrobó, interior Pernambuco, mais um pau-de-arara com pessoas que sonhavam com dias melhores. Ao ouvir falar na terra do feijão, seu Otacílio não pensou duas vezes e viajou com sua esposa, dona Josefa e os dez filhos em um caminhão fretado por sonhadores. Dentre eles estava Severino que relembrando o passado narra um pouco de sua história: “Vimos em busca de trabalho, não conhecíamos nada por aqui, porém a situação em Cabrobó estava difícil e sempre alguém dizia para gente que Irecê tinha muito serviço então meu pai veio conferir. Por aqui deu certo, gosto muito da cidade, mas sinto saudade do rio São Francisco. Quando era menino me divertia pulando da ponte para água, são momentos de uma boa infância”, conta Severino Ferreira de Lima, conhecido como Bil.

O jovem pernambucano logo conseguiu emprego na Bahia e nas lavouras da região de Irecê e oeste baiano, Bil trabalhou como tratorista por mais de 20 anos, plantando soja, algodão, milho, feijão e mamona. Casou-se três vezes, sendo que o primeiro casamento durou dez anos, o segundo cinco e o terceiro quarto. “Hoje estou só, mas em busca de um novo amor porque ainda sonho em ter um filho. Tem umas moças que me procuram perguntando se sou casado, mas gosto de ir atrás, essas assim não dão certo”.

Já com 41 anos, Bil conta que de seus amores a segunda esposa foi a que mais marcou e voltaria a viver com ela, porém o orgulho dos dois lados, não conseguem cicatrizar as mágoas do passado. “Uma mulher que sinto falta é Luzia, ela era muito boa para mim, mas o ciúme estragou muita coisa. Nós brigávamos muito e juramos um para o outro nunca mais se falar. Um tempo depois ela se casou novamente e se separou, também está só, mas hoje, um passa pelo outro de cara fechada. Tenho vergonha de procurá-la e tentar voltar, mas se ela me procurasse,  ficava com ela e tentava tudo novamente”.

Com um sorriso e expressivo e um papo amistoso, o ex-agricultor trabalha numa barraca que era de sua mãe, que se aposentou há três anos. Todos os dias, bem cedo, ele abre o local e começa a vender um pouco de tudo, dentre outros, bebidas, chocolate, balas e lanches. “Hoje o que mais vende é água de coco, os salgados e a velha pinga de raiz”. Falando em pinga, a barraca do Bil conserva a tradição e tem uma variedade impressionante de cachaças. Tem para todos os gostos, é carapiá, umburana, quebra-facão, jatobá, catingueira, quebra-pedra, camaçari, para tudo, pindaíba, dandá,  cambuí,  junco, cidreira, capim santo e erva doce. “Compro as ervas no mercadão, jogo na garrafa com pinga pura dá boa e deixo curtir. Depois de uns três dias ela já pronta”, revela Severino.

Bil comenta que a barraca além de ponto de encontro para as pessoas que pegam ônibus para cidades vizinhas, também serve de “farmácia”. “Os caras chegam aqui e dizem: Bil, bota ai uma dose para dor de coluna, ai toma um jatobá, se tiver de disenteria vai de umburana, se tá com tosse toma uma pindaíba e se aparecer com dor nos rins o cara vai de quebra-pedra. Não sei se funciona mas eles dizem que melhora na mesma hora(risos)”.

Pedro Moraes

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Catar material reciclável é uma opção viável para enfrentar o desemprego nos grandes centros urbanos e municípios do interior. Mesmo com um trabalho duro, pessoas como Givanilton, Ronaldo, Joabe, Jaqueline e Valci têm orgulho do que fazem e colocam a mão no lixo para retirar papel, plástico, ferro e alumínio, transformando-os em emprego e renda.

Há cinco anos, Givanilton Silva Evangelista, começou no ramo, ele conta que trabalhava no aterro sanitário de Irecê, até surgir a ideia de criar uma cooperativa.  “No lixão era bom, mas criamos a COORECICLA que nos ajudou bastante. Hoje tenho uma renda fixa que varia de R$ 200 a R$ 250 por mês, que já dá para ir tocando a vida”. Givanilton trabalha na cooperativa com a esposa Jaqueline Costa da Silva, que além de catar material com o mari-do é a responsável por limpar o espaço de trabalho dos cooperados. “Não tem trabalho melhor que esse, cato todos os dias lixo reciclado e moro aqui na cooperativa, não pago aluguel. Juntando o meu salário com o de meu marido dá para cuidar de nossos dois filhos”, comenta Jaqueline.

Joabe de Jesus trabalha desde criança na atividade, meio cigano, como ele gosta de se definir, diz que por todas as cidades que passou sofreu por algum tipo de preconceito, mas com muito orgulho, afirma, “tem muita gente que me olha com cara feia, mas não conheço nada mais rico que o lixo. Agente não investe, só faz ganhar, o lixo é rei! É de lá que tiro meu sustento, coloco minhas mãos nas lixeiras e faço meu trabalho com orgulho para não precisar pedir nenhum copo de água a ninguém”.

Os catadores vedem o material coletado em ferros-ve-lhos ou em empresas especializas. Para isso, o lixo é prensado, depois amarrado em fardos, que pesam em média 120 kg, para serem comercializados por: R$ 0,07 o kg do papelão, R$ 0,50 o kg do ferro e R$ 0,10 do plástico.

Ronaldo Assis é um dos responsáveis na COORECI-CLA por prensar o material coletado, segundo o cooperado, foi com esse emprego que ele conseguiu a estabilidade de um trabalho, “fazia bicos como pedreiro, mas trabalha apenas uma semana ou duas. O salário era incerto, agora não, todo fim de mês recebo por produção de R$250 a R$300”. Na mesma situação vivia Valcir Santos, o ex-lavrador disse que perdia muitas safras e era difícil para pagar as contas no fim mês pela falta de uma renda fixa. “Não me arrependo de ter largado as lavouras. O começo como catador foi difícil, hoje, já conheço todo mundo, tem dono de mercadinho que guarda papelão e latinha para mim e já recebo até R$ 400. Minha vida mudou bastante”.

Pedro Moraes

DSC06738 (Small)Lineage, Control Strike, GTA ,The Sims, The Duel,  e muitos outros nomes estranhos, como estes, podem parecer algo abstrato para a maioria das pessoas, porém, para alguns jovens apaixonados por jogos eletrônicos esses nomes são sinônimo de entretenimento, dedicação e dependência.Paulo Damasceno de 14 anos, diz que já chegou a jogar 18h por dia, “só não fico na frente do computador quando estou na escola, passo horas conquistando novos itens no jogo como armas, armadura  para lutar  virtualmente com meus colegas. Quero ser o mais forte do servidor.”

Toda essa dedicação infelizmente traz consequências negativas, o estudante Atos Oliveira, 19 anos, comenta que já perdeu de ano na escola  e até uma namorada. “Jogo Lineage há 4 anos, atualmente fico de 2 a 3h por dia no game, estou me controlando para reduzir. Quando era sexta série, ficava muito mais tempo, chegava a 6h, acabei repetindo o ano e sendo largado pela namorada. Na época, morava em Irecê e ela em Lapão, deixava de vê-la para ficar jogando, quando ela soube inventou uma historia e não quis mais”.

“Quando alguém me proíbe de jogar, fico mal, me sinto como se não tivesse nada para fazer, fico entediado, não vou estudar porque sinto raiva de quem proibiu e tudo piora. Jogar já me prejudicou muitas vezes, quase todas as recuperações que fiz no colégio foi porque deixei de estudar para jogar”, comenta Paulo.

Diversos estudos apontam que os jogos eletrônicos, a principio, não são um problema e ajudam no desenvolvimento do raciocínio, porém eles viram um problema grave quando interferem na rotina do jogador, gerando, por exemplo: baixo rendimento na escola, falta de sociabilidade, depressão, diminuição dos hábitos de higiene pessoal, falta de apetite, enxaqueca e insônia. Nesses casos os responsáveis devem ficar atentos e se o problema não for resolvido apenas com o diálogo ou naturalmente, vale a pena procurar a ajuda de um profissional.

No mundo dos jogos virtuais os jovens se transformam em quem querem, ganham poderes especiais, enfrentam batalhões e vivenciam uma fantasia que gera prazer. Porém essa sensação pode ser “a ponta de um iceberg” escondendo problemas maiores como depressão ou transtornos compulsivos.

Em entrevista a revista Época, o psiquiatra Daniel Spritzer, especialista na temática, alertou que “o organismo de um viciado em jogos de computador reage de maneira parecida ao de um viciado em drogas como crack ou cocaína. Quando a pessoa está jogando, seu cérebro libera uma substância chamada dopamina, que causa sensação de prazer e euforia. Isso faz o viciado querer passar todo o tempo jogando. Enquanto no organismo do viciado em drogas a dopamina é liberada por um estímulo químico, no viciado em jogos de computador ela é liberada por causa de um comportamento repetitivo”, diz o psiquiatra.

Pedro Moraes