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Daniel, o Futuka: Com a máscara, esqueço problemas e encarno a missão de fazer sorrir

Por Pedro Moraes

Munido de calças largas, maquiagem, fantasias e sapatos largos, lá vem o colorido e engraçado Palhaço Futuka, um soldado da alegria, que em cada cidade que visita luta para levar o sorriso e acender o brilho nos olhos das crianças.  Espantando a tristeza, o personagem interpretado pelo artista circense Daniel Henrique é aclamado pela molecada e garante, ao lado de outros artistas, casa lotada para o Circo Húngaro, que já percorreu diversos estados como a Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo e Ceará.

O artista de 21 anos nasceu em Maceió-AL e adquiriu ao longo da vida sensibilidade e habilidade para desempenhar diversas funções. O treinamento começou aos cinco anos, com o número mundialmente conhecido como “atirar facas”. Em seguida, aprendeu malabares e, aos 16 anos, começou a interpretar o palhaço Maluquinho, que se transformou posteriormente em Futuka. Daniel explica que “no circo, todo mundo acaba fazendo várias funções, cada um faz um pouco de tudo”. Ele mesmo, faz divulgação no carro de som, ajuda na portaria,  dança, faz malabares e  dublagens, porém, o que mais gosta é de interpretar o palhaço Futuka: “Amo a vida do circo, nunca pensei em largar, a identificação é total”, confessa.

Daniel Henrique nasceu no circo e herdou a tradição de uma família circense, iniciada há muitos anos pelo bisavô João, cigano de origem húngara, e a bisavó, que era turca. Atualmente, a família está espalhada no Brasil, fazendo espetáculos em 12 circos.

Atualmente viver de circo é possível’

Daniel: Não acreditam que sou palhaço

– Sou da quarta geração e percebo que atualmente viver de circo é possível. Antigamente, era muito difícil, tenho primos que não aguentaram e saíram dessa vida para fazer coisas tradicionais como medicina e direito. Antes, os espetáculos não eram valorizados,hoje temos apoio da Funart, que abre vários editais de fomento à cultura circense  e contamos com um público maravilhoso que valoriza nossa arte. Os circos já se encontram em outro patamar –  ele argumenta.

O Circo Húngaro tem um ano e meio de fundado. Antes, os artistas trabalhavam em outro circo da família, o Delibano. Porém, com o crescimento da família, a tendência natural foi expandir.

– Conseguimos trocar uma caminhonete por uma lona, no começo, não tínhamos iluminação e transporte. Me lembro que no primeiro dia de espetáculo não tínhamos dinheiro,  estávamos zerados e para completar o dia da estreia faltou energia; no outro, a cidade sofreu com chuva forte; e, no domingo, deu pouca gente. Porém, não nos abalamos. E, graças a Deus, na segunda-feira, lotou. Foi ali que nossa história pôde ser continuada. Hoje, temos um trabalho mais profissional, antes de ir para uma cidade analisamos como está o comércio, a agricultura, o clima, se o local teve festas recentemente e só assim providenciamos as documentações necessárias para nos instalar e começar a produção – conta.

Casado com a trapezista Tuanny, o palhaço mora com os pais e irmãos em casas sobre rodas, conhecidas como “moto-home”. A vida nômade considerada charmosa para alguns e  louca para outros, não traz grande problemas e com o suporte virtual da internet eles conseguem construir e cultivar relações fora do circo.

– Amigos mesmo que criamos é mais da família do circo. São 28 pessoas que nos acompanha para todos os locais. Mas, mesmo não criando raízes nas cidades, conseguimos cultivar amizades sólidas, conhecemos alguém nas cidades e temos de 10 a 15 dias de contato. Às vezes é pouco, porém mantemos o relacionamento via internet ou telefone.  Tenho quatro perfis lotados no Orkut, uso o Twitter e meu MSN tem aproximadamente 6 mil contatos e toda vez que voltamos para uma cidade sempre acontece um reencontro – diz Daniel.

Com a máscara esqueço meus problemas’

Com as crianças, interação total

Daniel é muito mais quieto que o Futuka. Em uma rápida conversa dá para perceber que são duas identidades opostas, com poucas semelhanças. “Quando falo que sou palhaço quase ninguém acredita, até porque muitas pessoas não entendem que lá é um personagem, algo que não sou. Apesar de não conseguir ser a mesma coisa do palco fora dele, quando boto a roupa, a maquiagem e entro no picadeiro tudo muda. Não sei o que acontece, é instantâneo faço palhaçada na mesma hora como se estivesse fazendo isso sem parar há mil anos. Com a máscara esqueço meus problemas, broto um sorriso e encarno a missão de fazer o outro sorrir”.

Aparentemente, não é só o artista que esquece os problemas. Olhando para esse lugar mágico chamado picadeiro, a plateia eufórica incorpora a fantasia das cores onde as palmas e gargalhadas imperam. Mas, o que acontece quando as cortinas se fecham? As brincadeiras adormecem na realidade e os personagens lavam os rostos, voltando a ser pessoas normais, com lágrimas, fragilidades e defeitos como qualquer outra pessoa.

É por isso que ele  não gosta de falar que é palhaço. Teme que as pessoas – e principalmente as crianças – se desencantem. Como já aconteceu, aliás. “Teve uma mãe que veio ao circo, para que o filho me conhecesse pessoalmente e quando ele me viu, começou a chorar dizendo que não era o Futuka, isso me comoveu bastante, coloquei o chapéu fiz umas brincadeiras,  mesmo assim ele não se convenceu muito. As crianças  têm uma imaginação fantástica, adoro a forma que elas me olham e interagem comigo. Digo que moro na lua e elas inocentemente me tocam achando que sou de mentira. É mágico, não quero estragar isso” – encerra o artista.