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Roda Viva do Sertão

Publicado: 24/05/2011 em fotografia
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Viva

Radiante

Publicado: 24/05/2011 em fotografia
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Por Pedro Moraes

Percebemos diversos grupos de jovens que extravasam suas inquietudes das formas mais subversivas possíveis, como o consumo desenfreado do álcool, a direção alcoolizada de veículos sem habilitação, a permanência nas ruas de madrugada, a prática de sexo em vias públicas e o consumo de diversas drogas ilícitas, como a maconha e o crack.
Sabemos que todos esses problemas vêm de berço. Inicialmente, cabem as famílias coibirem tais atos, com o diálogo e uma orientação contínua, que precisa ser ao mesmo tempo dura e acolhedora. Contudo, ao invés de orientar, os pais estão perdendo cada vez mais espaço e os filhos se sentem no direito de comandarem a situação, sem qualquer repressão posterior. A tradicional “bronca” foi abandonada por um tapinha nas costas com a frase subconsciente: “Filho erre novamente, seu pai assume sua barra”. Como os problemas não são meramente caseiros, eles trazem consequências danosas para toda a sociedade, já passou da hora dos poderes públicos e as famílias lutarem com mais afinco para solucioná-los.
No caso do álcool, podemos afirmar com toda segurança possível que a grande maioria dos mercados, armazéns e bares do município e microrregião de Irecê, vendem sem qualquer cerimônia bebidas alcoólicas e cigarros para menores de 18 anos. O que muita gente finge não saber, é que o ato vergonhoso, que visa unicamente o lucro, desobedece o artigo 243 do estatuto do adolescente que prevê pena de até 4 anos de reclusão, acompanhado por multa,  “para qualquer pessoa que vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida (art.243)”, diz o estatuto do menor.
Diante de uma geração que abandona em passos largos o hábito da leitura, também encontramos uma infinidade de alunos que fardados com as camisas de seus respectivos colégios, se privam de conhecimento e trocam as salas de aula pelo uso incansável de bate-papos virtuais em lan houses, ou passam seus dias sentados em um banco de praças públicas ao lado de um litro de refrigerante “turbinado” com Pitu, 51, Montila e outras tantas bebidas.
No trânsito, os menores circulam livremente pilotando motos, dirigindo carros possantes com aparelhos de som amplificados e fazendo diversas inflações, como subir em passeios, realizar manobras arriscadas e exibirem os famosos “cavalos de pau”, demonstrando todo seu “poderio” adolescente. Todos sabem que dirigir sem habilitação é crime e para ter a autorização necessária, o condutor precisa ter a idade mínima de 18 anos, tenho certeza que isso não é novidade para ninguém. Porém, com uma fiscalização ainda incipiente, virou uma tradição os pais liberarem os veículos para menores, ainda sem maturidade, despreparados psicologicamente para utilizar tal ferramenta, que pode virar uma arma letal com o uso inadequado. Sejamos coerentes, qual maturidade um jovem adolescente tem para pilotar uma moto ou carro?
Precisamos urgentemente de ações concretas de todos os poderes públicos para solucionar esses problemas. Investir em educação de qualidade, cultura, esporte e meios de entretenimento “saudáveis” é uma fórmula precisa para combater todas essas problemáticas em médio e longo prazo. Porém, também necessitamos de órgãos com a função de coibir tais práticas.  O poder judiciário, por exemplo, ninguém entende o motivo, mas não implementa no município um Juizado de Menores, que amenizaria de imediato algumas dessas problemáticas. Visto que a ação dos agentes de proteção (antigos comissários de menores) tem como objetivo “o trabalho de fiscalização, assistência, proteção, orientação e vigilância a menores, previstas no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), bem como o cumprimento de medidas judiciais específicas”.
Os poderes competentes precisam parar de olhar para os botões do próprio terno e realizarem ações em consonância com as necessidades da população. As famílias precisam acordar, e deixar as fofocas sobre o outro de lado e olhar para sua casa. Está faltando praticas básicas, como olhar, ouvir, sentir, buscar e conhecer.  Pois é só assim, que conhecemos os anseios do local, no qual muitas vezes vivemos protegidos por uma cúpula de vidro.

“Não tenho medo de reclamação, dirijo em todos locais da região e coloco o som na altura que quero porque nunca ouvi falar que alguém daqui teve problema com isso”.

Por Pedro Moraes

Venho recebendo constantes denúncias de diversas pessoas que estão se sentindo prejudicadas pela intensa poluição sonora, que se alastra com cada vez mais intensidade na microrregião de Irecê.  O cenário não é diferente em nenhuma das localidades, carros equipados com aparelhos sonoros de alta potência, passam nas ruas com o volume acima do permitido em qualquer horário, as festas são executadas sem nenhum tipo de domínio acústico, os bares colocam som ao vivo ou mecânico sem controle de altura ou horário e o comércio não se cansa de usar os carros de som rodando pelas cidades anunciando suas ofertas.

Em Lapão, muitas pessoas que preferem não se identificar, por receio de algum tipo de coação, alegam não ter condições de trabalhar ou simplesmente dormir com o intenso barulho nos bares da cidade e carros com som. Essa situação é vivenciada por um lavrador que mora em uma das ruas atrás da AV. ACM, que dá acesso à cidade. “No outro lado da rua tem um bar que funciona durante toda a semana vendendo espetos de carne assada e cerveja a noite. Se chama Espetinho do Wilson, ele não me dá sossego. Sou paciente, mas mesmo assim não estou aguentando, na segunda, trabalho cedo e no domingo o barulho só acaba depois das duas da manhã. Agora me diz, como posso acordar às cinco se durmo depois das duas?”, questiona o agricultor.

Praça Bráulio Cardoso

Outro morador da cidade, que reside na praça central tem o mesmo problema. “Na Praça Bráulio Cardoso tem um local chamado Bar do Enoque, que colocam uma caixa de som e todo fim de semana leva uns cantores para cantar o mesmo repertório, já gravei todas as músicas. E tem outro, na mesma rua, chamado Mega Bar que coloca um som mecânico super alto. Se o som ainda fosse baixo tudo bem, mas parece que esses bares colocam as músicas para todas as ruas vizinhas ouvirem e não só para os clientes. Na minha sala, não dá para ver televisão direito, se for conversar, tenho que trancar as janelas e a porta. Para dormir, não tenho direito de escolher o horário, é só quando a farra parar. Tentei reclamar, fui ao bar, conversei com um funcionário, liguei para a polícia, mas nenhum dos dois me deram atenção. Alguém tem que tomar providência, não é possível que o divertimento de poucos que sentam nas mesas da praça seja mais importante que o direito de dormir de moradores de várias ruas”, desabafa.

Na Rua Antônio Pereira da Silva, os moradores dizem que a realidade é ainda mais complicada. Um comerciante que tem um estabelecimento próximo a sua casa comenta que na localidade o único dia de tranquilidade é na segunda. “Se alguém chegar aqui na rua até às 22h,  pensa que o lugar é um paraíso, mas certamente chegando depois das 0h vai conhecer outra realidade. Tem um bar bastante conhecido, chamado Tenta do Carlinhos que só deixa as pessoas terem sossego na segunda, pois durante todo o resto da semana ele fica até 3h da manhã aberto e se não bastasse o barulho interno, ainda tem pessoas que não conseguem entrar no estabelecimento e ficam de fora conversando alto e zoando na rua. O som do bar é alto,  mas o que incomoda mais é o público, é gente gritando, falando palavrões e carros que ao saírem cantam pneu e aumentam o som. Em decorrência disso, não durmo bem  e acabo tendo que lutar durante o dia para não ficar mal humorado, e não descontar o stress nos clientes ou na minha família, pois a ausência do sono causa irritação. Fiz uns tampões nas centelhas das janelas para minimizar o problema, mas mesmo assim, o barulho entra. A justiça deveria obrigar esses estabelecimentos que são próximos a residências, a usar um isolamento acústico e a polícia deveria fiscalizar mais isso. Sinto-me  lesado, pago meus impostos em dias e não precisaria ficar fazendo denuncias sobre isso, até porque existem leis que são fáceis de serem cumpridas, bastas às autoridades quererem colocá-las em prática”, disse o comerciante.

Na cidade, o maior problema em relação à poluição sonora é o volume excessivo dos aparelhos de som dos veículos. Eles não obedecem a horário, nem muito menos o nível de ruído, a problemática é tão comum que já virou um hábito, hoje, dizer que tem um carro em Lapão que não seja bem equipado com esse acessório soa estranho. O menor de iniciais ASD, de apenas 15 anos, afirma que o pai colocou o som no carro com uma potência considerável a seu pedido e que infringe a lei pela certeza da impunidade. “É massa demais, onde paro faço a festa. Não tenho medo de reclamação, dirijo em todos locais da região e coloco o som na altura que quero porque nunca ouvi falar que alguém daqui teve problema com isso”, diz o estudante. Na Rua José Mangueira, um funcionário público conta que em um bar de sua rua, vários clientes param o carro em frente ao estabelecimento e abusam do som alto. “O próprio proprietário tem um carro e faz isso. Quase todos os dias eles encostam na calçada e ligam o som em altura que incomoda a rua toda, já fui na delegacia registrar ocorrência e ao Ministério Público, ambos disseram que iriam resolver o problema, estou aguardando”.

O capitão da policia militar, José Renato, convocou para uma reunião alguns proprietários de bares da cidade expondo os problemas. Ao término, foi combinado informalmente que os donos dos estabelecimentos iriam se comprometer em reduzir o volume, assim como não atender clientes que estejam com o aparelho de som ligado. O militar ainda disse que no descumprimento do acordo, ele iria acionar o poder judiciário para resolver o problema. Mas, infelizmente na mesma semana da reunião a situação permaneceu a mesma.

A Superintendente de Apoio Rural e Meio Ambiente e presidenta do Conselho em Defesa do Meio Ambiente, Lucivanda Oliveira Porto, reconhece a gravidade do problema e promete em breve algumas mudanças. “O código municipal de meio ambiente e o conselho foram implantados e estão aptos a funcionar. Já solicitamos um decibelímetro (aparelho responsável para medir o nível de ruído) e em parceria com a polícia militar vamos verificar a situação para tomar as devidas providências”.

Daniel, o Futuka: Com a máscara, esqueço problemas e encarno a missão de fazer sorrir

Por Pedro Moraes

Munido de calças largas, maquiagem, fantasias e sapatos largos, lá vem o colorido e engraçado Palhaço Futuka, um soldado da alegria, que em cada cidade que visita luta para levar o sorriso e acender o brilho nos olhos das crianças.  Espantando a tristeza, o personagem interpretado pelo artista circense Daniel Henrique é aclamado pela molecada e garante, ao lado de outros artistas, casa lotada para o Circo Húngaro, que já percorreu diversos estados como a Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo e Ceará.

O artista de 21 anos nasceu em Maceió-AL e adquiriu ao longo da vida sensibilidade e habilidade para desempenhar diversas funções. O treinamento começou aos cinco anos, com o número mundialmente conhecido como “atirar facas”. Em seguida, aprendeu malabares e, aos 16 anos, começou a interpretar o palhaço Maluquinho, que se transformou posteriormente em Futuka. Daniel explica que “no circo, todo mundo acaba fazendo várias funções, cada um faz um pouco de tudo”. Ele mesmo, faz divulgação no carro de som, ajuda na portaria,  dança, faz malabares e  dublagens, porém, o que mais gosta é de interpretar o palhaço Futuka: “Amo a vida do circo, nunca pensei em largar, a identificação é total”, confessa.

Daniel Henrique nasceu no circo e herdou a tradição de uma família circense, iniciada há muitos anos pelo bisavô João, cigano de origem húngara, e a bisavó, que era turca. Atualmente, a família está espalhada no Brasil, fazendo espetáculos em 12 circos.

Atualmente viver de circo é possível’

Daniel: Não acreditam que sou palhaço

– Sou da quarta geração e percebo que atualmente viver de circo é possível. Antigamente, era muito difícil, tenho primos que não aguentaram e saíram dessa vida para fazer coisas tradicionais como medicina e direito. Antes, os espetáculos não eram valorizados,hoje temos apoio da Funart, que abre vários editais de fomento à cultura circense  e contamos com um público maravilhoso que valoriza nossa arte. Os circos já se encontram em outro patamar –  ele argumenta.

O Circo Húngaro tem um ano e meio de fundado. Antes, os artistas trabalhavam em outro circo da família, o Delibano. Porém, com o crescimento da família, a tendência natural foi expandir.

– Conseguimos trocar uma caminhonete por uma lona, no começo, não tínhamos iluminação e transporte. Me lembro que no primeiro dia de espetáculo não tínhamos dinheiro,  estávamos zerados e para completar o dia da estreia faltou energia; no outro, a cidade sofreu com chuva forte; e, no domingo, deu pouca gente. Porém, não nos abalamos. E, graças a Deus, na segunda-feira, lotou. Foi ali que nossa história pôde ser continuada. Hoje, temos um trabalho mais profissional, antes de ir para uma cidade analisamos como está o comércio, a agricultura, o clima, se o local teve festas recentemente e só assim providenciamos as documentações necessárias para nos instalar e começar a produção – conta.

Casado com a trapezista Tuanny, o palhaço mora com os pais e irmãos em casas sobre rodas, conhecidas como “moto-home”. A vida nômade considerada charmosa para alguns e  louca para outros, não traz grande problemas e com o suporte virtual da internet eles conseguem construir e cultivar relações fora do circo.

– Amigos mesmo que criamos é mais da família do circo. São 28 pessoas que nos acompanha para todos os locais. Mas, mesmo não criando raízes nas cidades, conseguimos cultivar amizades sólidas, conhecemos alguém nas cidades e temos de 10 a 15 dias de contato. Às vezes é pouco, porém mantemos o relacionamento via internet ou telefone.  Tenho quatro perfis lotados no Orkut, uso o Twitter e meu MSN tem aproximadamente 6 mil contatos e toda vez que voltamos para uma cidade sempre acontece um reencontro – diz Daniel.

Com a máscara esqueço meus problemas’

Com as crianças, interação total

Daniel é muito mais quieto que o Futuka. Em uma rápida conversa dá para perceber que são duas identidades opostas, com poucas semelhanças. “Quando falo que sou palhaço quase ninguém acredita, até porque muitas pessoas não entendem que lá é um personagem, algo que não sou. Apesar de não conseguir ser a mesma coisa do palco fora dele, quando boto a roupa, a maquiagem e entro no picadeiro tudo muda. Não sei o que acontece, é instantâneo faço palhaçada na mesma hora como se estivesse fazendo isso sem parar há mil anos. Com a máscara esqueço meus problemas, broto um sorriso e encarno a missão de fazer o outro sorrir”.

Aparentemente, não é só o artista que esquece os problemas. Olhando para esse lugar mágico chamado picadeiro, a plateia eufórica incorpora a fantasia das cores onde as palmas e gargalhadas imperam. Mas, o que acontece quando as cortinas se fecham? As brincadeiras adormecem na realidade e os personagens lavam os rostos, voltando a ser pessoas normais, com lágrimas, fragilidades e defeitos como qualquer outra pessoa.

É por isso que ele  não gosta de falar que é palhaço. Teme que as pessoas – e principalmente as crianças – se desencantem. Como já aconteceu, aliás. “Teve uma mãe que veio ao circo, para que o filho me conhecesse pessoalmente e quando ele me viu, começou a chorar dizendo que não era o Futuka, isso me comoveu bastante, coloquei o chapéu fiz umas brincadeiras,  mesmo assim ele não se convenceu muito. As crianças  têm uma imaginação fantástica, adoro a forma que elas me olham e interagem comigo. Digo que moro na lua e elas inocentemente me tocam achando que sou de mentira. É mágico, não quero estragar isso” – encerra o artista.

Confiram a edição completa cliclando na imagem ou acessando o site: http://www.ketamoco.com.br


“Sou Alfredo José Rosendo/Filho de Modesto e de dona Brisdinha/

Se eu não faço um poema melhor/É porque não frequentei a escolinha”

Por Pedro Moraes

As gotas geladas de uma suave garoa tocam suavemente na terra seca e árida, em um fim de tarde em que o chão quente do semiárido agradece aos céus pela benção de encontrar com sua fonte de energia, exalando assim, o cheiro de terra molhada, sinônimo de prosperidade na vida do sertanejo. O São João, árvore típica da biodiversidade local, abre suas flores, amarelas feito ouro, provando para quem duvidar que a beleza surge no improvável. Em torno deste cenário, que flerta entre o belo e a simplicidade, encontro seu Alfredo Rosendo, um lapoense de expressão forte, alto, de voz firme e corpo esguio, com 89 anos de histórias, causos e lições de vida. Em uma casa antiga, feita com as próprias mãos, “Seu Fredo” como é carinhosamente conhecido, mora em companhia de ilustres convidados: a música e poesia.

O cheiro do café passado na hora abre as portas para uma longa conversa sobre a vida, sonhos e a arte, despertada em 1985, quando seu município de origem, Lapão-BA, tentava se emancipar. Em versos simples, de um homem que nunca foi à escola, Fredo foi de encontro aos velhos coronéis da terra e declamou com garra e coragem a seguinte estrofe:

“Deixa de tanta promessa/ deixa de tanto esperar/ agora chegou a vez/ de Lapão emancipar. Lapão já foi muito atrasado/ só quem viu sabe contar / Só tinha duas escolas, mesmo assim particular/ Hoje, o Lapão já conta, no setor da educação / Com um dos melhores colégios da microrregião.  Lapão tem um povo hospitaleiro / Isso eu não nego / só faz muito fuxico na época da eleição / deixa de tanta promessa/ deixa de tanto esperar/ agora chegou a vez/ de Lapão emancipar”.

De acordo com Alfredo, na época, algumas famílias tradicionais reuniram 500 assinaturas em um manifesto contra a emancipação. “Eles alegavam que a cidade era a ponta da rua do município de Irecê, mas eles tinham interesses pessoais por trás disto, achei que não tava certo, porque Lapão já estava desenvolvida, foi então que tive a vontade de fazer meu primeiro verso e dei uma chicotada neles”.

‘Não tinha como estudar, e chorava’
Frequentar uma sala de aula foi o maior sonho do poeta sertanejo, porém os tempos difíceis da época de criança não deixaram sua aspiração virar realidade. Apesar de não poder ir à escola, sua vontade era maior que a maioria dos obstáculos. Com uma “banda” de toucinho de um porco gordo, doado pelo seu avô, foi para cidades vizinhas vender a mercadoria. Ao todo conseguiu 200 réis, dinheiro suficiente para comprar um livro ensinando a arte do ABC. “Quando meu avô trouxe o livro, só fui dormir quando aprendi a primeira carreira de letra, gravei até o ‘é’, depois fui tocando meus estudos para frente. Em quinze dias, já sabia ler. Meu avô morreu na grande crise de 32, e fomos trabalhar numa roça que só tinha onça e caititu. Lá, passei de inteligente e fiquei conhecido por fazer um cavaquinho com uma faca com apenas 12 anos, ficou tão bom que muitas pessoas quiseram comprar, acabei vendendo para comprar uma roupa bem bonita que fazia tempo que não tinha”.

Apesar do esforço, o garoto promissor ainda não sabia escrever até que a noiva do tio questionou: “Você já sabe fazer seu nome?” triste e envergonhado ele respondeu: “Não”. Foi então que a jovem segurou em sua mão e com um toco de madeira riscou o nome do menino para ele copiar. “Fiquei muito feliz, gravei aquilo e nunca vou me esquecer, saí correndo para mostrar a todos, mas muita gente não acreditou. Meus parentes só acreditaram de verdade quando a moça chegou e confirmou tudo. Sonhava tanto em aprender que quando ia comprar alguma coisa montado no lombo de um jumento, passava por perto da escola, amarrava o animal e ficava ouvindo eles aprenderem e passava a tarde toda. Quando chegava em casa minha mãe questionava você foi no Lapão ou no Japão?”, lembra o poeta.

Infelizmente, a vontade de aprender chocava com a dura realidade e o sonho de frequentar as salas de aula para se tornar “um homem letrado” se tornava cada vez mais distante. “Foi muita vontade, mas fiquei só na vontade. Minha mãe era viúva e tinha seis filhos, ela me dizia: ‘Vamos plantar um algodão se a lagarta não comer compro sua farda, e você vai para escola’, mas foram anos duros, a região passava por uma seca danada, sobrevivíamos com cuscuz de mucunam, que é um caroço vermelho e venenoso, mas colocávamos de molho, quebrava a casca e tirava uma folhazinha que tem dentro e moía. Então, realmente, não tinha como estudar e chorava que as lágrimas desciam. Fiz até um verso que é mais ou menos assim: Na idade de dez para onze anos / sorri pouco porque a coisa era muito feia / só comia um alimento que não era do mato / se fosse em casa alheia”.

“Hoje sei escrever um pouquinho e fazer umas continhas. Não leio cantando como um formado, mas graças a Deus, não sou cego”, ele diz. Mas, nem só de poesia se inspira Alfredo, o poeta sertanejo, que também “toca uns tonzinhos” para se divertir. “Comecei a tocar com 12 anos, na época que fiz o cavaquinho, via meu tio fazendo uns tons e fui aprendendo. Logo as pessoas me chamavam para bater uma sanfona e tocar violão, mas hoje é só para se divertir em casa. Toco umas músicas de igreja, uns sambinhas e uns sucessos de Amado Batista, Waldick Soriano, Vicente Celestino e Alvarenga e Ranchinho”.

Alfredo casou a primeira vez com 16 anos, teve dois filhos e ficou viúvo. Ainda jovem começou a labuta. Após a vida do campo, trabalhou durante 40 anos como barbeiro e marceneiro e conta orgulhoso que todo serviço era feito com prazer. “Gostava quando cortava o cabelo e o cliente exigia o corte e qualidade no serviço. Se fosse fazer um móvel, fazia com todo capricho, escolhia sempre uma madeira boa e buscava a perfeição. Fiz móveis que até hoje nunca descolaram uma placa. Ganhei fama por aqui, o povo comentava: ‘Esse é bom no machado’.”

Apesar de nunca ter lido um livro de poesia, os versos de Alfredo brotam com naturalidade. Com uma linguagem regional, rica em detalhes e lembranças de um povo sofrido e lutador, o poeta sonha em publicar seus versos, já impressos artesanalmente, feito cordel, e distribuído na cidade. Porém, esse almanaque vivo, simples, inocente e sábio, precisa de apoio para imortalizar suas lembranças, seja para falar de um sorriso de uma criança, uma gameleira ou de uma gruta, Alfredo deseja publicar um livro, e contribuir para deixar escrita na história a riqueza e a poesia do homem do campo.

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pedro moraes 1

Por Flávia Vasconcelos

Que a criatividade musical na Bahia é intensa, ninguém pode negar. Muitos ritmos desabrocharam de mentes inquietas, que não temem o novo, as experimentações e a mistura. E Pedro Moraes é uma dessas mentes baianas sempre efervescentes, faz parte de um grupo seleto de músicos soteropolitanos unindo refinamento e sabedoria musical à simplicidade de abrir-se a novas ideias, junto a novas gerações.

A música parece alcançar o seu íntimo como poucas coisas na vida. É como ele diz sobre o seu processo de produção “quando toco, nem pareço ser eu!”. Dono de uma sensibilidade ímpar, o músico possui uma sabedoria musical muito sólida, que vai desde a história da música em si e sua interferência na sociedade, até a prática, tocando música barroca, rock, tropicalismo, bossa nova, samba canção, além dos frevos que ecoam da guitarra baiana, seu preferido dentre os muitos instrumentos que sabe tocar. Sabe e tira deles o som que quiser e o que a imaginação pedir. Ele tem instinto musical.

Sempre apostando nas experimentações, foi um dos primeiros músicos a tocar na noite – ou nos bailes da vida, parafraseando Milton Nascimento – a música barroca, de um jeito bem particular e agradável ao seu eclético público. Arriscou-se também, nos anos 80, a tocar os clássicos dos Beatles no bandolim, como nenhum outro músico tinha feito até então. “A maioria dos músicos não arrisca por medo da crítica”, observa. “Eu chegava no barzinho, ali na Visconde de Itaboraí (bairro de Amaralina, orla de Salvador-BA), com o bandolim, e um outro músico trazendo o violão, e o pessoal falava: vai ter chorinho ou samba. E não tinha nada disso, era Beatles mesmo. E o público gostou.”, recorda.

Pedro começou a carreira em 1978, aos 16 anos, levando para os pequenos bares as fortes influências da Bossa Nova, os clássicos de Maysa, e, paralelo a isso, as músicas de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Novos Baianos. De perto, acompanhou Dodô e Osmar, toda a família Macedo e o pau elétrico, depois chamado de guitarra baiana, nos carnavais e nos ensaios, como um fã e admirador da habilidade e criatividade musical dos músicos que tinham reinventado o Carnaval baiano. Tornou-se, tempos depois, um exímio tocador de guitarra baiana e integrante do primeiro encontro, em 2007, do Grupo da Guitarra Baiana em Salvador.

A guitarra baiana e o Carnaval

A sua relação com a guitarra baiana rendeu boas histórias, inclusive com Aroldo Macedo, que chegou até ele de uma pedro moraesforma inusitada e o inseriu nesse ambiente, que ele diz ser muito saudável. “Se antes eu já tinha paixão pela guitarra baiana, hoje eu tenho muito mais, porque não se vê estrelismo entre os músicos.” Após descobrir que a afinação da guitarra baiana coincidia com o instrumento que já tocava, e ver Luiz Caldas e outros artistas tocarem no Trio Tapajós nos carnavais, e a Cor do Som tocando os frevos pernambucanos e as músicas clássicas de Mozart, Pedro resolveu experimentá-la e aprendeu a tocar o instrumento.

Em 2006, após adquirir um bandolim encomendado, e tocá-lo em alguns ensaios com amigos, Pedro recebe em casa uma ligação, numa tarde, de Aroldo Macedo, que se apresentou só como Aroldo, querendo saber um pouco mais sobre o bandolim. Pediu que tocasse o instrumento e, por telefone, Pedro tocou um trecho de uma música do próprio Aroldo, sem saber que o seu ouvinte era o compositor de fato. Depois de algumas músicas tocadas, segurando o telefone, Aroldo elogiou o que tinha ouvido e foi ai que Pedro reconheceu a voz. Querendo certificar-se de que a sua desconfiança era real, perguntou se o “tal” Aroldo tinha Macedo no nome e, após a confirmação, o nervosismo de fã veio à tona. Depois dessa conversa, marcaram um encontro, e Aroldo foi até a casa do fã, que tinha se transformado em parceiro, para ver o dito bandolim. Daí por diante, Pedro Moraes fez algumas apresentações com a família Macedo, a mesma que ele tanto admirava quando era folião e acompanhava atrás do trio elétrico.

Pedro Moraes e Aroldo MacedoO Carnaval passou a ficar ainda mais presente na vida do músico. Segundo ele, a festa tem estado bem mais profissional, e a guitarra baiana, símbolo da festa, tem retornado ao cenário musical com a ajuda da família Macedo, com Armandinho e Aroldo, e também de músicos da nova geração, como a banda Retrofoguetes, que, em seus shows pelo Brasil, sempre reserva um espaço para tocar o instrumento. E Pedro Moraes faz parte dessa comitiva pela redenção da guitarra baiana, sendo convidado para tocar em alguns shows.

Experiências musicais

Talvez a característica maior de Pedro Moraes seja a facilidade de experimentar vários estilos musicais. A sensibilidade e a intensidade com que faz seu trabalho permitem que ele perpasse por mundos diferentes. Um exemplo disso foi o período em que integrou um grupo de música árabe, tocando bandolim e, ocasionalmente, guitarra baiana. Saiu do grupo depois de quatro anos, mas continuou com essa vertente fazendo shows em eventos de dança do ventre e em teatros. Em 2008, fez apresentações no Teatro dos  Correios, no Teatro Anchieta e na Boomerangue, com a banda Retrofoguetes, acrescentando ao seu vasto repertório musical, e ao seu conhecimento sobre a história, o universo da música árabe. “De umas duas décadas pra cá, a forma de tocar música árabe mudou muito. Você ouve música eletrônica, salsa, tango e música francesa com levada de tambor árabe”, explica o músico.

Pedro Moares em show Tributo a Clara Nunes

Encantado com essa nova experiência, ele começou a compor, utilizando instrumentos de corda, como bandolim e a própria guitarra  baiana, misturando o árabe com o ritmo latino em músicas como Flor de Guadalupe e O Fio de Ariadne, usando como mote a importância da mulher na vida de um homem, e Dança das Fadas, nunca gravada, que simboliza sua própria sensação de ver, ao lado de determinadas bailarinas de dança do ventre, uma fada dançando. “Como se fosse um anjo da guarda”, complementa.

Para Pedro Moraes, estar compondo é “como se fosse conhecer um novo amor”. A música, para ele, preenche algumas lacunas na sua vida e tem sido uma companheira inseparável. Mesmo com uma vida tão misturada à música e tendo construído uma bagagem invejável de repertório e conhecimento musical, Pedro sempre teve outro trabalho em paralelo, na área financeira e contábil, sem qualquer relação com a arte, para apenas pagar as suas contas. Afinal, além de ser o Pedro sensível, que altera os seus sentidos e sublima quando compõe ou toca um instrumento, ele também é um cidadão que assume compromissos comuns, como qualquer outra pessoa. Porém, afastado do trabalho, Pedro Moraes tenta ser, por inteiro, realmente o que sempre foi: músico. E busca ainda mais se profissionalizar e divulgar o seu trabalho.

Atualmente, Pedro Moares se apresenta todas as quintas-feiras no bar Café & Cognac, no Rio Vermelho, às terças-feiras no Kebab, na Barra, além de fazer alguns trabalhos com a Escola Musical Center.

Contatos de Pedro Moraes:

Tel: (71) 9932-6161

E-mail: prlmoraes@hotmail.com

Myspace: http://www.myspace.com/pedromoraesmusico

Blog: www.pedromoraes.wordpress.com

Pedagogia ou Engenharia? Talvez Direito… ou até Medicina. Vou para Salvador? Campina Grande? Ou continuo aqui? Diante de tantas possibilidades ou da inexistência delas, um dos grandes dilemas dos jovens que acabam o ensino médio é a difícil missão de escolher qual rumo oferecer para sua vida. Especialistas aconselham que não adianta pressa.

Para a aluna Rafaela Dourado, que acaba de concluir o ensino médio no colégio EdiMaster, a situação fugiu dos limites: “tive uma dúvida enorme, fiquei desesperada, chorei, me senti triste procurei até uma psicóloga. Não sabia o que fazer. Era como se nenhum curso tivesse haver comigo. Resolvi relaxar e fazer direito igual ao meu pai, se não me identificar com a área, faço outro curso depois”.

Professor Sérgio Luis

O professor Sérgio Luís, coordenador pedagógico e professor do Curso Pré Vestibular da UNEB em Lapão comenta que casos desses acontecem porque geralmente os alunos nessa faixa etária “não têm a maturidade de escolha necessária, até porque, não existem no currículo escolar disciplinas que estimulem a parte vocacional. Sempre aconselho a ter calma e decidir a opção com serenidade. Realize estudos prévios sobre as opções de curso, e escolha o seu sonho, esse é o segredo”, orienta Sérgio.

Mesmo com a opção definida, a estudante Louise Almeida sofreu com a ansiedade. A jovem garota de 16 anos, ao fazer o ENEM, relata que só conseguiu entregar a prova nos últimos minutos, porque com o nervosismo, ela perdeu muito tempo. “Quero pegar o resultado da prova e tentar engenharia em Salvador. Pensei na UNIFACS, mas estava tão agoniada na hora da prova que não sei se tive a pontuação necessária. Errei algumas coisas que sabia a resposta”. Para o professor, uma dica importante para solucionar essa problemática é desenvolver uma rotina de atividades como “resolver constantemente simulados, responder questões de vestibulares e fazer provas como a do ENEM. Isso é importante, porque oferece experiência, ameniza a ansiedade e o aluno se sente mais seguro”, diz o professor.

Com os altos índices de desemprego, muitos jovens transferiram o sonho de cursar uma universidade para conquistar um emprego bem remunerado e estável, é o caso de Eliane Martins, do Colégio Modelo, que já fez sua escolha. “Pretendo fazer concurso. Vestibular só se aparecer oportunidade, mas ainda estou em dúvida do curso. Prefiro fazer concurso porque o emprego é garantido e acho que assim dá pra conhecer melhor uma área e aí depois é só se especializar nela,” diz Eliane. Já o estudante Marcelo Lopes,  diz que inicialmente pretende “ingressar no mercado de trabalho durante seis meses e depois prestar vestibular para medicina. Eu sou muito ambicioso quando se trata de estudo, quero estudar para ter um bom emprego e um bom salário”.

Apesar da ansiedade, mercado de trabalho e indecisão, o professor Sérgio Luís, alerta que o principal problema é que existe uma carência de sonhos nos estudantes, de acordo com ele, “muitas famílias ainda não têm essa cultura do vestibular, elas acreditam que quando acaba a oitava série eles já estão formados e não incentivam a busca dos filhos. Também a falta de estrutura nos colégios ajudam, como a falta de professores, aulas vagas, principalmente na área de exatas, como física e química e a falta do estímulo de alguns professores que não incentivam os alunos a buscarem um vestibular. Por esses motivos muitos me questionam: para que vou estudar se vou para roça? Se encontramos tantos com anéis de formatura na roça? É triste mas muitos alunos não tem o sonho do vestibular enraizado. Mas isso está mudando, tenho alunos que saem  dos povoados para estudar no cursinho e não faltam um dia”.

Pedro Moraes

“Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
E a gente pega na viola que ponteia E a canção é a Lua Cheia a nos nascer do coração
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão

Mas como é lindo ver depois pro entre o mato
Deslizar calmo regato transparente como um véu
No leito azul das suas águas murmurando
E por sua vez roubando as estrelas lá do céu”

Luiz Gonzaga

O Curta ” Véi Lô e as velas do Cruzeiro…”  estará sendo exibido no Festival dos 5 minutos, na Mostra Panorama Nacional. Compareçam! conto com a presença de vocês.

 

PROGRAMA 16 − 52’27”
21.11 (sáb) − 16h − Sala Walter da Silveira

Tratado de Solidão
Lívio Maynard | 05’00” | FIC | 2009 | Salvador – BA
liviomainard@gmail.com

Trilhos
Andréa Souza | 02’53” | DOC | 2008 | Nova Iguaçu – RJ
decupagem@yahoo.com.br

Triste Bahia
João Nicanor | 04’41” | DOC | 2009 | Salvador – BA
joaonicanor@bol.com.br

Trompe L’oeil
Milianie Lage Matos | 05’00” | EXP | 2009 | Salvador – BA
milianie@gmail.com

ÜberGlam
Daniel Fróes | 04’58” | CLIP | 2009 | Salvador – BA
daniel.froes@gmail.com

Um Menino Uma Flor
Caó Cruz Alves | 04’00” | ANM | 2009 | Salvador – BA
caocruzalves@gmail.com

Véi Lô e as Velas do Cruzeiro…
Pedro Moraes, Flávia Vasconcelos | 05’00” | DOC | 2009 | Salvador – BA
fauvascon1@gmail.com

Velotroz − Vizinha Suicídio
Rafael Jardim | 04’47” | CLIP | 2009 | Salvador – BA
rafaeljardimcine@gmail.com

Vídeo Estado Simulacro Cinematográfico
Bárbara de Azevedo | 04’37” | EXP | 2009 | São Paulo – SP
cineartesvisuais@gmail.com

Vinte Nove e Noventa
Expinho | 03’54” | EXP | 2009 | Salvador – BA
tiago13espinho@hotmail.com

Voltando para Casa
Salomão Gidi | 05’05” | Aventura | 2009 | Salvador – BA
rsgidi@hotmail.com

 

O curta Véi Lô e as velas do cruzeiro… de Flavia Vasconcelos e  Pedro Moraes, foi gravado em abril de 2009, na Fazenda Periperi, localizada em Matina (aproximadamente 900 km de Salvador), na Semana Santa, período que os mortos são homenageados. O personagem principal é um senhor de 88 anos, o Véi Lô, que, em uma conversa com sua neta Camila, fala sobre costumes e o ritual de acender velas para os parentes mortos no cruzeiro do cemitério da fazenda.

Durante a conversa – o fio condutor do enredo – é possível observar o comportamento dos antigos moradores do sertão baiano, representados por Véi Lô, no sotaque, na característica física, na vestimenta, no uso do cigarro de palha e o processo artesanal de fazê-lo, evidenciando a ligação íntima com a terra, já que é dela que se tira a palha do milho, matéria prima do cigarro.

Outro tema que valoriza a memória e os costumes do sertanejo baiano é o ritual, feito todos os anos, no período da Semana Santa, por Véi Lô e os seus vizinhos e que é mostrado durante a conversa entre o personagem principal e sua neta. Durante a noite, todos se encontram no cemitério da fazenda e, aos pés do cruzeiro, acendem velas e rezam para os parentes e amigos mortos. A beleza está na devoção e respeito aos mortos, tradicionalmente conservados pelos moradores e na estética das imagens, provocada pelas chamas das velas, que juntas, iluminam o nosso personagem.

Véi Lô e as velas do cruzeiro… é um curta, de gênero documental, que registra a personalidade simples e quase ingênua, porém rica em detalhes, de um senhor sertanejo e a valorização dos seus costumes, que não sofreram interferências do mundo urbano e da modernidade.

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Há trinta anos saia de Cabrobó, interior Pernambuco, mais um pau-de-arara com pessoas que sonhavam com dias melhores. Ao ouvir falar na terra do feijão, seu Otacílio não pensou duas vezes e viajou com sua esposa, dona Josefa e os dez filhos em um caminhão fretado por sonhadores. Dentre eles estava Severino que relembrando o passado narra um pouco de sua história: “Vimos em busca de trabalho, não conhecíamos nada por aqui, porém a situação em Cabrobó estava difícil e sempre alguém dizia para gente que Irecê tinha muito serviço então meu pai veio conferir. Por aqui deu certo, gosto muito da cidade, mas sinto saudade do rio São Francisco. Quando era menino me divertia pulando da ponte para água, são momentos de uma boa infância”, conta Severino Ferreira de Lima, conhecido como Bil.

O jovem pernambucano logo conseguiu emprego na Bahia e nas lavouras da região de Irecê e oeste baiano, Bil trabalhou como tratorista por mais de 20 anos, plantando soja, algodão, milho, feijão e mamona. Casou-se três vezes, sendo que o primeiro casamento durou dez anos, o segundo cinco e o terceiro quarto. “Hoje estou só, mas em busca de um novo amor porque ainda sonho em ter um filho. Tem umas moças que me procuram perguntando se sou casado, mas gosto de ir atrás, essas assim não dão certo”.

Já com 41 anos, Bil conta que de seus amores a segunda esposa foi a que mais marcou e voltaria a viver com ela, porém o orgulho dos dois lados, não conseguem cicatrizar as mágoas do passado. “Uma mulher que sinto falta é Luzia, ela era muito boa para mim, mas o ciúme estragou muita coisa. Nós brigávamos muito e juramos um para o outro nunca mais se falar. Um tempo depois ela se casou novamente e se separou, também está só, mas hoje, um passa pelo outro de cara fechada. Tenho vergonha de procurá-la e tentar voltar, mas se ela me procurasse,  ficava com ela e tentava tudo novamente”.

Com um sorriso e expressivo e um papo amistoso, o ex-agricultor trabalha numa barraca que era de sua mãe, que se aposentou há três anos. Todos os dias, bem cedo, ele abre o local e começa a vender um pouco de tudo, dentre outros, bebidas, chocolate, balas e lanches. “Hoje o que mais vende é água de coco, os salgados e a velha pinga de raiz”. Falando em pinga, a barraca do Bil conserva a tradição e tem uma variedade impressionante de cachaças. Tem para todos os gostos, é carapiá, umburana, quebra-facão, jatobá, catingueira, quebra-pedra, camaçari, para tudo, pindaíba, dandá,  cambuí,  junco, cidreira, capim santo e erva doce. “Compro as ervas no mercadão, jogo na garrafa com pinga pura dá boa e deixo curtir. Depois de uns três dias ela já pronta”, revela Severino.

Bil comenta que a barraca além de ponto de encontro para as pessoas que pegam ônibus para cidades vizinhas, também serve de “farmácia”. “Os caras chegam aqui e dizem: Bil, bota ai uma dose para dor de coluna, ai toma um jatobá, se tiver de disenteria vai de umburana, se tá com tosse toma uma pindaíba e se aparecer com dor nos rins o cara vai de quebra-pedra. Não sei se funciona mas eles dizem que melhora na mesma hora(risos)”.

Pedro Moraes

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Catar material reciclável é uma opção viável para enfrentar o desemprego nos grandes centros urbanos e municípios do interior. Mesmo com um trabalho duro, pessoas como Givanilton, Ronaldo, Joabe, Jaqueline e Valci têm orgulho do que fazem e colocam a mão no lixo para retirar papel, plástico, ferro e alumínio, transformando-os em emprego e renda.

Há cinco anos, Givanilton Silva Evangelista, começou no ramo, ele conta que trabalhava no aterro sanitário de Irecê, até surgir a ideia de criar uma cooperativa.  “No lixão era bom, mas criamos a COORECICLA que nos ajudou bastante. Hoje tenho uma renda fixa que varia de R$ 200 a R$ 250 por mês, que já dá para ir tocando a vida”. Givanilton trabalha na cooperativa com a esposa Jaqueline Costa da Silva, que além de catar material com o mari-do é a responsável por limpar o espaço de trabalho dos cooperados. “Não tem trabalho melhor que esse, cato todos os dias lixo reciclado e moro aqui na cooperativa, não pago aluguel. Juntando o meu salário com o de meu marido dá para cuidar de nossos dois filhos”, comenta Jaqueline.

Joabe de Jesus trabalha desde criança na atividade, meio cigano, como ele gosta de se definir, diz que por todas as cidades que passou sofreu por algum tipo de preconceito, mas com muito orgulho, afirma, “tem muita gente que me olha com cara feia, mas não conheço nada mais rico que o lixo. Agente não investe, só faz ganhar, o lixo é rei! É de lá que tiro meu sustento, coloco minhas mãos nas lixeiras e faço meu trabalho com orgulho para não precisar pedir nenhum copo de água a ninguém”.

Os catadores vedem o material coletado em ferros-ve-lhos ou em empresas especializas. Para isso, o lixo é prensado, depois amarrado em fardos, que pesam em média 120 kg, para serem comercializados por: R$ 0,07 o kg do papelão, R$ 0,50 o kg do ferro e R$ 0,10 do plástico.

Ronaldo Assis é um dos responsáveis na COORECI-CLA por prensar o material coletado, segundo o cooperado, foi com esse emprego que ele conseguiu a estabilidade de um trabalho, “fazia bicos como pedreiro, mas trabalha apenas uma semana ou duas. O salário era incerto, agora não, todo fim de mês recebo por produção de R$250 a R$300”. Na mesma situação vivia Valcir Santos, o ex-lavrador disse que perdia muitas safras e era difícil para pagar as contas no fim mês pela falta de uma renda fixa. “Não me arrependo de ter largado as lavouras. O começo como catador foi difícil, hoje, já conheço todo mundo, tem dono de mercadinho que guarda papelão e latinha para mim e já recebo até R$ 400. Minha vida mudou bastante”.

Pedro Moraes

DSC06738 (Small)Lineage, Control Strike, GTA ,The Sims, The Duel,  e muitos outros nomes estranhos, como estes, podem parecer algo abstrato para a maioria das pessoas, porém, para alguns jovens apaixonados por jogos eletrônicos esses nomes são sinônimo de entretenimento, dedicação e dependência.Paulo Damasceno de 14 anos, diz que já chegou a jogar 18h por dia, “só não fico na frente do computador quando estou na escola, passo horas conquistando novos itens no jogo como armas, armadura  para lutar  virtualmente com meus colegas. Quero ser o mais forte do servidor.”

Toda essa dedicação infelizmente traz consequências negativas, o estudante Atos Oliveira, 19 anos, comenta que já perdeu de ano na escola  e até uma namorada. “Jogo Lineage há 4 anos, atualmente fico de 2 a 3h por dia no game, estou me controlando para reduzir. Quando era sexta série, ficava muito mais tempo, chegava a 6h, acabei repetindo o ano e sendo largado pela namorada. Na época, morava em Irecê e ela em Lapão, deixava de vê-la para ficar jogando, quando ela soube inventou uma historia e não quis mais”.

“Quando alguém me proíbe de jogar, fico mal, me sinto como se não tivesse nada para fazer, fico entediado, não vou estudar porque sinto raiva de quem proibiu e tudo piora. Jogar já me prejudicou muitas vezes, quase todas as recuperações que fiz no colégio foi porque deixei de estudar para jogar”, comenta Paulo.

Diversos estudos apontam que os jogos eletrônicos, a principio, não são um problema e ajudam no desenvolvimento do raciocínio, porém eles viram um problema grave quando interferem na rotina do jogador, gerando, por exemplo: baixo rendimento na escola, falta de sociabilidade, depressão, diminuição dos hábitos de higiene pessoal, falta de apetite, enxaqueca e insônia. Nesses casos os responsáveis devem ficar atentos e se o problema não for resolvido apenas com o diálogo ou naturalmente, vale a pena procurar a ajuda de um profissional.

No mundo dos jogos virtuais os jovens se transformam em quem querem, ganham poderes especiais, enfrentam batalhões e vivenciam uma fantasia que gera prazer. Porém essa sensação pode ser “a ponta de um iceberg” escondendo problemas maiores como depressão ou transtornos compulsivos.

Em entrevista a revista Época, o psiquiatra Daniel Spritzer, especialista na temática, alertou que “o organismo de um viciado em jogos de computador reage de maneira parecida ao de um viciado em drogas como crack ou cocaína. Quando a pessoa está jogando, seu cérebro libera uma substância chamada dopamina, que causa sensação de prazer e euforia. Isso faz o viciado querer passar todo o tempo jogando. Enquanto no organismo do viciado em drogas a dopamina é liberada por um estímulo químico, no viciado em jogos de computador ela é liberada por causa de um comportamento repetitivo”, diz o psiquiatra.

Pedro Moraes

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