Funcionário público em horário comercial e artesão nos momentos de folga,  para Gilton Alves da Mota, ou simplesmente,  “Gilton das cadeiras”, um pneu usado e largado numa borracharia é sinônimo de arte, sendo matéria prima para a construção de cadeiras arrojadas e arranjos para flores. A fórmula da transformação parece ser simples, porém, trabalhosa. “Primeiro separo, uma serra, lixadeira, faca martelo e pregos, depois pego o aro do pneu, corto com uma lixadeira e divido em quatro partes, junto as duas e prendo com pregos. Com outro aro, coloco um trançado de borracha e faço um assento. Depois pego mais um aro e fixo em um suporte de madeira para fazer o encosto”. Após finalizar a estrutura da cadeira, “faço o acabamento e com uma faca vou cortando os excessos de borracha. Em seguida, lavo para deixá-la bem limpa, até ficar no ponto ideal para pintar com a cor desejada”, explica Gilton.

A ideia de fazer esse trabalho surgiu de um bom bate-papo com a colega Conceição, que percebendo a habilidade do amigo para o artesanato ofereceu algumas dicas e transmitiu os primeiros passos. “Há uns seis meses, ela me deu uma noção e logo comecei a fazer as cadeiras e vasos. Hoje, já estou com outros planos, estou elaborando sandálias e um sofá. Mas só conseguir, porque trabalhei com meu pai quando tinha treze anos na oficina dele, na época construía carros de madeira, candeeiros, cuscuzeiros e até aviãozinho, isso foi aumentando a habilidade para o artesanato”.

“Trabalhar com esse material é importante, pego um pneu que não será mais usado, que só serve de entulho e dou uma nova vida a ele, nesses dias achei dois e fiz uma cadeira. É bom para mim e para o meio ambiente”. Quando não encontra pneus jogados Gilton gasta, em média, R$30 por peça. “Para fazer uma cadeira utilizo dois pneus, a matéria prima não é cara, mas o trabalho é grande, por isso venho fixando um preço. A depender do estilo cobro R$ 100”. O trabalho de Gilton vem chamando atenção da região, segundo o artesão, a lista de encomendas vem crescendo e frequentemente  atrai muitas pessoas quando coloca as cadeiras pintadas na porta para secar. “Quando deixo secando sempre aparece alguém perguntando o preço e querendo comprar. Acabo de mandar treze cadeiras para Central e estou trabalhando agora em outra encomenda maior”.

Iniciativas de pequenos recicladores, como Gilton e das grandes empresas de reciclagem fazem a diferença. Com quatorze fábricas espalhadas no país, às indústrias pneumáticas fabricam por ano no Brasil cerca de 61,5 milhões de pneus. Os dados apresentados pela Associação Nacional das Indústrias pneumáticas podem ser vistos como um ótimo índice econômico, porém, além do consumo elevado influenciado pelas altas vendagens de veículos novos e usados, é preciso refletir, o que está sendo feito com os pneus desgastados, estimados em 30 milhões por ano, que se jogados na natureza demoram mais de 600 anos para se decompor. Com o objetivo de minimizar a degradação causada pela fabricação do pneu, foi desenvolvida uma técnica de recauchutagem, colocando novas camadas de borracha nos pneus antigos, a iniciativa garante o dobro de vida útil para a unidade, gerando uma economia de material prima em 80%. O Brasil ocupa a 2º posição no ranking mundial de recauchutagem.  Além dessa possibilidade, grandes empresas se especializaram na reciclagem dessa borracha, servindo para pavimentação, cobrir áreas de lazer e quadras esportivas, fabricar tapetes para automóveis, sapatos, sandálias, colas, adesivos, câmaras de ar, rodos domésticos, tiras para indústrias de estofados e buchas para eixos de caminhões e ônibus.

Se você se interessou pelo trabalho de Gilton das Cadeiras, entre em contato com o artesão: (74) 9997-1698

Considerado por muitos o boêmio mais antigo da região, o lapoense conhecido como “Quinho”, de 80 anos, esbanja energia e mesmo após muitos carnavais não perde uma festa, estando sempre pronto para dançar a próxima música. “Minha pressão arterial é doze por oito e o coração está inteiro, quando vou ao médico o pessoal fica admirado com minha saúde. Tenho essa idade e desafio qualquer jovem ou velho a me acompanhar, os novos de hoje estão acabados e os velhos de minha época, também. Posso curtir mais de dez noites seguidas e no outro dia não sinto nada. As vezes estou em casa e basta ouvir um som na rua, bato o pé e já estou pronto para a folia. Todo fim de semana vocês me encontram na boemia, pode ser no bar de Enoque, Forró da Neura ou qualquer outro local da região que venha um cantor de fora”.

Casada há quase 54 anos com Quinho, dona Neuza diz nunca ter sentido ciúmes do marido, e não se importa com as constantes farras do boêmio lapoense. “Ela não gosta de sair, foi uma ou duas vezes no carnaval e nunca mais quis ir. Às vezes chego amanhecendo o dia e ela nunca diz nada, criei meus seis filhos, mas nunca perdi minhas farras. Se o cara tem energia, tem que curtir, não é mesmo?”, salienta Quinho.

Conhecido na região por suas habilidades como dançarino, Quinho dança de bolero a forró e afirma saber dançar quatorze estilos diferentes, acompanhado por uma dama, e qualquer outro ritmo sozinho. Ao se recordar do passado, eufórico, ele conta: “Quando era mais jovem, ganhei o prêmio de dança no salão de Eurico, aqui em Lapão, depois disso um cara de Presidente Dutra me desafiou para ver quem era o melhor dançarino. Fui à cidade dele, dancei muito e ganhei na aposta oito grades de cerveja, fizemos uma farra danada. Na época tinha um sanfoneiro com nome de Muritiba e outro conhecido como Nenem do Belo Campo, e onde eles tocavam estava por perto”.

QUINHO NO FAUSTÃO – Em-polgado com seus talentos como dançarino, Quinho encaminhou um DVD para o programa do Faustão, dançando dez tipos de ritmos para o quadro “Se vira nos trinta”, esperou dois anos e foi chamado. “Foi emocionante, eles pagaram tudo, fiquei em um dos melhores hotéis e conheci vários artistas. Além de Faustão, conversei com o grupo Jota Quest, Ivete Sangalo e Caçulinha.”

Quinho comenta que no dia da apresentação tinha um jogo do Brasil e a equipe estava correndo contra o tempo. Com a pressa, o auxiliar de palco trocou as placas anunciando que ele dançaria merengue e lambada, porém, o que tinha sido combinado era para dançar um pouco de vários estilos. “Sei que comecei a fazer uma dança, só que quando mudei de ritmo, os jurados não entenderam e fui desclassificado. Mas o erro foi deles, fui falar com Faustão e ele concordou comigo”. Quinho não desistiu e logo que retornou encaminhou outro DVD para a produção do Domingão do Faustão dançando desta vez quatorze ritmos diferentes. “Também enviei um para o programa do SBT, “Qual é o seu talento?”, as duas emissoras me pediram para aguardar  um pouco. Quero muito voltar e desta vez vou para ganhar, mas se perder, o que vale é a farra, a aventura e a curtição”.

HISTÓRIA: Francisco Lages de Carvalho ganhou o apelido ainda criança, quando as tias o chamavam de Francisquinho, se abreviando depois para apenas Quinho. Começou trabalhando na lavoura e depois decidiu pintar e consertar bicicletas. “Fiquei alguns anos trabalhando com isso até que comprei um projetor de cinema e passava numa bitola de 16mm filmes de faroeste e guerra por toda região”. O cinema móvel do Quinho passou por Lapão, Campo Formoso, Ibipeba, Barro Alto, São Gabriel, Uibaí, Presidente Dutra, Hidrolândia e Barra do Mendes.

De acordo com Quinho, os salões lotavam nas exibições.  “Naquele tempo não existia cinema na região, fiquei dois anos nesse ramo, até que fiz um rolo”. Quando ele desistiu do ramo, juntou a moto com o projetor e trocou por um caminhão para fazer frete da produção agrícola na região e levar os mascates para feiras de João Dourado, Ibititá e Xique-Xique.

“Sou um homem de vanguarda, sempre gostei de inovar, fiz bicicleta de pau, adaptei caminhonetes, mas era louco por avião. Comprei plástico, fiz uma hélice e comecei a fazer a estrutura da nave, mas mamãe achou que iria morrer, me tomou o material e escondeu tudo (risos)”. Quinho não desistiu do sonho de voar, vendeu uma porca por 53 mil réis e fretou um avião até Xique-Xique. “Fui o primeiro homem da região a voar de avião,” diz, orgulhoso.

Pedro Moraes

 

Um dos maiores álbuns do Pink Floyd está completando 30 anos nesta segunda-feira. ‘The Wall’, lançado em 1979, foi aclamado por críticos e fãs e serviu de inspiração para muitos músicos do rock contemporâneo.

Um concerto de animais, em 1977, serviu de inspiração para Roger Waters criar o álbum. No Canadá, Waters estava sendo importunado por um fã e chegou a cuspir na cara dele. Indignado com o que tinha feito, teve a ideia de construir um muro entre ele e o público, o que gerou no futuro o tão elogiado disco.

O álbum é o 3º mais vendido de todos os tempos nos Estados Unidos e chegou ao topo da Billboard em 1980. Devido ao sucesso, ‘The Wall’ foi reeditado em CD em 1994 no Reino Unido e em 1997 no resto do mundo. Quando completou 20 anos, o álbum ganhou mais uma reedição.

Os leitores da revista Q Magazine elegeram ‘The Wall’ como o 65º melhor álbum de todos os tempos, em 1998, e em uma enquete em 2003, leitores da Rolling Stone o escolheram como o 87º.

O álbum retrata em ficção a vida de um anti-herói (Pink) que é espancado pela sociedade desde os primeiros dias de sua vida. Ele foi sufocado pela mãe, oprimido na escola, e por isso construiu um muro em sua consciência para isolá-lo da sociedade, e se refugiava em um mundo de fantasia.

Além de ‘The Wall’, Pink Floyd tem como seus principais álbuns ‘Dark Side of the Moon’ e ‘Wish You Were Here’.

 

Terra

“Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
E a gente pega na viola que ponteia E a canção é a Lua Cheia a nos nascer do coração
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão

Mas como é lindo ver depois pro entre o mato
Deslizar calmo regato transparente como um véu
No leito azul das suas águas murmurando
E por sua vez roubando as estrelas lá do céu”

Luiz Gonzaga

Assim como em uma projeção cinematográfica, vamos voltar no tempo por 30 anos. Mas nesse filme imaginário, não teremos superproduções norte-americanas e nem o rebuscamento intelectual do cinema europeu, e sim, curtas-metragens realizados com garra e coragem, no semiárido baiano, dirigidos por um “fazedor de filmes”, o soteropolitano de alma sertaneja: Sandoval Dourado.

Filho da artesã de Irecê, Constança, e do bancário aposentado de Canarana, Sinobelino, Sandoval, nasceu em 79. Quando pequeno, passou os seis primeiros anos na capital baiana, até começar uma vida quase nômade, migrando por várias cidades, como Salvador, Itaberaba, Irecê e Andaraí.

Formado em Design pela UNIFACS, sempre gostou de cinema, mas o despertar para sétima arte aconteceu quando morava em Andaraí. “Estavam rodando um filme do lado de minha casa, Tuna Espinheira gravava o longa-metragem Cascalho, então dei para eles todo suporte de informática, montando a rede e daí fui até figurante. Quando olhei aquela iluminação, os profissionais, e toda aquela megaprodução me apaixonei, foi muito interessante”.

Mesmo com o fascínio, o jovem design ficou sem ter contato com a prática cinematográfica por mais três anos, por falta de equipamento. “Foi então que comecei trabalhar com um colega, que foi meu monitor na faculdade. Ele tinha uma produtora de vídeo que fazia filmagens para casamentos, festas e formatura e fui fazer sites para a empresa. Na época, fiquei sabendo de um festival de vídeo da TVE e fiz uma proposta para realizar um curta em Mato Verde de Canarana. Foi dessa experiência que surgiu meu primeiro filme, Amuleto”, conta Sandoval.

O curta-metragem Amuleto nasceu vencedor e conquistou no festival da TVE o prêmio de melhor direção e em Santa Maria no Rio Grande do Sul, o prêmio de melhor vídeo na categoria de até 2 minutos. “Não sei se por competência ou sorte, mas tivemos um ótimo resultado. Foi então que pensei, sem experiência e pouca produção ganhamos de pessoas experientes. Naquele momento que percebi que fazer filmes era o que queria para fazer por toda minha vida”. Amuleto conta a historia de um vaqueiro em 90 segundos, evidenciando seu ciclo de vida, a história gira em torno de um cavalinho que ele guarda como amuleto desde criança.

Em 2007, Sandoval deixou Salvador para morar em Irecê, ao receber um convite de um empresário local, para abrir uma empresa, foi então que surgiu a “Sertão Filmes”. A produtora começou fazendo coisas simples, como filmar festividades, porém de acordo com Sandoval, “essa era só uma forma de ganhar dinheiro, meu intuito mesmo era fazer filmes. Tentei no mesmo ano um curta sobre as lendas do sertão, as famosas livusias. Porém, depois de quase pronto, percebi que ficou muito ruim e fiz questão de apagar tudo”.

“Quando voltei para Irecê as pessoas diziam, você é maluco? Vai sair de uma capital para ir morar no interior e fazer cinema? Mas tem que deixar algum maluco mesmo fazer essas coisas, se não, quem vai fazer? Quero plantar alguma coisa e deixar algo de útil, não adianta passar a vida toda só trabalhando para fazer a feira e morrer fazendo isso, não pretendo ser famoso, mas quero ser reconhecido pelo que faço”, enfatiza Sandoval.

PATUÁ No ano seguinte, a produtora estava com os equipamentos parados, o mercado não estava em uma época boa, mas das dificuldades surgiu a ideia de filmar mais um curta, Patuá. Sandoval convidou parentes e amigos e começaram o novo trabalho. “Começamos a nos reunir, até que minha tia disse para conversar com Sólon Barretto, que ele poderia me ajudar, a principio, relutei. Afinal, não tinha dinheiro para pagar atores, mas para minha surpresa ele me deu o maior apoio e disse: o que você precisar para o elenco pode contar comigo”.

Cena do Filme Patuá

Com a parceria firmada, iniciaram as gravações. As filmagens aconteceram no mesmo local de Amuleto, em Canarana, após quatro dias de muito trabalho, as cenas estavam captadas. Baseado em fatos reais, o filme narra o drama de um sertanejo, onde o pai vai para outra cidade em busca de uma vida melhor, deixando a esposa e dois filhos. Passando por diversas privações a mãe dos garotos conhece um pescador e começa um novo relacionamento. Patuá é um filme bem executado, em todos aspectos, bela fotografia, interpretação, trilha, roteiro e direção. O curta tem um final intrigante, deixando no ar, para o apreciador, diversas possibilidades de conclusão da obra. “O final é trágico. Porém, nem eu mesmo sei o motivo, o final da história é surreal, deixei ele aberto e subjetivo de propósito”.

Patuá que estreou no auditório do colégio modelo em Irecê, ganhou rapidamente o estado e mundo, sendo exibido em vários locais, como, Jacobina e Xique-Xique, Belo Horizonte, Fórum de Cineclubes de Lençóis, Festival Arraial Cinefest de Porto Seguro, Sala Walter da Silveira em Salvador e Rotterdam na Holanda.

“Fiquei sabendo que tinha um festival de filmes independentes e mandei para o “Câmera Mundo” em Rotterdam, mas encaminhamos o vídeo sem pretensões, acreditava que nem ia ser exibido. Fomos selecionados e fui com Sólon para Holanda, o pessoal gostou bastante e mesmo concorrendo com 120 filmes, ganhamos um dos prêmios mais importantes o de “Incentivo Câmera Mundo”, que ele dão ao diretor ou grupo que mesmo com baixo custo conseguiram finalizar o melhor filme. Quando anunciaram os vencedores, não acreditei, fiquei emocionado, pois nunca imaginaria que iríamos ganhar”.

Outro filme do diretor é o curta “Rodagem”, resultado de uma oficina realizada em um distrito de Lapão-BA, de mesmo nome que o filme, onde foram selecionadas pessoas da comunidade interessadas no trabalho. Após as aulas, cada um cumpriu uma função diferente e o resultado foi valoroso. “Senti um compromisso inigualável, das equipes que trabalhei, ela foi a melhor. Não acreditava que iríamos fazer o que conseguimos, deixei tudo na mão deles só fiz a direção. Conseguir plantar uma semente entre eles, a equipe que fez o filme já está filmando outro curta. Espero que daqui a cinco, dez anos muitas pessoas estejam produzindo, esse é meu sonho. Voltei para Irecê não só para produzir cinema, quero incentivar, plantar, para que diversos grupos façam filmes e transformem nossa região em uma referência na área”.

“A fruta e fruteira” é o mais recente curta premiado do diretor. O filme realizado a partir de um convite feito pela escola Edimaster, teve como objetivo concorrer ao festival da Rede Pitágoras em Belo Horizonte. O resultado foi positivo e foi indicado para cinco categorias(trilha, figurino, fotografia, ator e atriz), sendo premiado como melhor fotografia(do próprio Sandoval) e melhor atriz com Marina Andrade.

Influenciado pelos filmes nacionais que trabalham com a temática do sertanejo, Sandoval diz fazer filmes para o povo e não apenas para intelectuais. “Tento fazer vídeos agradáveis, sempre prezando pela técnica, a fotografia mesmo gosto de deixar sempre redondinha”. Atualmente, Sandoval que é assessor da prefeitura de Irecê, está trabalhando em mais um filme: “Minha Vida Não Cabe Em um Outdoor”.

Pedro Moraes

Quadro: Pedro Lima

A Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Irecê promove a partir do dia 23 a exposição de artes plásticas “Novembro Colorido”, com quadros dos artistas Pedro Lima, Galvão Júnior, Akarneiro e Fernando Queiroz. A mostra estará disponível para o público até o dia 27 de novembro, no arquivo público municipal, estando aberta para visitação das 9h às 12h e das 17h às 20h com entrada franca.

Pedro Lima é um artista versátil, tem uma obra marcada por várias fases, desde as paisagens e cozinhas do interior a pintura abstrata. Galvão Júnior  traz nessa exposição coletiva, quadros que representam  a temática sertaneja, entrelaçando-a com a tecnologia. Akarneiro, pinta elementos da alma sertaneja como flores de mandacaru, quiabento, barrigudas, carros de boi, com um toque de surrealismo, no estilo que o pintor chama de  Surrealismo Sertanejo. Fernando Queiroz tem uma pintura realista, mostrando o dia-a-dia do homem do campo.

Para o poeta e diretor do departamento de cultura da Prefeitura de Irecê, André Marques, “o evento nos convida a um processo de empatia, para entrarmos entre a perspectiva e a profundidade do pincelado e nos sentirmos um garimpeiro desta Chapada Diamantina tão bem pintada por Pedro Lima, ou quem sabe um pescador ou uma lavadeira que vive das águas do rio São Francisco coloridas pelas mãos de Fernando Queiroz, ou então um habitante do nordeste morando em um desses casebres retratado por Galvão Junior, que ganha a vida trabalhando em uma casa de farinha destas tão bem feita pelo artista Akarneiro. Então, aos amantes do belo, vamos ver nossa gente e nossa paisagem nos trabalhos destes nobres artistas”, diz André Marques.

Pedro Moraes

DSC06932 (Medium)

 

Já era tarde. Aproximadamente 2h da madrugada em uma quinta-feira, Marcelo*, pai de quatro filhos, casado, 45 anos, não estava em seu lar com  a família e sim apenas começando mais uma noite, sentado numa mesa de bar comendo carne assada e curtindo uma rua vazia regada a muito álcool. Infelizmente, esse não é um dia atípico desta pessoa e sim, sua rotina. Na mesma cidade e noite, em outro bar, encontro Fernando*, um jovem de 25 anos, cabelos compridos, de visual rebelde, porém tímido. Sentado na frente de um balcão sombrio, repleto de copos mal lavados, o jovem agricultor se queixava da vida em um cenário triste e revelador, que se tornou um palco para seu passatempo e fuga diária, se embriagar.

“Colega, vamos fechar”, diz o garçom, mas Marcelo não tem vergonha de insistir a terceira “saideira” da noite. A cerveja gelada com uma fina camada de gelo sobre a garrafa chega na mesa transformando o ato em quase um orgasmo, o já embriagado empresário sorrir e diz com orgulho: “essa Antártica está gostosa”.

“Tive um dia estressante”, comenta Marcelo, “trabalho o dia todo e quando chego em casa só tem problemas para resolver, por isso preciso tomar uma para relaxar. Bebo quase todos os dias, mudo bastante quando dou um gole, sou tímido, fico falante, se estou estressado fico calmo, se triste logo começo a rir. Nunca pensei em parar de beber, minha mulher não gosta, todo dia que chego de madrugada é sempre uma confusão diferente, mas ela querendo ou não preciso curtir um pouco”.

Fernando procura um efeito diferente, para ele, o álcool é uma ferramenta para auxiliá-lo na sedução, porém, o tiro sempre sai pela culatra. “As mulheres não gostam de homens que não bebem. Quando tomo alguma coisa tenho coragem para chegar em uma garota e trocar uma ideia, mas quando estou sem beber, a noite fica chata e nada acontece. O problema é que quando começo a beber não consigo parar e faço coisas que normalmente nunca faria, xingo pessoas que gosto, falo mal, brigo se encherem meu saco e me sinto tão livre que faço desta cidade um Woodstock”.

Segundo amigos, o comportamento de Fernando quando bebe é tão irreverente que acaba afastando todos, inclusive as pretendentes e familiares, gerando preconceito e solidão. “Muita gente fala de mal de mim sem nem me conhecer, me julgam pela aparência, dizem que me viram cheirando cocaína ou fumando maconha, não tenho nada contra as pessoas que fazem isso, porém é muito ruim levar fama de algo que não fiz e quando isso acontece, fico ruim e bebo ainda mais”, desabafa Fernando.

*Marcelo e Fernando são nomes fictícios para preservar as identidades das fontes.

 

Pedro Moraes

Com fé e determinação ele venceu o álcool, o preconceito e refez os rumos de sua vida que estava trilhada para o final de um túnel sem esperança e luz. Influenciado pela figura paterna, João Roberto começou beber com nove anos. “Lembro que fazia compras nos povoados com meu pai e quando ele estava sóbrio me dava uma tubaína para tomar, mas quando ele começa a beber dizia: Você tem que ser igual ao seu pai! Então, lembro que ele bebia e me dava uns goles, ficava rapidamente bêbado. Quando ele ia fumar sempre fazia dois cigarros, um para ele e outro para mim. Apesar dele ter me influenciado com a bebida e cigarro, não tenho mágoas dele, mas tenho certeza que a única coisa boa que meu pai me ensinou foi ser honesto e trabalhador”.

DECADÊNCIA
Quando se tornou adolescente, Roberto deixou suas influencias ganharem “pernas próprias” e o álcool começou a tomar conta do seu dia-a-dia. Ao perceber o erro, seu pai tentou corrigir, oferecendo conselhos e sermões, porém, era tarde, o menino tinha crescido e a droga se tornou uma “amiga” ajudando o jovem ficar mais solto para conquistar as garotas e se divertir. “Comecei a tomar umas duas quando frequentava uma festa, depois esse processo foi evoluindo, na época estava trabalhando e com um dinheirinho no bolso fui cada vez mais me afundando. Tem gente que bebe para cair, no meu caso a situação estava tão feia que estava com a lógica invertida, quando eu parava de beber eu caia”.

A dependência de Roberto com o álcool realmente era grande, ele confessa que quando “ia colher cenoura, deixava um litro de cachaça escondido no reboque do trator e colocava uma mangueira na boca da garrafa, trazendo-a até o banco. Quando sentia vontade de beber, era só puxar a cachaça pela mangueira, fazia isso para disfarçar porque um alcoólatra não gosta de ficar mostrando esse defeito a ninguém”.

Roberto teve um relacionamento rápido com uma namorada e teve um filho, depois conviveu com uma mulher por dez anos tendo mais três crianças. Nesse período ele começou a trilhar, em passos mais largos, sua caminhada para um submundo que parecia sem volta, chegando a ter diversas convulsões e discussões dentro de casa. “A primeira coisa que aconteceu comigo foi considerar como inimigos os meus verdadeiros amigos e familiares que se preocupavam comigo e me davam conselhos para parar de beber. Não me lembro de nada, bater nela eu sei que nunca bati, mas verbalmente sei que a machuquei bastante, fazendo diversas acusações”. A companheira de Roberto, não resistiu à convivência e saiu de casa com os filhos. “Ela levou tudo, só deixou um colchão,” diz Roberto.

Daniel, de 16 anos, filho mais velho de Roberto, ao se recordar de uma época que ele espera que não tenha volta afirma: “Meu pai me mandava comprar bebidas para ele, mas me sentia triste, não gostava de ver as pessoas me dizendo que ele estava louco e que iria morrer, ouvia aquilo e ficava quieto, não falava nada, mas por dentro orava para que Deus ajudasse ele. Pai foi para um centro de recuperação e oramos ainda mais”.

“Sabe Lázaro? O personagem bíblico?” questiona Roberto, “a única diferença que tinha dele era o fôlego da vida, mas já estava cheirando mal, foi então que Militão do Maanaim me procurou e me levou para o centro de recuperação”. O começo foi difícil, a abstinência do álcool no organismo é uma fase complexa que muitos não resistem e abandonam o tratamento, Roberto comenta que foram os piores dias da sua vida. “Quanto mais injeções de tranquilizantes aplicavam em mim, parecia que ficava mais forte. Chegaram a me amarrar sozinho em um quarto, parecia um louco. Nos dez primeiros dias sem álcool não comia por minhas mãos, tremia muito, ficava envergonhado e esperava todos comerem para que quando tivesse mais vazio começasse a me alimentar, mas não conseguia fazer aquilo sozinho, pegava um copo de água e me molhava, foi então que comecei a dar valor a coisas simples, como tomar um banho, usar desodorante ou comer. No centro, via pessoas que nem me conheciam se dedicando, me ajudando e orando por mim, isso me comoveu”.
Uma trajetória de recuperação


image_16-11-2009-10-57-56

Ao lado da esposa, filho e mãe, Roberto vive em harmonia

Após essa etapa, Roberto, sentiu que estava curado e três meses após o internamento pensou em sair do tratamento. “O centro é um local para pessoas com problemas, todos rejeitados, quando alguém fica em um local desses, sozinho, você se pergunta: o que estou fazendo aqui? Foi então que tive um encontro verdadeiro com Deus, senti a presença dele e descobrir que não estava ali para buscar apenas libertação do álcool  e sim uma mudança radical em minha vida.  A partir disso, meu cotidiano mudou e percebi que tinha encontrado um alicerce, que é Jesus. Logo  passei de aluno interno para voluntário e comecei a ajudar os obreiros, viajando com eles para ajudar outras pessoas e captar recursos para instituição”.

Roberto voltou para Lapão recuperado, porém quando chegou muitos indagavam: será que ele melhorou mesmo? “A sociedade não era obrigada a me receber de braços abertos”, reconheceu Roberto,  mesmo assim, ele conseguiu um emprego na construção de uma rede de esgoto e depois outro de padeiro, readquirindo a confiança da sociedade. Com a ajuda de sua mãe, conhecida como “Dona Sinhá”, ele conheceu um novo amor, Célia, estando casado oficialmente há quase quatro anos. “Ela não pode ter filhos, mas Célia me ajuda a cuidar dos meus quatro filhos que hoje moram comigo. Graças a Deus, tudo tem dado certo e vivemos em harmonia”.

“Hoje sou uma referência, era a ovelha negra da família e depois de sair do fim do poço, me tornei diácono de uma igreja evangélica, continuo como padeiro e estou inserido na sociedade. Minha família e amigos se dirigem a mim para pedir conselhos e orações, sinto orgulho da transformação que Jesus fez na minha vida, por isso, dou um testemunho de superação a cada dia com atos, ações e palavras  mostrando que a todos que realmente mudei”.

Pedro Moraes

O distrito de Segredo, no município de Souto Soares, terá na próxima semana (16/11 a 20/11) uma vasta agenda* de atividades em homenagem ao Dia da Consciência Negra, realizando palestras, jogos, shows, apresentações teatrais e diversas manifestações da cultura popular, como terno de reis e reisado.

O evento organizado pela prefeitura, em parceria com a comunidade local e a Associação  dos Povos Remanescentes de Quilombos de Segredo, será iniciado com dois debates relevantes, investindo na formação do público e na conscientização. O primeiro, ministrado pela professora Marlene Araújo, irá discutir a importância e os impactos da lei federal 10.639, sancionada pelo presidente Lula em 2003, que estabelece a inclusão da temática “história e cultura afro-brasileira” no currículo escolar nas áreas de educação artística, literatura e história do Brasil. No segundo momento, Gildeci Nascimento, irá apresentar e debater com o público  a trajetória e a formação das comunidades quilombolas no estado.

“A comemoração do dia 20 de novembro é uma homenagem a Zumbi dos Palmares, um ícone nacional, que se tornou uma referência por sua resistência e perseverança na luta contra a escravatura no Brasil. A criação desta homenagem em âmbito nacional, que já se tornou uma tradição no distrito de Segredo, é uma reverência justa e plausível para que sejam realizados momentos permanentes de reflexão sobre a importância e valorização da cultura africana e povo negro em nosso país”. salienta a secretária de cultura e turismo de Souto soares, Marly Araújo.

Líder da liberdade, traído e morto

Zumbi nasceu no mocambo de Cerca do Macaco, uma aldeia de Palmares, que na época ficava em território baiano(hoje, Alagoas). Quando criança, foi raptado por soldados portugueses e oferecido como forma de presente para um padre da ordem dos jesuítas. O garoto, batizado com o nome de Francisco, aprendeu latim e português e se tornou um coroinha, porém, a vida “engaiolada” não combinava com esse herói e aos 15 anos fugiu retornando à Palmares, onde ficou conhecido por suas técnicas de combate e estratégias de guerrilhas nos conflitos contra tropas portuguesas.

O quilombo ficava à margem do Rio São Francisco, com mais de 200km de extensão,  aglomerando onze mocambos, protegido por aglomerados de soldados e um conjunto de estacas de madeira. Os refugiados viviam da agricultura, com o plantio de grãos, legumes e raízes e da confecção artesanal de vassouras, esteiras e chapéus produzidos com palha de palmeira para serem comercializados em comunidades de pardos que existiam nas proximidades.

Após inúmeros ataques e muitos anos de guerrilha contra Palmares, o governador da capitania hereditária de Pernambuco se cansou da luta que parecia não ter fim e percebeu que o quilombo estava crescendo economicamente, não sendo rentável destruí-lo. Foi então que ele convocou Ganga Zumba, líder dos Palmares, para uma trégua, oferecendo liberdade para os negros do quilombo. Apesar de Zumba aceitar, Zumbi, queria a liberdade para todos e não para um grupo seleto, por isso, não apoiou o acordo. Dois anos depois Zumbi assumiu a liderança do grupo quando, Ganga Zumba morreu envenenado e durante 15 anos Zumbi comandou tropas de resistência que afugentaram os portugueses.

Em 1694, o mocambo do Macaco recebeu um ataque voraz, destruindo o principal ponto de resistência de Palmares ferindo Zumbi, que mesmo com poucas forças se refugiou em outro local. No ano seguinte,  no dia 20 de novembro de 1695, o grande líder foi traído e denunciado para o exército português, que prendeu e degolou Zumbi, salgando sua cabeça e expondo em praça pública para desmitificar a crendice que o herói era imortal. Porém, o que os portugueses não sabiam era que mesmo após mais de 300 anos, Zumbi dos Palmares permanecerá imortal em nosso imaginário, sendo uma referência constante de luta e resistência. Viva Zumbi!

Pedro Moraes

 

 

*Programação da Semana das Consciência Negra no Distrito de Segredo de Souto Soares:

 

segunda-feira dia 16/11

19:30 Palestras:

* A Lei 10.639/03  por Marlene Araújo

*  A trajetória e formação de comunidades quilombolas por Gildeci Nascimento

Apresentação do grupo de Teatro Acelesa Sampaio – Souto Soares

terça-feira dia 17/11

20:00 –teatro Grupo PROJOVEM

20:30 – Teatro –Grupo FILHOS DA ÁFRICA

quarta-feira dia 18/11

19:00- Gincana da Escola Ruy Barbosa

21:00 apresentação do Hip Hop –Resistência quilombola

quinta-feira 19/11

19:00 –culto ecumênico

19:30 cantiga de roda

20:00- apresentação do Terno de reis

20:30 apresentação do Côco

20:50 –Apresentação do Grupo Teatral Acelesa Sampaio

sexta-feira dia 20/11

06:00 – Maratona Souto Soares a Segredo

08:00- apresentação das escolas

10:30 – apresentação do Grupo de Pífano

11:00 apresentação do reisado

11:20 apresentação do samba de roda

12:00 almoço

14:00 apresentação do grupo de pagode ( Gelson)

16:00 apresentação da dança do batuque

16:30 apresentação do Maculele

16:50 apresentação da colheita

17:00 apresentação da capoeira

18:00 inicio do desfile miss e  mister negro

21:00 apresentação do Hip Hop

22:00 festa dançante com a Banda MULEQUEIRA

 

 


O Curta ” Véi Lô e as velas do Cruzeiro…”  estará sendo exibido no Festival dos 5 minutos, na Mostra Panorama Nacional. Compareçam! conto com a presença de vocês.

 

PROGRAMA 16 − 52’27”
21.11 (sáb) − 16h − Sala Walter da Silveira

Tratado de Solidão
Lívio Maynard | 05’00” | FIC | 2009 | Salvador – BA
liviomainard@gmail.com

Trilhos
Andréa Souza | 02’53” | DOC | 2008 | Nova Iguaçu – RJ
decupagem@yahoo.com.br

Triste Bahia
João Nicanor | 04’41” | DOC | 2009 | Salvador – BA
joaonicanor@bol.com.br

Trompe L’oeil
Milianie Lage Matos | 05’00” | EXP | 2009 | Salvador – BA
milianie@gmail.com

ÜberGlam
Daniel Fróes | 04’58” | CLIP | 2009 | Salvador – BA
daniel.froes@gmail.com

Um Menino Uma Flor
Caó Cruz Alves | 04’00” | ANM | 2009 | Salvador – BA
caocruzalves@gmail.com

Véi Lô e as Velas do Cruzeiro…
Pedro Moraes, Flávia Vasconcelos | 05’00” | DOC | 2009 | Salvador – BA
fauvascon1@gmail.com

Velotroz − Vizinha Suicídio
Rafael Jardim | 04’47” | CLIP | 2009 | Salvador – BA
rafaeljardimcine@gmail.com

Vídeo Estado Simulacro Cinematográfico
Bárbara de Azevedo | 04’37” | EXP | 2009 | São Paulo – SP
cineartesvisuais@gmail.com

Vinte Nove e Noventa
Expinho | 03’54” | EXP | 2009 | Salvador – BA
tiago13espinho@hotmail.com

Voltando para Casa
Salomão Gidi | 05’05” | Aventura | 2009 | Salvador – BA
rsgidi@hotmail.com

 

DSC06555 (Large)

 

Criatividade e pluralidade artística podem definir o jovem cineasta, de 17 anos, Alexander Barreto, uma figura promissora que se encantou com o mundo das artes há dois anos e já demonstra potencial para executar belos trabalhos. Convivendo com a arte em casa, influenciada pelo pai Péricles Barreto e o tio Sólon Barreto, ambos nomes conhecidos no teatro da região de Irecê-BA, Alexander realizou três curtas-metragens que disputaram o Prêmio Vitor Diniz, como jovem realizador, no “XIII Festival Nacional dos Cinco Minutos”,  em Salvador. “A Natureza Responde”, “O assalto que não houve” e “Fantasma do Lixo” são obras com preocupação social, debatendo o meio ambiente e violência.  As três produções foram realizadas para o festival e com poucos equipamentos o jovem cineasta se desdobra para participar de todas as etapas de uma criação audiovisual, criando o roteiro, interpretando, dirigindo as cenas, captando som, filmando algumas sequências e editando o vídeo.

O CURTA-METRAGEM “A NATUREZA RESPONDE”, realiza uma reflexão sobre os hábitos de um jovem que no dia-a-dia insiste em destruir o meio-ambiente, mostrando que para toda agressão existe um retorno. O vídeo possui imagens interessantes, criativas e com boas composições de cena, destaco a que o personagem segue em direção a sua “vítima” (uma árvore) e filmando em contra-luz, são evidenciados os detalhes de uma faca passando por um portão de ferro. A edição tem cortes rápidos, com possíveis influências da linguagem do videoclipe e televisão, o roteiro é simples, porém bem elaborado, a interpretação do ator (Alexander) é boa, todavia é preciso ressaltar que o papel não exige muito de suas habilidades. Alexander peca na edição do áudio, utilizando uma trilha alta, em relação a voz e um pouco desconecta das imagens, porém, capta o som ambiente, como ruídos de portas, água e carro com qualidade.

“O ASSALTO QUE NÃO HOUVE” é um vídeo cômico que retrata a noite de dois irmãos gêmeos, mas de personalidades opostas, que ao debaterem sobre a violência são assaltados em casa. O curta ganha um teor engraçado quando a suposta ladra aparece, uma criança baixinha e frágil que enfrenta em um combate marcial os dois irmãos.  Mais uma vez, o vídeo possui boas imagens, os melhores momentos dessa composição ficam em dois pontos. No começo da narrativa onde são efetuados belos closes e na invasão da assaltante onde em preto e branco são intercalados planos abertos e fechados em um bom sincronismo. O roteiro dessa obra poderia ter uma diretriz mais elaborada, pois, fica um pouco óbvio que após debaterem sobre violência e apagarem as luzes vai acontecer alguma coisa. Alexander como ator ganha um novo desafio nesse curta, interpretar dois personagens, essa tarefa ele realizada com sucesso, evidenciando boas expressões faciais, gesticulações e uma dinâmica de texto eficiente. Como diretor e editor, o obstáculo é maior. Em algumas cenas não existe continuidade, fazendo com que o personagem reapareça em lado diferente da cena anterior, em alguns cortes nos diálogos, feitos pelo mesmo ator, as imagens ficam “truncados”.

CONSIDERO “O FANTASMA DO LIXO” o curta mais maduro e elaborado de Alexander. O vídeo realiza um debate sobre o lixo, mostrando a convivência de duas garotas, Ludmila e Nicole, que ao chegar de uma festa jogam papéis no chão e convivem em uma grande bagunça em casa. Ao faltar luz o fantasma se apresenta para dar um “puxão de orelha” nas duas que em seguida mudam o comportamento.

Os três vídeos foram filmados por Alexia Barreto, todos possuem boas imagens, mas em “O Fantasma do Lixo”, existe uma composição diferenciada entres o três, com ótimos movimentos de câmera e uma iluminação (para os equipamentos que a equipe dispõe) bem elaborada. A sonoplastia acerta quando utiliza, em alguns momentos, a mescla entre o silêncio e som ambiente. A trilha é boa e foi executada nos momentos corretos, criando um ambiente de “suspense” no filme. Os cortes de imagem não tiveram grandes desafios, a edição é simples e clássica, mas cumpre o papel. O roteiro é bem feito, intensificando os diálogos e construindo uma história de quatro minutos bem construída. A interpretação cênica dos três artistas (Alana Gondin, Lorena Pinheiro e Alexander) ficou ótima e natural, porém a impostação da voz do “fantasma” poderia ser diferenciada, com mais seriedade e em um tom mais grave.

Uma sequência do filme que comprova as qualidades do diretor é a cena realizada após o desaparecimento do fantasma. Alexander acerta em vários pontos, a trilha começa baixa e vai ganhando fôlego ao decorrer da movimentação de câmera, as imagem são captadas de um bom ângulo(altura do chão), a edição reduz em fração de segundos o tempo dos movimentos, deixando-os mais lentos e realçados, os curtos diálogos funcionam como  informativos de consciência ambiental.

Com alguns erros, naturais pela pouca experiência e muitos acertos, os três curtas apresentados ao festival nacional de 5 minutos por Alexander Barreto, se concretizam com uma amostra positiva do talento do jovem cineasta que tem potencial para realizar trabalhados mais maturados e alçar novas linhas narrativas. Sem dúvidas, fico livre para afirmar: É um excelente começo.

 

Pedro Moraes

O curta Véi Lô e as velas do cruzeiro… de Flavia Vasconcelos e  Pedro Moraes, foi gravado em abril de 2009, na Fazenda Periperi, localizada em Matina (aproximadamente 900 km de Salvador), na Semana Santa, período que os mortos são homenageados. O personagem principal é um senhor de 88 anos, o Véi Lô, que, em uma conversa com sua neta Camila, fala sobre costumes e o ritual de acender velas para os parentes mortos no cruzeiro do cemitério da fazenda.

Durante a conversa – o fio condutor do enredo – é possível observar o comportamento dos antigos moradores do sertão baiano, representados por Véi Lô, no sotaque, na característica física, na vestimenta, no uso do cigarro de palha e o processo artesanal de fazê-lo, evidenciando a ligação íntima com a terra, já que é dela que se tira a palha do milho, matéria prima do cigarro.

Outro tema que valoriza a memória e os costumes do sertanejo baiano é o ritual, feito todos os anos, no período da Semana Santa, por Véi Lô e os seus vizinhos e que é mostrado durante a conversa entre o personagem principal e sua neta. Durante a noite, todos se encontram no cemitério da fazenda e, aos pés do cruzeiro, acendem velas e rezam para os parentes e amigos mortos. A beleza está na devoção e respeito aos mortos, tradicionalmente conservados pelos moradores e na estética das imagens, provocada pelas chamas das velas, que juntas, iluminam o nosso personagem.

Véi Lô e as velas do cruzeiro… é um curta, de gênero documental, que registra a personalidade simples e quase ingênua, porém rica em detalhes, de um senhor sertanejo e a valorização dos seus costumes, que não sofreram interferências do mundo urbano e da modernidade.

DSC06745 (Small)

Há trinta anos saia de Cabrobó, interior Pernambuco, mais um pau-de-arara com pessoas que sonhavam com dias melhores. Ao ouvir falar na terra do feijão, seu Otacílio não pensou duas vezes e viajou com sua esposa, dona Josefa e os dez filhos em um caminhão fretado por sonhadores. Dentre eles estava Severino que relembrando o passado narra um pouco de sua história: “Vimos em busca de trabalho, não conhecíamos nada por aqui, porém a situação em Cabrobó estava difícil e sempre alguém dizia para gente que Irecê tinha muito serviço então meu pai veio conferir. Por aqui deu certo, gosto muito da cidade, mas sinto saudade do rio São Francisco. Quando era menino me divertia pulando da ponte para água, são momentos de uma boa infância”, conta Severino Ferreira de Lima, conhecido como Bil.

O jovem pernambucano logo conseguiu emprego na Bahia e nas lavouras da região de Irecê e oeste baiano, Bil trabalhou como tratorista por mais de 20 anos, plantando soja, algodão, milho, feijão e mamona. Casou-se três vezes, sendo que o primeiro casamento durou dez anos, o segundo cinco e o terceiro quarto. “Hoje estou só, mas em busca de um novo amor porque ainda sonho em ter um filho. Tem umas moças que me procuram perguntando se sou casado, mas gosto de ir atrás, essas assim não dão certo”.

Já com 41 anos, Bil conta que de seus amores a segunda esposa foi a que mais marcou e voltaria a viver com ela, porém o orgulho dos dois lados, não conseguem cicatrizar as mágoas do passado. “Uma mulher que sinto falta é Luzia, ela era muito boa para mim, mas o ciúme estragou muita coisa. Nós brigávamos muito e juramos um para o outro nunca mais se falar. Um tempo depois ela se casou novamente e se separou, também está só, mas hoje, um passa pelo outro de cara fechada. Tenho vergonha de procurá-la e tentar voltar, mas se ela me procurasse,  ficava com ela e tentava tudo novamente”.

Com um sorriso e expressivo e um papo amistoso, o ex-agricultor trabalha numa barraca que era de sua mãe, que se aposentou há três anos. Todos os dias, bem cedo, ele abre o local e começa a vender um pouco de tudo, dentre outros, bebidas, chocolate, balas e lanches. “Hoje o que mais vende é água de coco, os salgados e a velha pinga de raiz”. Falando em pinga, a barraca do Bil conserva a tradição e tem uma variedade impressionante de cachaças. Tem para todos os gostos, é carapiá, umburana, quebra-facão, jatobá, catingueira, quebra-pedra, camaçari, para tudo, pindaíba, dandá,  cambuí,  junco, cidreira, capim santo e erva doce. “Compro as ervas no mercadão, jogo na garrafa com pinga pura dá boa e deixo curtir. Depois de uns três dias ela já pronta”, revela Severino.

Bil comenta que a barraca além de ponto de encontro para as pessoas que pegam ônibus para cidades vizinhas, também serve de “farmácia”. “Os caras chegam aqui e dizem: Bil, bota ai uma dose para dor de coluna, ai toma um jatobá, se tiver de disenteria vai de umburana, se tá com tosse toma uma pindaíba e se aparecer com dor nos rins o cara vai de quebra-pedra. Não sei se funciona mas eles dizem que melhora na mesma hora(risos)”.

Pedro Moraes

DSC06720 (Small)

Catar material reciclável é uma opção viável para enfrentar o desemprego nos grandes centros urbanos e municípios do interior. Mesmo com um trabalho duro, pessoas como Givanilton, Ronaldo, Joabe, Jaqueline e Valci têm orgulho do que fazem e colocam a mão no lixo para retirar papel, plástico, ferro e alumínio, transformando-os em emprego e renda.

Há cinco anos, Givanilton Silva Evangelista, começou no ramo, ele conta que trabalhava no aterro sanitário de Irecê, até surgir a ideia de criar uma cooperativa.  “No lixão era bom, mas criamos a COORECICLA que nos ajudou bastante. Hoje tenho uma renda fixa que varia de R$ 200 a R$ 250 por mês, que já dá para ir tocando a vida”. Givanilton trabalha na cooperativa com a esposa Jaqueline Costa da Silva, que além de catar material com o mari-do é a responsável por limpar o espaço de trabalho dos cooperados. “Não tem trabalho melhor que esse, cato todos os dias lixo reciclado e moro aqui na cooperativa, não pago aluguel. Juntando o meu salário com o de meu marido dá para cuidar de nossos dois filhos”, comenta Jaqueline.

Joabe de Jesus trabalha desde criança na atividade, meio cigano, como ele gosta de se definir, diz que por todas as cidades que passou sofreu por algum tipo de preconceito, mas com muito orgulho, afirma, “tem muita gente que me olha com cara feia, mas não conheço nada mais rico que o lixo. Agente não investe, só faz ganhar, o lixo é rei! É de lá que tiro meu sustento, coloco minhas mãos nas lixeiras e faço meu trabalho com orgulho para não precisar pedir nenhum copo de água a ninguém”.

Os catadores vedem o material coletado em ferros-ve-lhos ou em empresas especializas. Para isso, o lixo é prensado, depois amarrado em fardos, que pesam em média 120 kg, para serem comercializados por: R$ 0,07 o kg do papelão, R$ 0,50 o kg do ferro e R$ 0,10 do plástico.

Ronaldo Assis é um dos responsáveis na COORECI-CLA por prensar o material coletado, segundo o cooperado, foi com esse emprego que ele conseguiu a estabilidade de um trabalho, “fazia bicos como pedreiro, mas trabalha apenas uma semana ou duas. O salário era incerto, agora não, todo fim de mês recebo por produção de R$250 a R$300”. Na mesma situação vivia Valcir Santos, o ex-lavrador disse que perdia muitas safras e era difícil para pagar as contas no fim mês pela falta de uma renda fixa. “Não me arrependo de ter largado as lavouras. O começo como catador foi difícil, hoje, já conheço todo mundo, tem dono de mercadinho que guarda papelão e latinha para mim e já recebo até R$ 400. Minha vida mudou bastante”.

Pedro Moraes

DSC06738 (Small)Lineage, Control Strike, GTA ,The Sims, The Duel,  e muitos outros nomes estranhos, como estes, podem parecer algo abstrato para a maioria das pessoas, porém, para alguns jovens apaixonados por jogos eletrônicos esses nomes são sinônimo de entretenimento, dedicação e dependência.Paulo Damasceno de 14 anos, diz que já chegou a jogar 18h por dia, “só não fico na frente do computador quando estou na escola, passo horas conquistando novos itens no jogo como armas, armadura  para lutar  virtualmente com meus colegas. Quero ser o mais forte do servidor.”

Toda essa dedicação infelizmente traz consequências negativas, o estudante Atos Oliveira, 19 anos, comenta que já perdeu de ano na escola  e até uma namorada. “Jogo Lineage há 4 anos, atualmente fico de 2 a 3h por dia no game, estou me controlando para reduzir. Quando era sexta série, ficava muito mais tempo, chegava a 6h, acabei repetindo o ano e sendo largado pela namorada. Na época, morava em Irecê e ela em Lapão, deixava de vê-la para ficar jogando, quando ela soube inventou uma historia e não quis mais”.

“Quando alguém me proíbe de jogar, fico mal, me sinto como se não tivesse nada para fazer, fico entediado, não vou estudar porque sinto raiva de quem proibiu e tudo piora. Jogar já me prejudicou muitas vezes, quase todas as recuperações que fiz no colégio foi porque deixei de estudar para jogar”, comenta Paulo.

Diversos estudos apontam que os jogos eletrônicos, a principio, não são um problema e ajudam no desenvolvimento do raciocínio, porém eles viram um problema grave quando interferem na rotina do jogador, gerando, por exemplo: baixo rendimento na escola, falta de sociabilidade, depressão, diminuição dos hábitos de higiene pessoal, falta de apetite, enxaqueca e insônia. Nesses casos os responsáveis devem ficar atentos e se o problema não for resolvido apenas com o diálogo ou naturalmente, vale a pena procurar a ajuda de um profissional.

No mundo dos jogos virtuais os jovens se transformam em quem querem, ganham poderes especiais, enfrentam batalhões e vivenciam uma fantasia que gera prazer. Porém essa sensação pode ser “a ponta de um iceberg” escondendo problemas maiores como depressão ou transtornos compulsivos.

Em entrevista a revista Época, o psiquiatra Daniel Spritzer, especialista na temática, alertou que “o organismo de um viciado em jogos de computador reage de maneira parecida ao de um viciado em drogas como crack ou cocaína. Quando a pessoa está jogando, seu cérebro libera uma substância chamada dopamina, que causa sensação de prazer e euforia. Isso faz o viciado querer passar todo o tempo jogando. Enquanto no organismo do viciado em drogas a dopamina é liberada por um estímulo químico, no viciado em jogos de computador ela é liberada por causa de um comportamento repetitivo”, diz o psiquiatra.

Pedro Moraes

IMG_0257 copy

Clique na Imagem para conferir outras fotos


Clique na Imagem para conferir outras fotos

igrejasaofrancisco

Clique na Imagem para conferir outras fotos

Ordem Terceira do São Francisco

Clique na Imagem para conferir outras fotos

caminhadadiploma