Funcionário público em horário comercial e artesão nos momentos de folga, para Gilton Alves da Mota, ou simplesmente, “Gilton das cadeiras”, um pneu usado e largado numa borracharia é sinônimo de arte, sendo matéria prima para a construção de cadeiras arrojadas e arranjos para flores. A fórmula da transformação parece ser simples, porém, trabalhosa. “Primeiro separo, uma serra, lixadeira, faca martelo e pregos, depois pego o aro do pneu, corto com uma lixadeira e divido em quatro partes, junto as duas e prendo com pregos. Com outro aro, coloco um trançado de borracha e faço um assento. Depois pego mais um aro e fixo em um suporte de madeira para fazer o encosto”. Após finalizar a estrutura da cadeira, “faço o acabamento e com uma faca vou cortando os excessos de borracha. Em seguida, lavo para deixá-la bem limpa, até ficar no ponto ideal para pintar com a cor desejada”, explica Gilton.
A ideia de fazer esse trabalho surgiu de um bom bate-papo com a colega Conceição, que percebendo a habilidade do amigo para o artesanato ofereceu algumas dicas e transmitiu os primeiros passos. “Há uns seis meses, ela me deu uma noção e logo comecei a fazer as cadeiras e vasos. Hoje, já estou com outros planos, estou elaborando sandálias e um sofá. Mas só conseguir, porque trabalhei com meu pai quando tinha treze anos na oficina dele, na época construía carros de madeira, candeeiros, cuscuzeiros e até aviãozinho, isso foi aumentando a habilidade para o artesanato”.
“Trabalhar com esse material é importante, pego um pneu que não será mais usado, que só serve de entulho e dou uma nova vida a ele, nesses dias achei dois e fiz uma cadeira. É bom para mim e para o meio ambiente”. Quando não encontra pneus jogados Gilton gasta, em média, R$30 por peça. “Para fazer uma cadeira utilizo dois pneus, a matéria prima não é cara, mas o trabalho é grande, por isso venho fixando um preço. A depender do estilo cobro R$ 100”. O trabalho de Gilton vem chamando atenção da região, segundo o artesão, a lista de encomendas vem crescendo e frequentemente atrai muitas pessoas quando coloca as cadeiras pintadas na porta para secar. “Quando deixo secando sempre aparece alguém perguntando o preço e querendo comprar. Acabo de mandar treze cadeiras para Central e estou trabalhando agora em outra encomenda maior”.
Iniciativas de pequenos recicladores, como Gilton e das grandes empresas de reciclagem fazem a diferença. Com quatorze fábricas espalhadas no país, às indústrias pneumáticas fabricam por ano no Brasil cerca de 61,5 milhões de pneus. Os dados apresentados pela Associação Nacional das Indústrias pneumáticas podem ser vistos como um ótimo índice econômico, porém, além do consumo elevado influenciado pelas altas vendagens de veículos novos e usados, é preciso refletir, o que está sendo feito com os pneus desgastados, estimados em 30 milhões por ano, que se jogados na natureza demoram mais de 600 anos para se decompor. Com o objetivo de minimizar a degradação causada pela fabricação do pneu, foi desenvolvida uma técnica de recauchutagem, colocando novas camadas de borracha nos pneus antigos, a iniciativa garante o dobro de vida útil para a unidade, gerando uma economia de material prima em 80%. O Brasil ocupa a 2º posição no ranking mundial de recauchutagem. Além dessa possibilidade, grandes empresas se especializaram na reciclagem dessa borracha, servindo para pavimentação, cobrir áreas de lazer e quadras esportivas, fabricar tapetes para automóveis, sapatos, sandálias, colas, adesivos, câmaras de ar, rodos domésticos, tiras para indústrias de estofados e buchas para eixos de caminhões e ônibus.
Se você se interessou pelo trabalho de Gilton das Cadeiras, entre em contato com o artesão: (74) 9997-1698